A democratização da mídia é fundamental, diz Gilberto Carvalho

Após o lançamento, na última sexta-feira (14), do Programa Ecoforte, que beneficiará as redes de agroecologia em todo o país, o Fazendo Media conversou rapidamente com o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, nos corredores do Palácio do Planalto.

Por Eduardo Sá, no Fazendo Media

Gilberto Carvalho. Foto: José Cruz/ABr

Durante a solenidade o ministro relatou as dificuldades para se conquistar avanços populares e democráticos no Estado brasileiro. “A gente um dia vai encher a mesa deles (a elite) de arroz e muito mais que isso, uma consciência nova, um novo Brasil, um país democrático. Os recursos públicos serão democratizados, acabou o tempo da casa grande e da senzala”, disse.

Segundo o ministro, o Estado brasileiro foi feito pelas elites para financiar os grandes e algumas pessoas no governo vêm tentando mudar essa lógica com muitas dificuldades. Ele relatou as facilidades que determinados setores da sociedade têm para consolidar grandes projetos, enquanto setores mais vulneráveis enfrentam enormes dificuldades para ações muito menores. Responsável pelo diálogo entre a presidenta e os movimentos sociais, Carvalho ressalta a importância da pressão da sociedade para a conquista de direitos.

É neste contexto que a Reforma Política proposta pelo governo não passou no Congresso Nacional. As contradições e correlações de forças dentro do Estado são enormes, e refletem suas alianças e o poder do campo hegemônico no Brasil. Na entrevista a seguir Carvalho fala sobre a necessidade de uma reforma política e da democratização dos meios de comunicação, que foi uma das principais bandeiras levantadas nos protestos em junho de 2013.

Fazendo Media: Você falou sobre a lógica do Estado brasileiro, as dificuldades para a conquista de avanços populares e democráticos por dentro da máquina. Como intermediário da presidenta com movimentos sociais, como você vê a repercussão das mobilizações em junho e a reação do Estado?
Gilberto Carvalho: Sabemos que as manifestações nas ruas e as manifestações cotidianas que ocorrem através dos movimentos sociais são gritos da sociedade legítimos e democráticos, apontando as necessidades e determinando que o Estado tome providências para atender essas demandas.

É nessa perspectiva que toda a organização da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e outras entidades [envolvidas no lançamento do programa] nos levaram à conclusão de que era preciso o Estado brasileiro mobilizar recursos para financiar e dar corpo a pequenos agricultores, cooperativas e associações, a fim de fazer essa transição da agricultura tradicional para a agricultura orgânica e agroecológica.

Daí nasceu o programa Ecoforte, que é exatamente o programa que estrutura essa possibilidade, através de financiamento do BNDES e da Fundação Banco do Brasil e apoio de outros ministérios. Estamos empenhados cada vez mais em apoiar esses financiamentos, pois achamos que é legítimo e necessário ao país.

Você já se posicionou publicamente a favor da democratização da mídia. Como você vê a postura do governo em relação a esse tema, e quais são as perspectivas levando em consideração todo o processo da Conferência Nacional de Comunicação?
Nós entendemos que essa é uma luta da sociedade brasileira, e não apenas do governo. É até mais da sociedade, porque o governo na correlação de forças tem que se pautar pelas regras atuais. Eu apoio totalmente, acho que é fundamental e as mídias sociais já têm contribuído de maneira inestimável para essa causa.

Eu sinceramente espero que cresça na sociedade esse movimento, que não é contrário à liberdade de expressão, ao contrário: é pela ampliação, pela radicalização da liberdade de imprensa. Ou seja, sem nenhuma censura, sem nenhuma restrição, onde muito mais sujeitos possam fazer ouvir as suas vozes e entrar no grande debate púbico nacional. E assim termos a sociedade e os meios de comunicação de fato democratizados, ou seja, onde todas as vozes possam ser ouvidas.

E o governo tem trabalhado nessa perspectiva, tem debatido, e quanto mais mobilização da sociedade tiver nesse sentido mais o governo terá forças para fazer avançar esse processo.

A reforma política não passou, qual é a perspectiva em relação à democratização do Estado?
A reforma política não passou, assim como outras iniciativas não tinham passado. Só que nós seguimos nessa perspectiva, não tem nenhuma chance de a gente abrir mão da reforma política. Não tem chance de pensarmos num Brasil de uma política efetiva, decente, democrática, sem a reforma política.

Se não acabar o sistema do financiamento de campanhas privado empresarial sem limites, sem que nós construamos mecanismos efetivos de participação popular, não tem como avançar a democracia no Brasil. Então é um dever fundamental seguir trabalhando pela reforma política, por isso estamos apoiando a iniciativa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e movimentos sociais por um grande abaixo-assinado nacional por uma iniciativa popular de lei que de fato leve a reforma política para o debate dentro do parlamento.

Por enquanto a forma que mais enxergamos é essa, e o governo está apoiando essa medida. Ninguém pode falar mal da corrupção se não estiver trabalhando nessa perspectiva. Não há outra forma de combater a matriz da corrupção, o financiador da corrupção, que é o financiamento privado de campanha, se não fizermos essa mudança.