José Pereira dos Santos: Copa pode nos beneficiar 

Nenhuma generalização faz bem ao debate. Portanto, não é certo generalizar a ideia de que a Copa do Mundo exclui avanços sociais. Fosse assim, Suécia, Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha e outros países desenvolvidos não teriam sediado a Copa.

Por José Pereira dos Santos* 

O esporte, hoje, é um dos grandes negócios do capitalismo. Uma Copa do Mundo movimenta importante volume de dinheiro, atrai turistas, aquece setores da economia, gera empregos – antes, durante e depois de sua realização. Cito, abaixo, números de artigo do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, um político reconhecidamente sério.

Aldo escreveu dia 19 de dezembro, no jornal Valor Econômico (dados até setembro): “Investimentos públicos e privados já alcançam R$ 25,6 bilhões. São R$ 8 bi em obras de mobilidade urbana; R$ 8 bi em construção e reformas de estádios; R$ 6,3 bi em aeroportos; R$ 1,9 bi em segurança; R$ 600 milhões em portos; R$ 400 mi em telecomunicações; R$ 200 mi em infraestrutura turística; e R$ 200 milhões em instalações complementares".

Redes de TV também ganham muito. A Globo deve faturar R$2,5 bilhões. A emissora veiculará, maciçamente, propagandas das patrocinadoras oficiais da Fifa, e das cotas que ela própria vende. São empresas como Coca-Cola, Budweiser, Johnson, Hyundai, Oi, Itaú, Magazine Luiza, Vivo Volkswagen, Itaú e Nestlé. Some-se a isso o faturamento das demais emissoras, as milhares de rádios, os jornais, as revistas, os sites noticiosos.

O governo põe dinheiro grosso na Copa. Se é dinheiro público, deve ser fiscalizado. Mas observo que o Estado tem o dever de apoiar o esporte, profissional e amador. Há quem defenda investimento zero na Copa, alegando que o recurso deveria ir para a Saúde e a Educação. Porém, investimentos já feitos beneficiam quem tem casa perto dos estádios e das obras, o comerciante, o dono do bar, o taxista. Ou seja, uma parcela da população sempre é contemplada.

A Copa de 1970, no México, ocorreu no auge da ditadura. Nas condições da época, era mais fácil o regime manipular a população. Hoje, na democracia, o debate é livre. O País se urbanizou, a escolaridade cresceu, muitos brasileiros acessam as redes sociais. Ninguém mais faz a cabeça das pessoas.

No movimento sindical, por exemplo, cada um vai torcer do seu jeito, sem abrir mão de reivindicar. Em nossa base vamos ampliar a luta pela conquista das 40 horas semanais. As centrais sindicais já marcaram manifestação nacional em abril, tendo como bandeiras redução da jornada, combate à terceirização abusiva, fim do fator previdenciário, implementação da Convenção que proíbe demissões imotivadas, menos juros e fortalecimento do setor produtivo.

Espero que a Copa deixe um legado efetivo para o Brasil. De todo modo, com ou sem Copa, ganhando ou perdendo, a vida continua. Como continuará também nossa luta por saúde decente, educação de qualidade, segurança, transporte digno, buscando resgatar a dívida social e histórica que persiste em nosso País.

*É Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região. Publicado originalmente no portal da Agência Sindical