Bolívia confirma participação de traficantes em ataque

O governo boliviano confirmou o envolvimento de narcotraficantes em um recente ataque a agentes governamentais que deixou quatro mortos, incluindo dois militares, e mais de vinte feridos. O conflito ocorreu no dia 19 de outubro, quando membros da chamada FTC (Força Tarefa Conjunta, na sigla em espanhol), formada por militares e policiais com o objetivo de verificar plantações ilegais da planta da coca, destruíam cultivos no município de Apolo, próximo ao Peru.

Bolívia confirma participação de traficantes em ataque - Reprodução/ABI

As autoridades bolivianas já suspeitavam da participação de traficantes na emboscada, mas neste domingo (27) revelaram uma série de provas que confirmam sua presença e explicam o ocorrido. Em coletiva de imprensa, o vice-ministro de Regime Interior e da Polícia, Jorge Pérez, disse que foram encontrados refinarias de cocaína no local.

"Nós suspeitávamos que o ataque estivesse ligado ao tráfico de drogas, mas agora confirmamos”, afirmou ele. “Na incursão feita nos últimos dias com a FTC, encontramos seis fábricas de cocaína, 4 inativas e 2 ativas", concluiu.

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Segundo Pérez, isso prova que os encapuzados responsáveis pela emboscada possuíam ligações com o narcotráfico e que, com o ataque aos agentes governamentais, tentavam proteger as refinarias. “Por isso, não queriam a entrada da FTC”, disse ele, que logo dispensou as suspeitas do envolvimento da comunidade da região de Apolo.

As provas foram entregues ao Ministério Público da Bolívia pela Felcn (Força Especial de Luta contra o Narcotráfico na sigla em espanhol), com fotografias incluídas.

O vice-ministro ainda apresentou informações do censo nacional sobre o município de Apolo, de acordo com as quais existem 500 hectares de plantação da coca na zona, incluindo 230 hectares de cultivos ilegais. Destes, já foram destruídos 150 hectares, restando apenas 80 hectares.

Pérez lembrou que as operações da FTC contam com o apoio das lideranças regionais e de cerca de 90% dos produtores locais. Apenas 10% dos camponeses, indicou o vice-ministro, resistem à atuação das forças governamentais, incluindo com armas.

Resistência armada e Sendero Luminoso

Leopoldo Ramos, chefe da equipe de investigação do caso, também lembrou que, no dia 13 de outubro, um grupo de produtores se reuniu e aprovou resolução na qual advertia o governo da possibilidade de resistência armada contra a FTC. Na semana anterior ao encontro, um grupo de encapuzados atacou e roubou uma ambulância que acreditavam ser da FTC, informou ele.

“Entre as provas apresentadas ao Ministério Público, existem gravações da radio Madidi, em que os dirigentes convocam a população à resistência armada para a defesa da coca”, afirmou ele segundo a agência Télam. “É uma sequência sistemática, de preparação, planificação e difusão da resistência violenta que prepararam grupos ilegais”, acrescentou.

O investigador não descartou a participação de ex-membros do grupo armado peruano Sendero Luminoso no ataque do dia 19. “Aparentemente, um grupo de pessoas foi até a localidade de San Fermín (na Bolívia próxima à fronteira do Peru), onde se reuniram com cidadãos peruanos, que lhes deram armas e alguns conselhos táticos para a emboscada”, disse Ramos segundo o jornal boliviano La Razón.

Entre os anos de 2009 e 2011, as autoridades bolivianas detiveram traficantes de droga no município de Apolo. “Alguns eram ex-membros do Sendero Luminoso”, acrescentou o investigador.

Apoio Peru

Logo depois do ataque, os investigadores levantaram suspeitas contra traficantes de origem peruana porque os camponeses bolivianos da região não têm tradição de usar armas e nem a capacidade para preparar uma operação de resistência armada contra os militares.

Segundo o relato de um sobrevivente, os membros da FTC começavam a destruir os arbustos das plantas de coca quando foram surpreendidos por disparos de homens encapuzados e golpes de agricultores com varas.

Na época, o governo boliviano classificou a emboscada como o “pior ataque armado realizado contra a FTC” e anunciou o início de investigação em diversas frentes governamentais. O promotor geral da Bolívia, Ramiro Guerrero, confirmou a criação de uma comissão de investigadores de sucesso especial para o caso.

Também foi solicitado o apoio do governo peruano para o fechamento dos acessos e das vias que conectam os países na região do ataque para evitar a fuga dos envolvidos. Além dessas medidas, a Bolívia reforçou a presença policial na área e iniciou operações de vigilância aérea.

Em Apolo, existe uma zona autorizada de plantação da coca, submetida ao controle das autoridades, para usos lícitos na indústria cultural nacional. No entanto, segundo as autoridades, ainda existem comunidades cujas plantações são destinadas possivelmente à fabricação de cocaína.

Fonte: Opera Mundi