Grupo internacional trata conflito regional e crise no Líbano

Tem início nesta quarta-feira (5), em Paris, a reunião do Grupo Internacional de Apoio ao Líbano, pouco depois da formação de um governo provisório – com composição considerada precária, por uns, ou a saída possível, atualmente, por outros – após 11 meses de estagnação da reestruturação governamental. A intensificação da violência, com atentados cada vez mais frequentes perpetrados por grupos armados que atuam também na Síria e a unidade nacional libanesa estão sobre a mesa.

Suleiman e Hollande - Daily Star

O Grupo Internacional de Apoio ao Líbano (Gial) foi lançado em setembro de 2013 em Nova York, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), enquanto o governo era pressionado a prometer que se manteria afastado do conflito na Síria. Entretanto, a relação direta entre os acontecimentos nos dois vizinhos torna a ideia impraticável, enquanto a atuação dos grupos radicais tem se propagado no Líbano.

Os objetivos primordiais do grupo, de acordo com o jornal libanês Daily Star, foi o apoio às instituições libanesas e ao Exército, assim como no manejo da situação dos refugiados sírios abrigados no Líbano, que já somam cerca de um milhão de pessoas em um país de pouco mais de quatro milhões de habitantes.

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O presidente Michel Suleiman propôs uma estratégia de defesa na primeira edição da reunião, no ano passado, e voltou a abordá-la nesta quarta. Embora os EUA e a União Europeia insistam em classificar o partido e movimento de resistência islâmica libanesa, Hezbolá, como uma “organização terrorista”, a proposta de Suleiman inclui exatamente a incorporação das suas forças armadas ao comando do Exército.

Neste sentido, Suleiman lembrou o financiamento que o Exército libanês recebeu recentemente da Arábia Saudita, de US$ 3 bilhões (R$ 7 bilhões), calculado por diversos analistas como a barganha do reino saudita na formação do novo governo do Líbano, já que o seu aval para o processo político é determinante. Além disso, a transação teria sido feita através da França, que proveria o equipamento militar e o treinamento prometido ao Líbano.

Um dos maiores blocos políticos no país, a Aliança 14 de Março, integrada por grupos e partidos sunitas, como o reino, seria diretamente influenciado pela determinação saudita.

“Estamos determinados a superar os diversos obstáculos que o país enfrenta na implementação dos vários projetos dedicados a revitalizar a sua economia,” disse o presidente, que também apelou para o apoio na gestão da chamada “crise de refugiados”, devido ao grande influxo de sírios que têm buscado refúgio no país.

Resistência contra o terrorismo e a desintegração

A reunião também conta com a presença do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, com o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius e seu homólogo britânico, William Hague, assim como outras autoridades. Os três citados, entretanto, vêm lidando de forma destrutiva com a questão síria (estreitamente ligada ao cenário político libanês), com o respaldo aos grupos armados que lutam contra o governo há três anos, na tentativa de derrubar o presidente Bashar al-Assad.

Além disso, uma intervenção militar direta contra Síria sempre foi promovida pelos EUA, França e Reino Unido, principalmente em detrimento da diplomacia, uma agressão que também traria, inevitavelmente, consequências diretas ao Líbano.

O grupo reúne-se enquanto há um impasse na declaração política do gabinete libanês provisório recém-estabelecido, com as preparações para a realização de eleições em maio.

A inclusão do Hezbolá ainda tem sido posta como a maior problemática por grupos que integram a Aliança 14 de Março, por exemplo, e o seu envolvimento no conflito na Síria, com o apoio ao Exército no combate aos grupos armados, é usado para rechaçar a atuação política do partido, embora o próprio Líbano venha sendo palco de atentados destes grupos ainda antes da integração do Hezbolá nos confrontos.

O partido, que reafirma o seu papel na resistência e na defesa dos territórios libaneses, tem instado os diversos grupos políticos a trabalharem pela unidade nacional na construção de um novo governo, afastando e combatendo as forças desagregadoras e os movimentos de divisão no Líbano.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho