Luiz Alberto: Rolezinhos, a presença que incomoda
Após a notícia da morte do líder sul africano, Nelson Mandela, que lutou pelo fim do apartheid na África do Sul, fomos surpreendidos no Brasil com a polêmica em torno dos “rolezinhos” – encontros marcados por jovens da periferia, na maioria negros, nos shoppings de São Paulo. O fenômeno têm provocado manifestações hostis por parte da elite conservadora do País, evidenciando, a partir do cerceamento da circulação de jovens nesses espaços, práticas de segregação expressas.
Por Luiz Alberto*
Publicado 31/01/2014 12:03
Os chamados rolezinhos são uma manifestação peculiar de jovens negros das periferias que ocupam tal espaço público, com o desejo de se divertir, “badalar”, “curtir”, namorar, “dar um rolê”. É uma iniciativa político-cultural em que a simples presença física de pessoas negras, em um lugar no qual elas não são esperadas, é suficiente para deflagrar os mais absurdos sentimentos de pânico e violência por parte dos empresários e usuários do setor.
Nos últimos 10 anos, as políticas econômicas de incentivo ao varejo e a valorização do salário mínimo permitiram aos “rolezeiros”, integrantes da nova classe trabalhadora, acessar um espaço que antes lhes era proibido e, subjetivamente, representava segurança às elites.
Trata-se de um fenômeno em que setores que consomem nos shoppings sentem-se ameaçados pelas pessoas que, nas suas avaliações, não deveriam acessar ou consumir em lugares tidos como de maiores preços e maior prestígio social. São reações que envolvem discriminação racial e de classe e que explicitam o ressentimento daqueles que não suportam a construção de uma sociedade com dignidade.
O governo federal e a Prefeitura de São Paulo não agiram como costumeiramente agiam os governos de tradição autoritária. Ao invés de atender à demanda por repressão – dos jornais conservadores, donos de shopping e até do Judiciário, que restringiu o acesso desses jovens através de liminar – convocaram seus assessores diretos nas áreas de juventude, cultura e igualdade racial e afirmaram o fenômeno dos rolezinhos como manifestações culturais da juventude da periferia e condenaram a criminalização do movimento e as posturas racistas.
“As manifestações são pacíficas. Os problemas são derivados da reação de pessoas brancas que frequentam esses lugares e se assustam com a presença dos jovens. Uma parcela da sociedade não quer a presença deles em determinados lugares”, disse com acerto a intelectual negra e ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, despertando o furor de articulistas como os jornalistas Reinaldo Azevedo e Claudio Humberto. Este último, chegou a chamá-la de “anta”, num desespero típico de quem não suporta conviver na democracia. Atentam contra a honra da ministra porque não se conformam com a presença das mulheres e dos negros nos espaços de poder.
Neste episódio, o desafio é enfrentar o racismo e seguir por meio da garantia de direitos e oportunidades para juventude através de iniciativas exitosas como o Plano de Prevenção à Violência contra Juventude Negra, o Juventude Viva. Os rolezinhos denunciam a face perversa de um tipo de exclusão que persiste no País e que precisa ser enfrentada. É necessário continuar lutando para que tenhamos uma juventude negra viva e orgulhosa.
*É deputado federal pelo PT da Bahia