"Ruins para a ciência": revista científica bane comentários

Fundada em 1872, a revista Popular Science anunciou na última terça-feira que estava fechando seu site para comentários; pesquisa mostra que a publicação tem sua parcela de razão.

Por Lino Bocchini, na Carta Capital

"A partir de hoje Popularscience.com não vai mais aceitar comentários em seus artigos. Explicamos o motivo: comentários podem ser ruins para a ciência". Começa assim o texto "Why We're Shutting Off Our Comments", divulgado na última terça-feira 24 no site da revista Popular Science, publicação científica americana fundada em 1872.

No artigo a editora de conteúdo on-line Suzanne LaBarre explica, baseada em pesquisas, como de fato comentários podem prejudicar a compreensão das pessoas sobre uma questão séria e acabar, por exemplo, atrapalhando o desenvolvimento científico.

Suzanne começa explicando que a publicação está há 141 anos tentando fomentar entre a população o debate sobre ciência e tecnologia, mas que trolls e spammers vem tornando a tarefa inviável. Ela então reconhece que esse problema atinge a todos os sites e que, pelo menos no caso da Popular Science, muitos dos comentários são bons, provocativos e agregam informação. Contudo, uma minoria barulhenta muda a percepção dos leitores sobre uma história, conforme demonstrado em pesquisa.

A editora cita então um extenso estudo levado a cabo pela Universidade de Wisconsin-Madison, com 1.183 americanos. Eles foram submetidos a um artigo falso sobre nanotecnologia e, depois, de forma randômica, expostos a comentários civilizados debatendo a questão ou a comentários grosseiros, contra ou a favor do artigo. Por exemplo: “se você não vê benefícios no uso da nanotecnologia, você é um idiota”.

O professor Dominique Brossard, um dos que conduziu o estudo, falou sobre ao jornal The New Yok Times. Brossard revela que os comentários mal-educados não apenas polarizaram as opiniões como frequentemente faziam os leitores mudarem sua interpretação inicial sobre a notícia. Dentre os que foram expostos a comentários “civilizados”, a tendência foi de manutenção da opinião original.

O estudo trouxe outra conclusão ainda pior: o simples ataque ad hominem, ou seja, diretamente a alguém, fazia os leitores mudarem de ideia sobre o conteúdo do artigo.

A editora de Popular Science conclui então da seguinte forma: comentários ajudam a formar a opinião pública, que por sua vez ajudam a formar políticas públicas. E políticas públicas decidem quais pesquisas devem ou não receber investimentos. E mesmo uma minoria barulhenta tem poder o suficiente para mudar a percepção dos leitores de uma história.

Fonte: Carta Capital