Legado de imagem é maior ganho intangível de eventos globais

O presidente da Embratur, Flávio Dino, aponta os ganhos numéricos que o país terá com eventos esportivos mundiais, mas destaca como ganho intangível a aproximação cultural entre o resto do mundo e a capacidade realizadora dos brasileiros, ampliando a visão sol-praia que os turistas têm do país. 

Durante o 13º Congresso Nacional do PCdoB, o presidente da Embratur, Flavio Dino, apresentou em entrevista à jornalista Joanne Mota, da TV Vermelho, os avanços que o Brasil tem obtido no setor do turismo, garantindo-se como matriz importante do novo projeto nacional de desenvolvimento.

Atualmente, o turismo emprega cerca de 10 milhões de brasileiros e movimenta 3,6% do PIB, o que já equivale a setores importantes de nossa economia, como a indústria da celulose. “Nós estamos vivendo o melhor momento do turismo no Brasil”, diz ele, sinalizando que os números extraordinários de hoje, tendem a aumentar de forma excepcional nos próximos anos.

Flávio Dino lembra que no turismo doméstico, com o aumento da distribuição de renda que alavancou a classe média, foi possível que mais pessoas tivessem acesso e direito ao lazer e as férias. Com isso, saímos de 30 milhões de passageiros por ano na aviação comercial brasileira para 100 milhões de passageiros, em dez anos, uma proporção de mais de 333% de aumento do volume de passageiros.

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No turismo internacional, o fato do Brasil sediar eventos como a Conferencia da ONU Rio+20, a Jornada Mundial da Juventude, a Copa das Confederações, e agora preparando a Copa do Mundo, tem garantido crescimentos acima da media mundial com sucessivos recordes, apesar da crise internacional. O turismo no Brasil cresceu 5% em 2012, superando o crescimento mundial que foi de 3%. A Embratur projeta que, até 2017, o número de turistas estrangeiros chegue a 10 milhões.

“Neste ano, de 2013, mesmo, nós vamos, pela primeira vez na nossa história, ultrapassar os 6 milhões de turistas. A nossa expectativa em 2014, ao recebermos 600 mil turistas estrangeiros durante a Copa, é que possamos nos aproximar dos 7 milhões de turistas estrangeiros, ou seja, muito rapidamente, nós vamos sair dos cinco milhões de turistas por ano para quase sete milhões. Um salto muito grande!”

Após a entrevista, a turista de número 6 milhões a entrar no país foi recebida no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, com festa música e mimos na última quinta-feira, 5 de dezembro. Foi a argentina Nadia Panis, que vai passar férias com amigas. A Argentina é o principal emissor de turistas para o Brasil, enviando anualmente mais de 1,5 milhão de visitantes aos diversos destinos turísticos do País. Em 2005, ano em que o país havia recebido o maior número de visitantes de fora do país antes de 2013, cerca de cinco milhões de pessoas desembarcaram nos aeroportos brasileiros.

Ganhos intangíveis

Para Flávio Dino, o maior ganho do Brasil com os eventos internacionais é intangível, ou seja, não pode ser medido numericamente. Em sua opinião, a imagem do país vai gradualmente mudando no resto do mundo, associando-se cada vez mais a valores culturais e sociais admiráveis e à capacidade e competência realizadora de grandes eventos. Isso agrega ao turismo, que muda de perfil, atraindo novos públicos ao país, como o empresariado, e não apenas veranistas.

“Continuamos com uma imagem muito associada ao segmento sol/praia, por conta da nossa tradição e do nosso maravilhoso litoral, como do Maranhão, ou de Sergipe ou do Rio de Janeiro e de vários estados, e por conta da nossa tradição no futebol, do carnaval e das festas populares”, assinala. Estes elementos, segundo ele, já circulam mundialmente com facilidade, atraindo o turista de férias.
“O que é importante desse ciclo de eventos globais é que nós estamos conseguindo a meu ver avançar nessa ideia dos ganhos intangíveis relacionados ao legado de imagem. Ou seja, agregar a esses elementos que já são conhecidos mundialmente, um maior contato com a nossa cultura e com a nossa capacidade realizadora”, analisou. Atrair o turista de negócios, que encontra-se a trabalho no país, aumenta enormemente o fluxo, pois abrange todos os demais períodos que não apenas o verão ou períodos festivos.

O dirigente do Instituto Brasileiro de Turismo admite que existem problemas a serem solucionados nas cidades brasileiras que são conhecidos de todos, como mobilidade urbana, saúde e educação. “Apesar disso, estamos demonstrando que conseguimos realizar os eventos com grande êxito aos olhos do mundo e, economicamente, estamos trazendo ganhos ao Brasil”, afirmou.

“Acredito que o Brasil sai mais forte dos eventos, porque teremos esse legado de imagem. Vamos conseguir que mais nações e povos consigam compreender melhor o que é o Brasil”, diz Dino, otimista com os resultados. Ele menciona o legado físico que ficará nas cidades, não apenas as arenas, mas também as obras em aeroportos e de mobilidade urbana. “Não no nível que nos desejaríamos, mas há investimentos, e ficarão esses legados físicos e esse prognóstico de que o turismo vai continuar crescendo após os eventos”, diz ele.

Dino ainda cita uma nova conquista em termos de eventos mundiais: a Universíade de 2019, maior competição universitária do mundo, com participação de 12 mil atletas. “Ate lá, essa pauta vai continuar bem viva no Brasil e em outras nações do mundo, olhando o Brasil como sede de eventos, não só do segmento dos esportes, como também de eventos corporativos, de classe e empresariais, que também têm crescido no Brasil”.

Somente a Copa do Mundo, de acordo com ele, deve movimentar mais de R$ 25 bilhões na economia brasileira, por conta dos gastos dos turistas nos trinta dias de eventos, valor que se aproxima daquilo que será gasto na preparação da infraestrutura. “A relação custo-benefício mostra que, mesmo dessa perspectiva, ao olharmos o evento em si e o que ele permite projetar em termos de continuidade do crescimento do turismo, a Copa do Mundo é um bom investimento para o Brasil”.

Atacando entraves

Uma das preocupações que a gestão do turismo no país vem atacando, refere-se às deficiências na rede de hotelaria, o que pode inflacionar os custos de hospedagem. De acordo com Dino, a rede hoteleira vem se ampliando, embora haja oferta suficiente para realizar a Copa. “Há alguns problemas pontuais em algumas das cidades sedes que devem ser resolvidos com um plano de hospedagem alternativo”. Ele afirma que o setor privado investiu, assim como o BNDES disponibilizou uma linha de crédito que permitiu reformas e ampliação do parque hoteleiro.

Na avaliação do presidente da Embratur, ao invés da preocupação com a Copa, o Governo está olhando adiante. Ele assume que, hoje, há uma tendência estabelecida em relação à hotelaria e à aviação de que pode se projetar, inclusive após a Copa, um aumento dos preços. “Então, nós precisamos continuar investindo e ampliando a oferta, para que mediante esse investimento, termos uma relação mais adequada entre oferta e procura e, com isso, diminuir essa pressão para elevação de preços, que infelizmente nós estamos verificando agora. Temos que combater agora e combater após a Copa, exatamente com a ampliação da oferta”, defende ele. 

Fonte: Fundação Maurício Grabois