A encruzilhada do grupo Sarney

A nova pesquisa Data M sobre as eleições para o governo do Estado não me parece ter valor analítico, uma vez feita em cenário que se poderia classificar como de polo único. Mas constitui um parâmetro importante para se avaliar o desempenho do candidato governista daqui para frente.

 Nela Flávio Dino progride sete pontos em relação ao levantamento anterior, passando de 55,3 para 62,5. Edison Lobão Filho, que estreia no tabuleiro da sucessão, surge com 12, 2.

Pode-se dizer que a massa de votos pró-governo, antes concentrada em Luís Fernando, migrou para o seu substituto. Não deixa de ser um alento para o grupo Sarney, mas isso não autoriza a soltar fogos, dizendo que o Edinho está crescendo um ponto por dia. Bobagem. Significa apenas que o eleitor governista aceitou a troca de nomes sem fazer cara feia.

O aparato político do grupo Sarney, aí compreendidas a estrutura partidária e a máquina administrativa, tem potencial para alavancar um patamar de votos até maior, independente de quem seja o candidato. Assim como tem gente que não vota em Sarney de jeito nenhum, tem aqueles que votam de olhos fechados em qualquer cenário. É o chamado espólio dinástico, que, aliás, dá mostras de vir minguando numa escala perigosa.

Luís Fernando era um ótimo nome, pela visão política e também em face do histórico administrativo. Passou mais de um ano em campanha aberta, assinando ordens de serviços e inaugurando obras, e mesmo assim abandonou a campanha, estagnado em 13% de intenção de votos.

Esse é um aspecto que pode levar a uma leitura pessimista para o grupo da situação. Sugere que o problema não está no candidato, mas na imagem do governo ou do sobrenome Sarney, que enfrenta um agudo processo de fadiga. Invertendo-se o ângulo de visão para os números do candidato da oposição, essa constatação fica ainda mais cristalina. Chega a ser assombrosa a performance de Flávio Dino, em patamar acima de 60%.

Os que manifestam a intenção de votar em Dino, mais do que uma simples preferência por nome, o que eles querem, na verdade, é mudar o paradigma. É como se dissessem “pra mim chega, chegou a hora de mudar”. Uma mensagem que o próprio candidato aliado, ao apresentar-se no auditório da Assembleia para uma plateia de prefeitos e deputados, parece ter assimilado.

Falou em fazer um governo empreendedor, que hoje seria o oposto da gestão comandada por Roseana, de desenho planificado, com investimentos em áreas pontuais, nem sempre estratégicas. Lobão Filho não explicou como pretende impor essa nova forma de administrar, mas deixou claro, pelo menos no discurso, que o governo precisa alterar o modo de atuar e priorizar o setor produtivo, aquele que gera riquezas e cria empregos.

Até aqui Flávio Dino navegou em céu de brigadeiro, favorecido pelas dificuldades naturais de um grupo que se mantém no poder há quase meio século e o desejo, quase ardente, do eleitor de experimentar novos métodos. Agora, com os personagens definidos, o jogo começa para valer.

Dino segue a favor da correnteza. Lobão precisará correr contra o tempo, para mostrar, não apenas a ele, mas especialmente aos caciques do grupo, que tem condições de modificar esse panorama e se apresentar como um candidato de verdade.

Porque se até as convenções partidárias ele permanecer em patamares iguais aos de Luís Fernando, pode ser que outro nome entre em cena, e aí, sim, já em situação desesperadora, como quem tenta a todo custo igualar o placar no apagar das luzes.

O problema hoje na intimidade da Família Sarney não é quem lançar candidato, mas o que fazer para convencer o eleitor de que o grupo ainda está vivo e pode ser a melhor opção para continuar comandando os destinos do Maranhão, coisa que não conseguiu provar ao longo dos anos de domínio. Como a política às vezes se assemelha a um jogo de futebol, e neste pode-se fazer no último minuto o que não se fez durante a partida, a eleição está em aberto, e um fato inusitado pode definir o resultado. É nisto que se agarra o grupo Sarney.