Legalização das drogas é tema do Seminário Nacional da UJS

Qual o impacto da criminalização das drogas na sociedade? Qual a responsabilidade do governo? Como realizar uma discussão séria sobre as drogas se o próprio debate está sendo criminalizado? Essas e outras questões foram tratadas na tarde de terça-feira (28) na mesa “Legalizar o debate: drogas como uma questão social e de saúde pública”, promovida no Seminário preparatório para o 17º Congresso Nacional da UJS.

Participaram do debate Orlando Zaccone, delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro e Bob Controversista, coordenador da Casa de Cultura Hip Hop, que apresentaram, tanto do ponto de vista acadêmico quanto do relato de experiências vividas nas periferias.

A violência não é fruto das drogas, mas sim da proibição

Em sua apresentação, o delegado Zaccone afirmou que a decisão de qual droga é lícita ou ilícita é política e que se trata de uma construção social. Segundo ele, o “proibicionismo” de determinadas drogas constrói uma ideia que essas são as “do mal” enquanto as outras são “do bem”. Em seguida, apontou os efeitos nocivos da proibição, como a “letalização” e o encarceramento da juventude pobre e de periferia, que é empurrada para o tráfico pela economia. “A partir do momento em que se entende que o crime é uma lesão para todos, os criminosos são considerados inimigos da sociedade e, portanto, ‘matáveis’. Temos que fazer o debate da legalização superando o limite do bem do mal. Entendemos que os efeitos da proibição são mais perigosos do que o os efeitos das drogas no corpo”.

Ao responder as perguntas feitas pelos participantes, Zaccone enfatizou a necessidade de acabar com a cultura da punição, alegando que ela, além de não resolver o problema, faz um recorte social e racial. “Esses métodos punitivos não funcionam. As leis só pegam trabalhadores da periferia”. Ressaltou ainda que não existe droga boa e droga ruim e que “limitar o debate da legalização à maconha pode transformá-la em um novo álcool, e isso não resolve o problema”.

“Nossa luta é pela vida”

Bob, por sua vez, fez um relato das experiências vividas pela Casa de Cultura do Hip Hop na relação das comunidades com as drogas. Ele ressaltou que o debate acadêmico e teórico é muito importante, mas que a vivência e a ação dentro das comunidades pobres é fundamental para que a questão das drogas seja entendida e tratada de forma correta. “Trabalhamos bastante com o prazer que o uso da droga gera. A droga chega para proporcionar prazer, para socialização, status, etc. Na quebrada o estigma para quem usa drogas de forma excessiva é a morte. Nos preocupamos, em primeiro lugar, em minimizar o genocídio. Depois nos preocupamos com os efeitos da droga”.

As drogas e a luta de classes

Matheus Diniz, estudante da UnB, acompanhou a mesa e ressaltou a necessidade de fazer o debate sobre drogas dentro da UJS. Para ele, não havia ainda consenso sobre o tema e a iniciativa da entidade de esgotar o debate antes de tomar uma posição foi fundamental para reforçar a unidade política. Matheus disse ainda que o principal a se discutir é a compreensão de que o “proibicionismo” está intimamente relacionado à luta de classes. “É preciso identificar quais são os principais prejudicados na proibição das drogas. O que nós temos hoje são só malefícios, frutos de uma opressão de classes. Somente o negro, pobre e favelado que é preso, por que existe uma concepção de limpa social na lei de drogas no país”.

Fonte: Site da UJS