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Legado eterno

Lucio Filho presta homenagem ao tio Messias Pontes, 66, Jornalista e militante do PCdoB que faleceu no último dia 9 de novembro, em Fortaleza.

O Jornal O Estado, na data de hoje, convidou-me para ocupar o espaço que durante anos foi de um grande professor que tive no Jornalismo: meu tio, Messias Pontes. Às quartas-feiras, eu começava a leitura deste periódico pelos seus artigos, os quais sempre abordavam temas polêmicos. As convicções firmes daquele jornalista de pena afiada provocavam acirrados debates entre os que concordavam e discordavam das ideias por ele defendidas. Porém, havia um consenso: a opinião de Messias merecia, no mínimo, respeito.

Eram palavras que partiam de um jornalista que dedicou sua vida à profissão e ao ideal de ver um país, de fato, democrático e igual para todos. Meu tio, que levantou a voz contra as atrocidades dos anos de chumbo, sendo perseguido e preso, sofreu as consequências de ser um combatente, que atuou principalmente através do bom jornalismo.

Em 2001, fui convidado por ele para acompanhar a apresentação e a produção do seu programa, Espaço Aberto, à época na Rádio Assunção AM 620. Sempre que as dúvidas surgiam, eu recorria a ele, que, com todo carinho, fazia questão de explicar como funcionavam as engrenagens da política e me preparava para um grande desafio: fazer a cobertura da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal de Fortaleza.

Foi ali que comecei minha carreira como jornalista, ainda estagiário. Instigado pela experiência de meu tio, aprendi a apurar informações, cativei fontes, aprofundei o estudo da filosofia e da sociologia política, teorias que via acontecer na prática, dentro e fora do parlamento. Diariamente, produzi e participei do Programa Espaço Aberto, mas as minhas intervenções precisavam passar pelo crivo do chefe. Ele me alertava de que nem sempre a pauta estava no foco do que acontecia e avisava que era preciso buscar a oportunidade de abordar qualquer assunto com determinado personagem sempre que sentisse a necessidade de fazê-lo.

Todas as experiências que vivi com ele procuro aplicar no dia-a-dia da nossa profissão e levarei pelo resto de minha vida. Contudo, a principal lição que meu tio e professor me deixou foi a busca por ser um jornalista pautado pela ética e pelo respeito ao princípio do contraditório, no intuito de contribuir com a sociedade, passando informação de qualidade e permitindo ao público a formação da própria opinião sobre os fatos.

Messias Pontes nos deixou a paixão pelo jornalismo, como instrumento de luta por uma sociedade justa e igualitária, em um país que ainda não compreendeu o clamor de tantos homens e mulheres como ele. Suas lições o tornarão eterno em nossa memória.

Obrigado, querido professor e tio! Seu legado permanecerá vivo nos corações e nas palavras daqueles que o admiravam. Sendo jornalista, também eu passarei às novas gerações os seus ensinamentos.