2011-2014: ascensão e queda do grupo Galileo

Quem vê a luta dos estudantes das Universidades Gama Filho e UniverCidade nos noticiários atuais, pode não imaginar quantas dificuldades eles já enfrentaram. Greves, falta de professores, ocupação dos estudantes e descaso por parte da administração e do Ministério da Educação (MEC) são apenas alguns dos impasses que tiveram início em 2011, após o Grupo Galileo Educacional ter adquirido as duas instituições.

manifestação gama filho e univercidade

Logo após as aquisições, em janeiro de 2012, as mensalidades aumentaram cerca de 25%. O custo do curso de medicina, por exemplo, saltou de R$2.749,00 para R$3.450,00 . No mesmo mês, uma primeira manifestação com mais de 300 estudantes foi organizada com o apoio da UNE e UEE-RJ.

“Desde a compra destas instituições pelo Grupo Galileu Educacional vem acontecendo uma série de desrespeitos aos estudantes e funcionários. Demissões em massa, transferências de matérias para outras unidades, cancelamentos de cursos e aumentos abusivos. Alguns cursos chegaram a inflacionar mais de 7% do valor dos últimos 12 meses. A UNE e a UEE-RJ estão junto com os alunos e esperam realizar outras manifestações para conter este abuso”, avaliou o então diretor executivo de Políticas Públicas de Juventude da UNE, Everton Sodré.

A mobilização trouxe uma vitória histórica para o movimento estudantil carioca: a 5ª Vara Empresarial da Capital concedeu uma liminar que obrigou as universidades a não reajustarem o valor das mensalidades em índices superiores ao IGPM acumulado em 2011 (5,0977%). Contudo, os desmandos continuaram e ao longo de 2012, centenas de profissionais da educação foram demitidos. Uma greve no mês de maio fez com que os estudantes ocupassem pela primeira vez o prédio do Grupo Galileo, exigindo o pagamento dos professores e funcionários.

Mobilizações geram CPI na ALERJ

Como resultado da pressão exercida pelas mobilizações no ano de 2012, foi instaurada no mês de agosto, no Rio de Janeiro uma CPI das universidades privadas.

Aprovado em agosto de 2013 pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio, seu relatório final pediu o indiciamento de seis pessoas e a intervenção do Ministério da Educação (MEC) em duas instituições.

‘’A aprovação do relatório da CPI foi fruto da intensa luta do movimento social e estudantil’’, comentou o diretor da UNE, Igor Mayworm.

Dentre os apontamentos do texto, estavam a intervenção imediata do MEC na UniverCidade e na Universidade Gama Filho, a não participação de instituições com problemas trabalhistas nos programas de bolsa públicos, a implementação de um tributo específico para a criação de um fundo de pesquisa para o ensino à distância e a proibição de sociedades anônimas serem mantenedoras de universidades.

2013 De luta e ocupação

O ano de 2013 não foi diferente e os estudantes continuaram tendo problemas com as universidades. Durante as férias escolares, foram fechados quatro campus sem nenhuma explicação. Aulas foram adiadas. Os problemas de infraestrutura permaneceram e os alunos continuaram pagando suas matrículas sem entender o porquê de seus educadores não receberem benefícios.

Como resultado, no mês de março, uma greve estudantil foi decretada e, entre idas e vindas das aulas, a reitoria foi ocupada em julho de 2013. O movimento, que acabou por se tornar a maior ocupação de uma reitoria de universidade particular no Brasil, durou 78 dias.

A desocupação ocorreu devido ao fim de mais uma greve dos professores e funcionários e o retorno do período letivo. A ameaça de abertura de um processo administrativo contra os ocupantes também contribuiu para a saída.

O movimento estudantil, no entanto, saiu mais fortalecido. Dias depois do término da ocupação, os estudantes reestruturaram o DCE e deram mais um importante passo para fortalecer a batalha por melhorias na instituição. Com 2.400 votos foi eleita uma nova diretoria que está agora à frente do Diretório desencadearam série de manifestações, passeatas e protestos contra o grupo Galileo.

Porém , os problemas não cessaram. Em dezembro, o MEC suspendeu os vestibulares das duas instituições e instaurou processo administrativo.

2014 Começa com ocupação no MEC

Já nos primeiros dias de 2014, os estudantes encararam mais de 20 horas de viagem de ônibus para Brasília. No dia 7 de janeiro, vinte deles chegaram à capital federal e ocuparam o Ministério da Educação como última alternativa para buscar uma solução que viesse antes do início do ano letivo. Após sete horas de ocupação, eles foram recebidos pelo ministro Aloízio Mercadante que sinalizou a possibilidade da UGF e UniverCidade serem descredenciadas. A proposta não atendeu às reivindicações dos estudantes. Um grupo continuou em Brasília para pressionar o MEC e com objetivo de serem recebidos pela presidenta Dilma Rousseff. No Rio de Janeiro, cerca de 1500 estudantes marcharam da Candelária até a Cinelândia.

No dia 14 de janeiro, o MEC publicou no Diário Oficial da União portaria que oficializou o descredenciamento da Gama Filho e da UniverCidade. Em protesto, mais de 2 mil estudantes tomaram novamente as ruas do Rio. Nesse mesmo dia, um outro grupo de 45 estudantes embarcou para a capital federal para armar acampamento em frente ao Palácio do Planalto.

A principal proposta das entidades estudantis passou a ser federalização das instituições. Por meio de uma articulação da UNE, da UEE-RJ, e do DCE da Gama Filho, o movimento ganhou o apoio importante dos reitores das universidades federais do Rio de Janeiro.

Em reunião realizada na terça-feira (14/01), na Universidade Federal Fluminense (UFF), os reitores das universidade federais do Rio de Janeiro (UFRJ), do Estado do Rio de Janeiro (Uni-Rio), da Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da UFF e o diretor-geral do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-RJ) redigiram um pronunciamento externando a preocupação com a qualidade na educação e propondo, junto com as entidades, que a Universidade Gama Filho a UniverCidade sejam federalizadas. Os reitores afirmaram que existem condições técnicas e políticas o processo ser levado adiante.

A ocupação do gramado em frente ao Palácio do Planalto teve início na quarta, dia 15/01. Esperando serem recebidos pela presidenta da República, em uma ocupação pacífica, superando a forte chuva, o frio, convivendo com escorpiões e outros adversidades, os estudantes mantiveram a manifestação até a noite da última segunda-feira (20/01), quando a polícia, em uma ação desastrosa e violenta prendeu os estudantes de forma truculenta. Treze foram presos, seis homens e sete mulheres, que não foram respeitadas, sendo chamadas de vagabundas e agredidas com spray de pimenta. Todos foram encaminhadas para a sede da Polícia do Senado, que fica dentro do Congresso Nacional. Depois de muitas intimidações os estudantes prestaram depoimento acompanhados por advogados, e só foram liberados em torno das 3h da terça-feira.

Fonte: União Nacional dos Estudantes