Edilson Cavalcante Fialho: No Brasil futebol não é esporte
As vésperas da Copa do Mundo a ser realizada no Brasil nos deparamos com certos questionamentos do tipo por que a Copa? Ou para que tanto investimento em um evento de futebol? Com tais indagações fico eu a me perguntar: estas pessoas sabem o que é Brasil? Por que só esse desconhecimento explicaria tamanha incapacidade de compreensão do que é o nosso país.
Por Edilson Cavalcante Fialho*
Publicado 04/02/2014 14:50
Necessitamos entender que a Copa do Mundo não é um evento esportivo, a grande verdade é que esse papo de celebrar o esporte entre as nações é uma grande balela, a Copa do Mundo é um torneio de Futebol, e a não ser alguns quadrúpedes que habitam a Terra, todos sabem que este é muito mais do que um simples esporte para o povo brasileiro.
Poderíamos começar pelas televisões, não falo aqui do conteúdo medíocre dos canais de televisão, falo do fato da grande maioria dos brasileiros terem como aniversário de compra da sua televisão uma Copa do Mundo, cá para nós, dá até para atrasar o boleto do aluguel, agora assistir a seleção brasileira carregando nossos sonhos sem que seja numa televisão nova é o fim da picada. Salvo a exceção de ser uma televisão da sorte que já tenha contribuído com a vitória de alguma Copa.
Há também a contribuição das meias, com certeza algo que os apátridas não entendem, como uma simples meia consegue deixar sua função de calçar o pé dos estudantes e virar uma bola para uma épica partida entre os corredores escolares. Triste são aqueles que nunca puderam sentir o clamor da multidão ao fazer um gol com uma bola de meia.
Também preciso falar das ruas, em algumas localidades do planeta pode ser que elas existam para o transito de veículos e pessoas, que existam para que os indivíduos se manifestem e reivindique direitos; já na pátria de Garrincha, Tostão, Ademir da Guia e Neymar estas são funções secundárias, por que todos sabemos que não existe uma única via que mereça ser chamada de rua no Brasil que não tenha sido palco de uma pelada fazendo jus ao principal motivo de sua existência.
Não poderia esquecer o direito de gozar o chefe, este é um direito inalienável ao cidadão brasileiro, você não precisa falar com ele, não precisa ir trabalhar com a camisa do seu time, não tem nem mesmo que fazer comentários com outras pessoas em voz alta para que ele possa ouvir; o simples fato de você estar ali, um torcedor daquele time miserável que ganhou de 3 a 0 do time do patrão faz com que ele se sinta menor, humilhado, com uma vontade imensa de demiti-lo mais sem poder porque isso mostraria a todos a superioridade que seu time teve em campo.
Desta forma não tem como rotular o futebol numa condição de esporte, esta é uma condição que deixamos para o vôlei, o basquete ou a sinuca. Ao futebol está reservada o titulo de alma do brasileiro, uma paixão inexplicável, que faz o torcedor comemorar um único gol como se fosse a sua maior realização, que faz homens e mulheres chorarem ao fim de um jogo ao perceberem que o seu time acaba de ser desclassificado.
Vejamos que não existe razão científica e nem tão pouco matemática para explicar o futebol no Brasil, muitos podem tentar, teses e mais teses são defendidas no ambiente da academia, mas a questão central é que não existe no mundo da razão nada que consiga sintetizar a relação do povo com sua seleção canarinho, talvez o mais próximo que consigamos disso seja relembrar algumas imagens, e a melhor de todas com certeza é a do rosto de cada brasileiro quando Roberto Baggio bateu o pênalti e nós pudemos gritar: É tetra.
*Edilson Cavalcante Fialho é diretor de Finanaças e Formação da UJS