Mauro Santayana: A morte e a liberdade de expressão

A organização Repórteres Sem Fronteiras divulgou, esta semana, que o Brasil ultrapassou o México como o país com o maior número de assassinatos de jornalistas em 2013.

Por Mauro Santayana*, no Jornal do Brasil

O último a morrer foi Pedro Palma, de 47 anos, morto por assassinos que estavam em uma moto, com diversos tiros, em frente à sua casa, na noite de quinta- feira (13), no distrito de Governador Portela, em Miguel Pereira, no estado do Rio de Janeiro.

Em junho do ano passado, também no interior do estado do Rio, o jornalista José Roberto Ornelas de Lemos, de 45 anos, dono do jornal Hora H, de Nova Iguaçu, também foi assassinado em circunstâncias semelhantes, com 44 tiros. E em 2012, outro jornalista, Mário Randolfo Marques Lopes, editor de um site na cidade de Vassouras, também no Rio de Janeiro, foi assassinado junto com a namorada.

O caso que mais chamou a atenção da opinião pública, neste início de 2014, foi o do cinegrafista da Rede Bandeirantes de Televisão, Santiago Andrade, que teve o crânio afundado e faleceu ao ser atingido por um rojão durante confronto entre policiais e manifestantes, em frente à Central do Brasil, no centro do Rio, sepultado na quinta-feira, mesmo dia da morte de Pedro Palma.

Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), 70% dos assassinatos de jornalistas ficaram impunes no Brasil, nos últimos 20 anos.

Para parar a nova geração de blogueiros, não basta invadir a oficina e empastelar os jornais
O jornalista sabe dos riscos que corre quando vive debaixo de uma ditadura, como foi o caso de tantos homens e mulheres de imprensa durante o regime militar, entre eles Rubens Paiva, Vladimir Herzog e Luis Merlino, torturados e assassinados pela repressão.

Assim como é obrigado a assumir os riscos inerentes à sua atividade quando se desloca para uma área de guerra ou conflito, correndo o risco de ser atingido por um tiro em uma barricada, na Belfast dos anos 1970, ou de explodir ao atravessar de carro um campo minado, em lugares como Mahbés, no Saara Ocidental, cobrindo a guerrilha saarauí.

Com a consolidação dos grandes jornais e cadeias de rádio e televisão no final do século 20, muita gente acreditou que não haveria mais lugar para o jornalista romântico, daqueles que, como se via nos velhos filmes de Hollywood, afrontavam com sua prensa de madeira os oligarcas locais.

Ledo engano. Com o advento da internet, ressurgiu a figura do jornalista solitário, que não está integrado aos grandes meios de comunicação, e que muitas vezes consegue permanecer e sobreviver profissionalmente, apesar da existência deles.

Para parar essa nova geração de blogueiros, principalmente no interior, não basta invadir a oficina e empastelar os jornais, como faziam os jagunços, a mando dos coronéis, nos anos 1950, no Norte de Minas.

É preciso calar definitivamente o jornalista. Apagar o brilho de suas pupilas. Paralisar sua mente, seu coração. Certificar-se de que seus dedos não voltarão, de novo, a pressionar as letras e números, os símbolos e os acentos do teclado.

*Colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973).