De Braços Abertos: participantes do programa dançam no sambódromo

Vinte e quatro participantes do programa De Braços Abertos, da prefeitura de São Paulo, foram ao sambódromo na última sexta-feira (10), no desfile das campeãs do carnaval paulistano. Os ingressos para o setor B, um dos mais requisitados, foram dados pela gestão municipal como um reconhecimento pelo comprometimento de alguns integrantes da iniciativa, prestes a completar dois meses.

Braços Abertos - Gisele Brito/RBA

O De Braços Abertos prevê atendimento de saúde e assistência social, trabalho e habitação para dependentes químicos, em especial de crack, que viviam em uma favela nas ruas Helvétia e Dino Bueno, na região conhecida como "cracolândia", no bairro da Luz.

“Foi muito legal. A gente se acabou de dançar”, conta Bruno Santos Porto, de 27 anos. “A única coisa chata é que disseram que a gente ia ficar na área VIP, e na hora H fomos para a normal. Estava todo mundo achando que ia comer e beber de graça e a cerveja estava a R$ 6. Eu ganho R$ 15 por dia, como vou pagar isso em uma latinha?”, afirma.

Para que eles não ficassem à míngua, um dos coordenadores da Brasil Gigante, a organização não governamental que atua em parceria com a prefeitura no programa, emprestou R$ 200 ao grupo, contam. A Secretaria de Assistência Social não confirma se havia previsão de que os participantes fossem para o camarote.

O primeiro balanço da prefeitura, no mês passado, apontou que, entre os 386 participantes, houve diminuição de 70% do consumo de crack. Isso não significa que eles abandonaram as drogas. Muitos apenas diminuíram o uso. Antes do programa, alguns deles fumavam, em média, 16 pedras por dia. Os participantes não podem consumir droga durante as quatro horas de trabalho que devem cumprir, mas não são penalizados se o fazem depois da jornada.

Silvana Fernandes, de 44 anos, garante que não tem usado mais a droga. Agitada, ela conta que combate a abstinência comendo muito, chupando balas, bebendo e fumando. “É difícil. Mas é mais fácil resistir do que insistir”, pondera. “Por isso que eu não admito que me chamem de noia. Não admito mesmo”, afirma, depois de brigar com a atendente de uma lanchonete que disse a ela que “não vende nada para noias”. “Se a gente está pedindo a gente é noia, se está de uniforme, comprando, a gente é noia”, lamenta, em lágrimas.

Apesar de certa estigmatização em função do uniforme azul com o logo do De Braços Abertos, o grupo ouvido pela reportagem admite que a roupa também dá certa “moral” a eles, que são abordados por transeuntes perdidos na região da Luz que pedem informações sobre ônibus, ruas e serviços dos arredores. “Antes ninguém vinha falar com a gente. Agora a gente é tra-ba-lha-dor”, diz Bruno.

Cada dia de trabalho rende R$ 15, pagos semanalmente. Nas primeiras semanas do programa, a prefeitura pagou integralmente o valor, mesmo que o participante não fosse assíduo. Agora, só é pago o montante proporcional aos dias trabalhados. “Tem que ser assim mesmo. Se não for, vira bagunça”, afirma Silvana.

Na manhã de hoje, apenas três das 20 pessoas de um dos grupos de varrição compareceu ao trabalho. “Segunda-feira é bravo”, explica Bruno. Mas, entre os participantes, o programa é bem avaliado e considerado bem-sucedido. “Eu conheço vários que, como eu, estão se recuperando”, afirma Bruno, que quer aumento de salário e almeja a contratação registrada em carteira, como a maioria dos participantes. Atualmente, eles não têm vínculo empregatício com a prefeitura nem com a ONG que administra a frente de trabalho.

Mas a moradia, ainda que provisória, é a ação do programa considerada mais importante. Foram alugados cinco hotéis na "cracolândia" para hospedar e fornecer alimentação aos participantes. “A gente estava morando em barraco ou de um lado para outro sem rumo. Ter um teto é muito bom”, afirma Silvana. Ela também elogia a promessa de que, na próxima semana, os participantes terão acesso a dentistas. Silvana, assim como outros usuários de crack, tem os dentes da frente danificados pelo uso da droga. “É meu sonho. Eu até pedi isso para o Haddad no dia que ele veio aqui.”

Fonte: Rede Brasil Atual