Fernado Henrique Cardoso: patrimônio nacional a preço de banana

A oposição neoliberal tenta ver as concessões nos setores de aeroportos e petróleo, feitas no governo de Dilma Rousseff, como as "privatizações do PT". Não são. Pior, durante o governo FHC, o então diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira chegou a dizer: "Estamos agindo no limite da irresponsabilidade". 

Por Marcos Damiani

Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso

"Nós estamos agindo no limite da irresponsabilidade". Dita em 1998 pelo então diretor da área Internacional do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira, esta frase marcou as privatizações do período de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.

A conversa ficou conhecida do público graças a um grampo telefônico clandestino. Apesar de sugerir uma grossa irregularidade em curso, que terminou com a venda e 12 fatias de todo o Sistema Telebras de comunicações, não deu em nada. Em 2010, o Superior Tribunal de Justiça extinguiu processo de improbidade que corria ali contra Ricardo Sergio. Uma das fatias do sistema, a Telemar, que praticamente passou a controlar toda a telefonia brasileiras das regiões Norte, Nordeste e do Rio de Janeiro, custou R$ 3,1 bilhões e saiu sem ágio – um valor hoje considerado irrisório.

Com valor de mercado atual estimado em cerca de US$ 200 bilhões, a Vale, maior mineradora do mundo, teve seu controle vendido por menos de 2% desse valor – contados US$ 3,3 bilhões –, em 1997, também na era FHC, à CSN. Mais tarde, porém, a Justiça apontou interesses cruzados e obrigou a companhia que agora pertence à família Steinbruch sair do capital da Vale.

Nesta sexta-feira (22), o valor obitido pelo bônus da concessão de uma fatia de 51% do aeroporto do Galeão, por 25 anos, custou R$ 19 bilhões. Nesse modelo, o governo atual manteve o Estado na operação aeroportuária com 49% para a Infraero e, ainda, levou os novos concessionários ao compromisso de investir mais R$ 10 bilhões no mesmo aeroporto.

Em outubro, a gestão de Dilma Rousseff comemorou o arremate da concessão de 51% do campo de Libra, na região do pré-sal, por R$ 15 bilhões de bônus de assinatura. Quem levou foi um consórcio liderado pela holandesa Shell, a francesa Total e composto, ainda, por duas estatais da China e a própria Petrobras. No tempo de Fernando Herique, porém, um pedaço do mesmo campo de Libra foi vendido à italiana Agip por R$ 250 mil. Hoje, com esse valor não se consegue comprar um apartamento de dois quartos no centro das grandes capitais brasileiras.

Pelos números que podem ser cotejados, a comparação entre as concessões feitas agora pela gestão de Dilma frente as privatizações realizadas no governo do presidente tucano são francamente desfavoráveis para o segundo. Há, ainda, que aquele processo foi marcado por dúvidas e suspeitas sobre sua lisura, como mostrou o grampo sobre Ricardo Sérgio, enquanto até este momento não há nenhum escândalo em torno das concessões.

O PT não assume que, com as cessões de direitos, está realizando o seu próprio processo de privatizações. É o que a oposição diz. Mas, na comparação entre passado e presente, certamente os adversários do governo Dilma sairiam ganhando mais se não tivessem lembrado daquele período frente a este. Os valores pagos pelas empresas estatais, e as circunstâncias dos negócios à volta delas, não remetem, exatamente, a boas lembranças.

Fonte: portal 247