Rio: Festival cinematográfico debate política e exibe 400 filmes

Com o apoio do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet, teve início na última quinta-feira (26), para convidados, e na sexta-feira (27) para o público em geral, o Festival do Rio 2013. Nesta edição, que se estende até o dia 10 de outubro, são exibidos cerca de 380 filmes de mais de 60 países em mais de 20 salas de cinema da cidade, além do Pavilhão do Festival, no Cais do Porto, e das Arenas Cariocas e Naves do Conhecimento da Prefeitura do Rio. 

O espaço reservado à produção brasileira é a tradicional mostra Première Brasil, que neste ano exibirá um total de 72 filmes, entre curtas e longas-metragens de ficção e documentário, distribuídos entre as categorias Competitiva, Retratos, Hors Concours e Novos Rumos, dedicada aos primeiros trabalhos de cineastas. Os filmes da Première Brasil concorrem ao Troféu Redentor, concedido pelos júris oficial e popular aos melhores de cada categoria.

O cinema brasileiro também está presente em outras mostras, além da Première Brasil. Na mostra Panorama do Cinema Mundial serão exibidos os longas "Ensaio", de Tania Lamarca, "O grande Kilapy", de Zezé Gamboa, e "Mão na luva", de José Joffily e Roberto Bomtempo, e o curta "A serpente que dança", de João de Mendonça Lima Filho; a mostra Tesouros da Cinemateca exibirá a cópia restaurada de "Bonequinha de seda", de 1936, dirigido por Oduvaldo Vianna; e "Setenta", de Emilia Silveira, está na programação da mostra Limites e Fronteiras.

Espaço de negócios

A indústria estará presente nos seminários e workshops do RioMarket, espaço voltado ao mercado. Diretores, produtores, roteiristas, técnicos e autoridades da área audiovisual se reunirão com o público para debater temas de interesse do setor.

O diretor-presidente da ANCINE, Manoel Rangel, participa nesta segunda-feira (30) do debate "Andamento da Lei 12.485/2011: avaliação de problemas e resultados", ao lado do presidente da ABPITV, Marco Altberg; do diretor-executivo da ABPITV, Mauro Garcia; da presidente do SICAV, Silvia Rabello; e do advogado Fabio de Sá Cesnik.

No dia 6 de outubro, das 10h às 18h30, o Assessor Internacional da ANCINE participa, ao lado de representantes da LATC – Latin American Training Center e da RioFilme, de um Workshop para Film Comissions, que tem como funções principais a atração de produções audiovisuais e o apoio logístico-operacional aos projetos filmados em determinadas regiões. A programação do RioMarket, que inclui debates gratuitos, mediante inscrição prévia, pode ser consultada aqui.

A programação do Cine Encontro também é uma excelente oportunidade para o público assistir aos filmes em competição pelo troféu Redentor da Première Brasil, com entrada franca, seguida de debates com os realizadores. As sessões acontecem na Sede do Festival, no Cais do Porto e no Centro Cultural da Justiça Federal, no Centro. Mais detalhes sobre a programação do Cine Encontro aqui.

Os cinéfilos podem adquirir ingressos antecipados no site ingresso.com ou na Bilheteria Central do Cinema Estação Rio, em Botafogo. Passaportes que dão direito a 20 ou 50 ingressos estão disponíveis a R$ 180 e R$ 400, respectivamente. Pela primeira vez este ano, as bilheterias dos cinemas do circuito do festival também venderão ingressos antecipados para todo o período do evento, para as suas sessões.

Final de semana

Começou animada a sessão do documentário Guerras sujas, no último sábado (29). Logo depois da diretora do festival, Ilda Santiago, apresentar o jornalista correspondente de guerra, Jeremy Scahill – produtor, roteirista e principal personagem do filme, que também possui um livro com o mesmo nome – já era possível sentir no ar o forte clima politizado que a sessão iria abordar. Jeremy, além de demonstrar sua simpatia pelo Brasil, arrancou aplausos no cinema lotado ao apoiar as manifestações brasileiras e a postura da presidenta Dilma Rousseff em resposta a falta de explicações do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre o caso de espionagem ao governo brasileiro.

Depois de alguns problemas técnicos, que deixou o público ainda mais agitado, o tão esperado debate "Segredos e Mentiras" aconteceu de forma dinâmica e entusiasmada. O público parecia querer prestigiar a figura de Scahill após a exibição. Entre as perguntas, foram até mesmo levantadas algumas questões paranoicas sobre o 11 de setembro e dúvidas a respeito de opções mais seguras de e-mail contra a espionagem. Além de Jeremy, também participou da mesa de debate o jornalista britânico Gleen Greenwall, responsável pela denuncia do esquema de espionagem eletrônica dos EUA, e o mediador, Atila Roque, diretor da Anistia Internacional do Brasil. Para Greenwall, Guerras sujas está entre um dos filmes mais importantes dos últimos anos.

Estou muito orgulhoso de ser jornalista, especialmente quando se trata de pessoas correndo grandes riscos para descobrir verdades que precisam ser reveladas para o mundo – afirmou Greenwall após assistir ao documentário pela terceira vez. 

Um filme que mostra a verdadeira politica norte-americana

Guerras sujas é um desses filmes que quebra totalmente o estereotipo norte-americano. Ele sai dos padrões da estética de guerra onde o soldado é sempre o herói, que o público tanto está acostumado, para mostrar uma nova perspectiva, a de um país vilão. É história de um jornalista, não nacionalista, um ativista em busca da verdade acima de tudo, mesmo que seja preciso ir contra o rigoroso governo de um país que vive sobre a política de guerra e de interesses econômicos. Para Scahill, o importante é estar do lado da maioria: as maiores vítimas dos conflitos de guerra são pessoas inocentes.

O filme conta a história de guerras secretas que o Estados Unidos estão lutando ao redor do mundo. Todos sabem que eles estão no Afeganistão e que têm uma base no Iraque, mas esse filme trata daquilo que não vemos na TV. Guerras sujas conta a história dos civis que estão sendo mortos nessas operações – contou o jornalista e produtor durante a entrevista para o site do Festival do Rio.

Para ele, os EUA estão criando mais inimigos do que matando terroristas, assassinando um enorme número de inocentes sem se preocupar com os direitos humanos. Organizações como o Comando de Operações Especiais Conjuntas (JSOC), iniciados com a Guerra ao Terror, politica assumida pelo Governo Bush após o 11 de setembro, ganhou continuidade durante o governo de Barack Obama, tomando proporções muito maiores e uma lista de vítimas que não para de crescer. Além disso, para Jeremy é uma grande ironia um partido democrata assumir uma postura ditatorial.

Durante um discurso na ONU, uma ativista estava atacando o presidente Obama, e a resposta dele foi um discurso imperialista, onde afirmava que iria usar a força militar para proteger os recursos naturais ao redor do mundo. Por acaso a América é a única exceção disso? – fala Jeremy muito indignado sobre o caso que o surpreendeu – Isso é uma coisa extraordinária para se dizer alto e ele disse publicamente na frente do mundo. E, ainda, é considerado um democrata liberal que ganhou o prêmio Nobel.

A ideia de que o "mundo é um campo de batalha", apresentada no documentário, mostra como os EUA, além de incentivar guerras ao terror, age sempre de acordo com seus interesses. E, de acordo com Jeremy, as maiores ditaduras da América Latina foram financiadas, abertamente ou não, pelo governo norte-americano.

Os EUA ligam apenas para dinheiro. Se o Brasil apoiar as escolhas deles, tudo bem, mas se desafiá-los como fez o Hugo Chavez na Venezuela, vai ser tratado como Hitler. Foi assim com Saddam Husseim, nos anos 1980. Ele era um grande fã dos EUA, mas quando fez algo contra os interesses da economia americana, ele se tornou um Hitler.

O jornalista também não acredita nas guerras de narcotráfico. Segundo ele, são uma grande justificativa para os militares americanos organizarem e oferecem treinamentos em outros territórios. As técnicas utilizadas não são usadas para combater o tráfico de drogas, e sim para aprimorar técnicas para batalhas de interesses pessoais, de acordo com a necessidade que bem intenderem.

A segunda-feira (30) começa com a participação do coprodutor executivo de Gray’s Anatomy, William Harper. Ele vai ministrar o “Workshop de roteiro para televisão”, na sala RioSeminars 2.

No mesmo horário, será iniciado o “Workshop de design de produção”, no cinema do Armazém da Utopia. O evento será apresentado por John Muto, que trabalhou em filmes como Esqueceram de mim, A experiência e Exterminador do Futuro – 3D.

Já na sala 1, vai acontecer o seminário sobre o “Andamento da lei 12.485/2011: avaliação de problemas e resultados”, com a presença de profissionais da ANCINE, do SICAV, da ABPITV e do escritório Cesnik, Quintino e Salinas Advogados.

Em seguida, o espaço será ocupado pelas “Sessões de 20 minutos: oportunidades de negócios com canais de televisão fechados”, que vão contar com a presença de profissionais de grandes emissoras, como Canal Brasil, Discovery, GNT, NBC Universal, Sony Picture Television, Turner International do Brasil, History Channel, A&E e Telecine.

O final do dia será marcado pelo seminário “Formatos para venda internacional”. Nele, Carla Affonso, CEO da Zodiak Brasil, vai apresentar cases e mostrar como as produtoras brasileiras podem se preparar para viabilizar adaptações de produtos audiovisuais para outros países.

O livro “O cinema latinoamericano hoje: pelo olhar do diretor” será lançado no Lounge dos Produtores. O evento vai contar com a presença de Oliver Kwon, fundador e diretor executivo da Americas Film Conservacy e organizador do livro.


Confira a programação completa aqui.

Fonte: Ascom do Festival.