Fim da URSS: Deputados querem processar Gorbatchov

Cinco deputados da Duma de Estado (câmara dos deputados da Rússia) dirigiram uma interpelação oficial a Iúri Tchaika, procurador-geral da Federação da Rússia, reivindicando uma revisão procuratória dos acontecimentos do período da fragmentação da URSS.

Os autores da interpelação representam todas as bancadas da Duma, exceto o partido Rússia Justa. O documento foi assinado por dois membros do Partido Comunista, Ivan Nikitchuk e Oleg Denissenko, por Mikhail Degtiariov, membro do Partido Liberal Democrata da Rússia, além de dois representantes do partido no poder, o Rússia Unida, Anton Romanov e Evguêni Fiódorov.

Os deputados querem respostas a duas questões: se houve intervenção de países estrangeiros contra a URSS e se ocorreu então um golpe de Estado.

Além disso, eles dizem suspeitar que os então dirigentes da União Soviética cometeram infrações da lei que teriam levado à desintegração do país.

“Na resposta à interpelação esperamos obter a avaliação das bases legais das estruturas de Estado de todas ex-repúblicas soviéticas, bem como da Constituição, o que pode justificar uma alegada alteração dos documentos básicos, como, por exemplo, o de soberania ucraniana”, afirmou Fiódorov, do Rússia Unida.

O deputado acredita que a avaliação do ocorrido há 20 anos poderá estimular um movimento de libertação nacional nos territórios da ex-URSS, “entre outros, na Ucrânia”.

O primeiro presidente da União Soviética, Mikhail Gorbatchov, está sendo acusado pelos deputados de ter formado o Conselho de Estado da URSS, órgão que não constava da Constituição da URSS entre os organismos de poder estatal.

Foi justamente o Conselho de Estado que decretou o reconhecimento da independência das repúblicas soviéticas do Báltico, o que se configura em uma ilegalidade.

O ex-presidente Gorbatchov, considerado por milhares de ex-soviéticos como "traidor dos trabalhadores", acha que a iniciativa dos parlamentares é "precipitada" e "mal pensada". Ele tenta se defender dizendo que "devolveu" países como Polônia e Hungria a seus povos, quando na verdade, atualmente, esses países são reféns da política econômica do FMI e do Banco Central Europeu.

A Procuradoria Geral terá que a analisar a interpelação dos deputados e responder. Fiódorov espera que o órgão o faça dentro de um mês.

Nem todos analistas políticos russos, entretanto, acreditam que a análise de acontecimentos tão remotos seja imprescindível. A unanimidade considera que é pouco provável que a investigação seja feita com rigorosidade e precisão.

“Louvo a iniciativa dos deputados", declarou o membro do Conselho da Associação de Especialistas e Consultores Políticos, Vladímir Goriunov.

"Sem dúvida alguma, é preciso analisar o procedimento que levou à desintegração da URSS. Mas vou encarar os resultados com um certo ceticismo, já que muitos documentos podem ter sido destruídos. Aliás, a atual elite russa está bem ligada àqueles acontecimentos ou às personalidades que os provocaram.”

Com informações da Gazeta Russa