Moradores acusam polícia de ação criminosa na Favela do Moinho
A Favela do Moinho foi atacada, mais uma vez, por homens da Polícia Civil de São Paulo que atiraram contra os moradores, incluindo crianças que caminhavam para suas casas de volta da escola. De acordo com relato dos moradores nas redes sociais, por volta das 17h30 três policiais à paisana entraram na favela, em um carro preto, xingando e apontando armas para os moradores. A versão da polícia, divulgada pela grande mídia, é de que tratava-se de uma operação para capturar um "bandido".
Publicado 26/02/2014 12:10

Crianças juntam artefatos de bombas lançadas pela Polícia dentro da comunidade do Moinho / Foto: Rafael Bonifácio
Em seguida, preocupados para saber o que estava ocorrendo, moradores começaram a sair de suas casas. Os policiais, por sua vez, entraram no carro e foram pra cima da população que, para se protegerem, passou a jogar pedras contra o carro. Os policiais conseguiram fugir e chamaram reforços. Dez minutos depois cerca de 30 homens da polícia civil retornaram armados com metralhadoras e começaram a dar tiros pro alto gritando e xingando quem encontravam pela frente.
"Andaram pela favela inteira e pra tentar justificar a ação pegaram um menor e um rapaz e levaram para delegacia. Na saída os moradores revoltados começaram a xingar de volta os policiais. Eles responderam com balas de verdade, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo", diz um trecho do relato postado na Página da Favela do Moinho, no Facebook.
Eram por volta das 17h quando a moradora Alessandra Moja vinha chegando em casa com a filha, vindo da creche da menina. Ela escutou o barulho dos tiros e ao perguntar para algumas pessoas que se abrigavam com outras crianças, descobriu que se tratava da polícia. “Saiu um carro a milhão (da favela) que quase pegou as crianças que passavam ali, era um carro da polícia civil. Ai eles pararam na esquina e chamaram reforço. Ai veio o GOE, veio Denarc, até o helicóptero”, disse Alessandra.
Os moradores ficaram surpresos ao saber a versão da Polícia divulgada na televisão, de que se tratava de uma operação para localizar um bandido que havia atirado na polícia. Para justificar a ação, os dois homens citados no relato foram levados sob a ameaça de que dariam "um sumiço" neles.
“A comunidade toda se revoltou porque passou na televisão o Datena dizendo que aqui só mora bandido e traficante, que tem que fazer isso mesmo, que tem que fazer operação mesmo”, lamentou a moradora.
Logo em seguida do fato, os moradores ocuparam a Avenida Rio Branco para fazer um protesto pacífico contra a ação da polícia. No entanto, não houve qualquer tipo de tentativa de conversa por parte do poder público. A tropa de choque da PM passou a atirar com balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.
Sabe-se que a Polícia não possuía mandado judicial para busca e apreensão. “E eles falaram: a gente vai voltar”, completou.
Desmilitarização
No mesmo dia, ocorreu a atividade Debate da Desmilitarização, por volta das 19h, na Praça Roosevelt, em São Paulo, que abordou a questão da cultura militar, o genocídio da juventude negra e periférica e os altos índices de homicídios no Brasil.
Promovido por movimentos sociais como Mães de Maio e o Coletivo DAR, o debate procurou analisar o atual modelo de segurança pública. A proposta de desmilitarização consiste na mudança da Constituição, por meio de Emenda Constitucional, de forma que as polícias Militar e Civil constituam um único grupo policial, e que todo ele tenha uma formação civil.
Da redação do Vermelho com informações da comunidade da Favela do Moinho no Facebook e agências