Morre Ronald Biggs, considerado o "ladrão do século"

O britânico Ronald Biggs, conhecido como "ladrão do século", morreu nesta quarta-feira (18), em Londres, aos 84 anos de idade, em um asilo para idosos. Ele ganhou notoriedade mundial no assalto ao trem pagador que ia de Glasgow à capital inglesa em 1963. O britânico era o líder de um grupo de 15 homens que conseguiu roubar 120 sacos, contendo, no total, 2,6 milhões de libras (o equivalente a R$ 124 milhões). A gangue foi presa em janeiro de 1964.

Condenado a 30 anos de prisão, Biggs foi enviado para a prisão de Wandsworth, em Londres, de onde conseguiu fugir quase 15 meses depois.

Biggs foi visto em público pela última vez em março, numa cerimônia no cemitério de Highgateem em homenagem a Bruce Reynolds, o mentor do assalto, que morreu em fevereiro, aos 81 anos.

Mais de 2,5 toneladas de dinheiro

O roubo, feito por uma quadrilha de 17 integrantes, levou cerca de 2,6 milhões de libras esterlinas (o equivalente a US$ 4,2 milhões) à época.

Na madrugada de 7 para 8 de agosto de 1963, dia do aniversário de Biggs, o condutor de um trem postal, que percorria o trajeto entre a cidade escocesa de Glasgow e a estação londrina de Euston, parou em um ponto isolado na altura de Ledburn, ao noroeste de Londres. Um sinal vermelho na via ordenou a parada.

Os assaltantes agrediram o condutor, desengancharam a locomotiva e os dois primeiros vagões para, em seguida, descarregar 120 sacos que continham 2,5 toneladas de dinheiro em espécie.

Ele viveu como foragido entre Austrália, Espanha e Brasil, e fez várias cirurgias estéticas para dificultar seu reconhecimento.

Biggs morou por cerca de 30 anos no Rio de Janeiro. Casou-se com Raimunda, com quem tem um filho, Michael Biggs (que também chegou a ficar famoso como o Mike do grupo infantil Turma do Balão Mágico nos anos 1980).

Quando Londres descobriu que o ladrão estava no Brasil, tentou extraditá-lo, mas a legislação impedia um pedido de extradição a um país com o qual não havia um tratado sobre o tema (o acordo de extradição entre Reino Unido e Brasil só entrou em vigor em 1997). O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), mas o assalto ao trem havia prescrito cinco anos antes. 

Ousado

Após a fuga, ele passou por vários países, atraindo a atenção da imprensa pelo modo ousado como escapava da justiça britânica e da Interpol. Ele chegou ao Brasil e ficou mais de 30 anos em liberdade no Rio de Janeiro, onde levou uma vida confortável, com o dinheiro do roubo e o que ele conseguiu aproveitando sua notoriedade. Acabou sendo tema de livros, filmes e reportagens.

Em 1981, Biggs foi sequestrado por um grupo de mercenários que o levou a Barbados, em busca de uma possível recompensa das autoridades britânicas. Seus advogados conseguiram que a Justiça da ilha o devolvesse ao Brasil.

Durante sua passagem pelo Rio, Biggs teve um restaurante e uma página na internet, na qual vendia produtos relacionados à sua figura. Ele também escreveu sua autobiografia e uma novela, fez anúncios publicitários e até cantou com os Sex Pistols.

Já com a saúde frágil, Ronald Biggs finalmente se rendeu à polícia britânica em 2001. Ele voltou ao país, acompanhado pelo filho Mike, e foi rapidamente preso e levado à prisão de segurança máxima de Belmarsh, de onde foi libertado em 2009 por questões de saúde.

Sem arrependimento

Pouco antes do aniversário de 50 anos do assalto, Ronnie Biggs declarou: "Se querem me perguntar se lamento ter participado no golpe, minha resposta é não".

"Consegui um pequeno lugar na história", disse ele em entrevista, certa vez.
Ele também argumentou que queria voltar ao seu país para tomar um pint de cerveja em um pub e morrer no seu país de origem.

Ao longo de sua via, Biggs sofreu ao menos três derrames, ataques epilépticos, úlcera no estômago e ataque cardíaco. Ele também ficou internado devido a uma fratura no quadril.

Fonte: ANSA e G1