Eleições 2014: Manuela fala dos planos para volta ao Rio Grande 

Em entrevista a Agência Congresso, a líder do PCdoB na Câmara, deputada Manuela D´Ávila, diz por que vai trocar Brasília pelo Rio Grande do Sul. Nas próximas eleições, ela não vai disputar reeleição para Câmara. Vai concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Aos 32 anos, ela diz que a volta às origens, inclui casar e ter filhos.

Eleições 2014: Manuela fala dos planos para volta ao Rio Grande - Flick Manuela D´Ávila

Agência Congresso: Porque tomou a decisão de não concorrer mais a Câmara?
Manuela D´Ávila: Não estou saindo da política, tomei a decisão de não concorrer à reeleição para deputada federal mas pretendo concorrer à deputada estadual. No Brasil automaticamente as pessoas pensam em concorrer à reeleição, tive em Brasília dois mandatos proveitosos, desenvolvi projetos de leis aos quais tinha me proposto. Fui relatora das leis dos estágios, bandeira importante vinha do movimento estudantil. Trabalhei com o estatuto da juventude. Fui relatora e depois aprovamos o vale cultura. Presidi a comissão de Direitos Humanos, agora lidero a bancada do meu partido, então tive batalhas que tiveram início, meio e fim, em uma trajetória vinculada à minha participação no movimento da juventude. Considero que venci um ciclo da minha militância junto ao movimento de juventude. Acredito que tenho oportunidade de voltar ao meu estado encerrando um ciclo da militância. Quero me aproximar de novo do movimento social presidindo o meu partido no estado pra depois pensar em outras etapas da minha militância política. Então eu não desisti da vida pública, apenas quero começar outro ciclo da minha participação política.

Agência Congresso: E o saldo desses dois mandatos na Câmara, foi produtivo, ou as coisas aqui funcionam muito devagar?
MD: Eu acho que tem um pouco de cada coisa, a Câmara tem um ritmo próprio, eu cheguei aqui com 24 anos. Naturalmente quem chega com esta idade quer que as coisas aconteçam com a velocidade de quem tem 24 anos. Quem tem 24 anos acorda de manhã e quer que o mundo mude a noite. A Câmara tem um tempo que é o tempo da democracia, de ouvir os parlamentares, de construir as ideias coletivamente, de ouvir os partidos, de amadurecer as ideias. Poderia ser mais rápido? Óbvio que poderia, mas também tem o tempo do amadurecimento. Por exemplo, ver o tempo do Estatuto da Juventude, nós levamos um tempo muito longo para construí-lo sim. Mas ao mesmo tempo, temos o projeto em toda a história do Parlamento, com o maior número de artigos construído por iniciativa popular, 33% dos artigos tem origem na internet, tem origem nas ferramentas que foram construídas simultaneamente à construção da lei. Então, se é preciso aperfeiçoar as estruturas da Câmara é certo que é preciso também o tempo da discussão, o tempo do Parlamento.

Agência Congresso: Você surgiu dos movimentos sociais, acredita que os jovens que foram às ruas em junho vão conseguir mudar o país? O vandalismo visto principalmente no Rio e SP desvirtuou o movimento?
MD: Eu acho que um dos problemas do Brasil está na tua pergunta, o país não é Rio e São Paulo. Em todo Brasil teve violência, teve jovem, teve manifestação. A primeira manifestação foi minha cidade Porto Alegre. Em Pernambuco teve manifestações gigantescas. Em São Paulo teve violência policial, que alias é uma marca do governo de São Paulo. Isso sim alarmou o país inteiro e fez com que muitos jovens tivessem ido às ruas num volume muito maior que antes, eu acho que os jovens sempre mudam o país. Os cariocas e paulistas sempre acham que a solução está no Rio ou em SP. Os capixabas estão próximos ao Rio. Tem que perder a mania de achar que a solução está no Rio ou São Paulo, risos… Em todos os momentos de história do país a juventude teve um papel importante nas transformações. Nas Diretas Já a participação da juventude foi grande, como em vários artigos da Constituição por direitos específicos… No Fora Collor, então eu acredito que essa parcela da população que é considerada jovem já está mudando o Brasil, ela muda comportalmente, muda porque é fundamentalmente a nova classe media brasileira, então está mudando a economia brasileira. Ela muda porque muda os hábitos de consumo, ela não muda quando só opera a politica diretamente nas ruas, ela muda porque é o próprio Brasil porque ela é uma parte expressiva, ela é 55 milhões de pessoas que vive na realidade, que morre nas periferias.

Agência Congresso: E qual a influência desse movimento na próxima eleição, haverá uma renovação maior?
MD: Acho que sim, a cada processo o povo amadurece e reflete mais, porque esses movimentos acontecem com a passagem do tempo e a consolidação da democracia. A democracia é um processo, vai passando o tempo, as pessoas vão aprendendo, refletindo mais na hora de votar… O que aconteceu este ano fará as pessoas pensarem mais, mas isso acontece num tempo histórico, tem milhares de pessoas que saem da miséria, que entram nas universidades, além da manifestações tem diversas outras mudanças, nós não somos uma ilha. Estamos piores comparados a nós mesmos no período do presidente Lula em que o mundo estava melhor. Nós temos um mundo em crise, temos o governo do presidente Obama que implora ao seu Congresso, por exemplo, para aliviar o aumento da dívida para pagar os servidores públicos. Não é o caso do Brasil, nós temos uma classe trabalhadora que não perdeu R$ 1 em salário. Se nós avaliamos a economia só com o PIB, também estamos bem comparados com o mundo, Nos Estados Unidos 60% dos trabalhadores tiveram perda de emprego no último período, no Brasil tivemos 900 mil empregos gerados. Nós não tivemos perda de salário, não tivemos perda de direito, então nós podemos considerar comparativamente com o Brasil do último período OK, nós não estamos bem comparando com o mundo diante de uma crise que é a maior desde 1929.

Agência Congresso:
A presidente Dilma merece a reeleição?
MD: Sim, por tudo isso que aconteceu no Brasil. O Brasil vive um ciclo. A presidente faz parte de um processo de oito anos iniciado por Lula. Ela consegue equilibrar o país num momento de crise mundial. O Brasil vive um bom momento, comparando com o mundo. O aumento de ganho de salário, temos muitas conquistas que devem ser atribuídas a ela. Se nós avaliamos a economia só com o PIB, também estamos bem comparados com o mundo, Nos Estados Unidos 60% dos trabalhadores tiveram perda de emprego no último período, no Brasil tivemos 900 mil empregos gerados. Nós não tivemos perda de salário, não tivemos perda de direito, então nós podemos considerar comparativamente com o Brasil do último período, OK, nós não estamos bem, mas comparando com o mundo diante de uma crise que é a maior desde 1929.

Agência Congresso: A Marina no PSB tira o PSDB do 2º turno e coloca o PSB no segundo?
MD: Como sou deputada, não sou bruxa, não faço previsão do futuro. Mas já concorri a cinco eleições e aprendi que quem disputa eleição é o candidato, não é o apoiador. O Gilberto Gil já me apoiou na eleição para prefeita e perdi. Acho que a Marina não é candidata. Eu respeito o Eduardo, sou amiga pessoal dele, o PSB é um partido parceiro, tem legitimidade, mas a decisão que ela tomou é de não ser candidata, e quem não é candidato não disputa a eleição.

Agência Congresso: No caso do Mensalão, você acredita na punição dos culpados com esse novo julgamento?
MD: Na democracia todas as pessoas tem direito a recorrer, um novo julgamento é um direito legítimo que todos os cidadãos têm de recorrerem e de serem julgados mais uma vez. Acredito que eles poderão ser condenados se os juízes acharem que isso pode acontecer. Sou filha de magistrada se eu não acreditar na Justiça, posso ter sido criada na casa errada.

Agência Congresso: Apesar do avanço das mulheres, elas ainda são vitimas de violência com altos índices, inclusive no Espírito Santo?
MD: Acompanho a situação do Espírito Santo, conheço bem a ex-ministra Iriny. O Espírito Santo tem um índice altíssimo de violência contra a mulher, perde para o Piauí. Mas às vezes ter um índice alto não é ruim. Com a lei Maria da Penha o índice alto é sinônimo de que o número de denúncias cresceu, é a perda da invisibilidade contra a violência para a mulher. Sempre é ruim porque são mulheres sendo agredidas. Isso demonstra que as mulheres estão indo as delegacias denunciar seus companheiros agressores.

Agência Congresso:
E solução para a violência contra a mulher?
MD: O que falta é investimento do estado na construção de um sistema que a lei Maria da Penha prevê, porque a lei é avançada mas para conseguir uma rede de proteção falta os equipamentos. Como é que temos delegacias e casas de passagens em números suficientes para ter a efetiva rede de proteção da mulher, a gente tem muitas vezes quando se não conhece o que é a mulher vítima de violência, não tem noção de uma delegacia convencional faz a mulher não fazer a denuncia, porque põe uma delegacia numa mesma sala que sem um delegado especializado, a mulher não faz a denuncia. Porque dizer para uma delegada que o companheiro a violentou é algo que causa muito constrangimento. As pessoas dizem que é frescura, frescura nada.É fácil por acaso chegar, contar para alguém, para uma amiga que o marido bateu, é fácil? Então, imagina para um estranho, para um delegado de polícia?

Fonte: www.agenciacongresso.com
Título original: Deputada comunista desiste de Brasília e volta para casa