Abertura do Congresso resgata a história de 30 anos do MST

Começou oficialmente, na manhã de segunda-feira (10), em Brasília, o 6o Congresso Nacional do MST. A mística de abertura, momento muito aguardado pela carga de energia que libera, emocionou o público que lotou o ginásio Nilson Nelson. Das páginas gigantes de um livro, abertas diante de 15 mil pessoas, saltaram lembranças de uma trajetória de 30 anos de luta política e social no Brasil.

Abertura do Congresso resgata a história de 30 anos do MST - Agência Brasil

Homens, mulheres, jovens e crianças, oriundos de 23 estados e o Distrito Federal, mais de 200 convidados internacionais, assistiram ao povo virar as páginas de um processo de grande importância histórica.

Organizada pela coordenação estadual do MST do Paraná, berço histórico do movimento, a mística envolveu mais de 1.500 participantes e foi dividida em cinco atos. Cada ato era anunciado pela página de um enorme livro, de aproximadamente quatro metros de altura, cujas páginas só eram viradas por meio do esforço coletivo.

Da repressão à organização

A história é contada a partir da década 1980, quando o governo militar agonizava, mas ainda ameaçava o povo. Trabalhadores urbanos, indígenas e camponeses sem-terra se unem em novas organizações. A população do campo volta a se organizar. Nasce o MST, em 1984.

Agora os sujeitos da história escrevem, eles próprios, o seu destino. Sob o lema: “ocupar, resistir e produzir”, os trabalhadores sem-terra passam a romper, literalmente, por meio das ocupações de terra, a cerca do latifúndio. A luta pela reforma agrária é retomada com muita força na agenda política do país.

O MST inaugura uma forma de organização de caráter popular, baseada em quatro pilares fundamentais: direção coletiva, unidade, vínculo com a base e estudo e trabalho. Essa configuração torna o movimento uma referência de luta política. Destemidos, mas temidos pelas forças dominantes.

Luta e resistência

A mística continua a contar a história do movimento que começa, a partir de então, as ocupações de terra, o gesto político e a ação transformadora. O poder econômico não podia tolerar e a resistência física irrompe por todo o país. Rajadas de metralhadora atingem corações, mas o povo junto sempre de pé: “nossos nervos são de gelo, mas nossos corações vomitam fogo. Os companheiros que morreram no sangue seguem eternos na lembrança”.

Como esquecer os massacres de Carajás, Corumbiara e Felisburgo, ou a luta de companheiros e companheiras como Roseli Nunes, Dorcelina Folador, Fusquinha, Keno, Cícero, Egídio Bruneto e muitos outros e outras…

Solidariedade e apoio

A presença de mais de 200 convidados internacionais é um indicativo do apoio, prestígio e, principalmente, solidariedade que o MST desperta em várias partes do mundo, mas também entre outras organizações populares do país. Bandeiras dos países latinoamericanos, africanos, europeus, os povos camponeses articulados em torno da Via Campesina.

O MST reafirma sua luta e vocação internacionalistas como página fundamental de sua história. “A solidariedade é o cimento da construção do nosso movimento, estabelecida com outros povos do Brasil e do mundo. Precisamos dela para enfrentar o capital transnacional do agronegócio e lutar por outro modelo de agricultura”, afirmou na saudação do congresso Diego Moreira, membro da direção nacional do movimento.

O encontro, que vai até sexta-feira (14), começou mesmo há pelo menos dois anos, com discussões e reflexões que conduziram o principal movimento de massas do país a orientar suas forças em favor da reforma agrária popular, tema do último ato da mística. Que esta reforma agrária popular devolva ao povo os bens mais preciosos do planeta, que não pertencem aos indivíduos: a água, o ar, a terra sadia, as sementes, as florestas.

Democratizar o acesso a terra, mas transformar o modelo econômico que destrói a terra. É dessa forma que o MST se olha e renova e amplia os compromissos com a defesa da soberania alimentar, a produção de alimentos saudáveis, a agroecologia, a preservação da natureza, o direito dos povos indígenas e quilombolas. Igualdade entre homens e mulheres, liberdade para a juventude.

Fonte: MST