Iraque enfrenta desafios na primeira eleição desde saída dos EUA

O Iraque prepara-se para ir às urnas nesta quarta-feira (30), nas primeiras eleições desde que as tropas dos EUA retiraram-se do país, em 2011, quase uma década após a invasão militar de 2003. Os iraquianos enfrentam o desafio de escolher seus parlamentares em meio às consequências de um longo período de violência e ocupação por tropas estrangeiras e a ressurgência do grupo extremista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), que também atua na tentativa de desestabilização da Síria.

Iraque - EPA

Os oito anos de presença militar estadunidense apenas submergiram o Iraque na violência e conturbaram as complexas relações sociopolíticas e religiosas no país, como é característico desta atuação militarista e de ingerência externa. Neste sentido, às vésperas das eleições, as tropas do governo, liderado pelo primeiro-ministro Nouri al-Maliki, ainda combate o EIIL a 65 quilômetros da capital iraquiana, Bagdá.

Nos últimos meses, o transbordamento do conflito na Síria, orquestrado por forças estrangeiras, na busca pela desestabilização do governo e do país, afetam diretamente o Iraque e outros vizinhos, reavivando suas próprias disputas internas, de característica regionalizada.  O apelo dos líderes destes países – Iraque, Líbano e Síria, principalmente – contra a ingerência externa e pela promoção do diálogo político soberano é incisiva enquanto, internamente, as forças nacionais combatem a proliferação dos grupos extremistas.

Apenas na última semana, o EIIL, que era filiado a Al-Qaeda (até que a própria rede afastasse o grupo devido à brutalidade das suas ações e às disputas internas), lançou um ataque suicida triplo durante os comícios eleitorais, matando 37 pessoas e ferindo mais de 80, de acordo com fontes da segurança nacional. Os membros do Exército e da polícia votaram nesta segunda-feira (29) e todos os ministérios foram fechados, como medida extra de segurança. Logo depois de as forças de segurança votarem, um membro do EIIL cometeu um ataque suicida próximo a um local de votação na capital, matando cinco pessoas.

A violência tem alcançado níveis recordes desde a onda anterior, de 2006-2007, quando dezenas de milhares de iraquianos foram mortos em ataques sectários pelo país, à beira da guerra civil. Quase 1.700 civis foram mortos apenas nos três primeiros meses de 2014, de acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU).

Neste contexto, a realização de eleições tem como desafio estes conjuntos de condicionantes e a busca da população pela transformação política nacional. O premiê Al-Maliki deve continuar no poder, de acordo com pesquisas de opinião citadas por várias agências internacionais, uma vez que faltariam opositores firmes.

O país também enfrenta desafios fundamentais como a luta pela redução da miséria (quase 10 milhões de iraquianos vivem abaixo da linha da pobreza), o alto desemprego as acusações de corrupção endêmica, a distribuição da renda do petróleo e as disputas sectárias, ou a busca pela secularização.

Ainda assim, Maliki deve assumir o seu terceiro mandato através do partido Dawa, de tendência xiita, que lidera a coalizão Estado de Direito, um bloco formado com o apoio dos grupos sunitas e curdos, apesar das divisões em todo o país e da contestação sobre a sua continuidade por algumas vozes sunitas, que chegam a indicar que o primeiro-ministro transforma-se em um ditador.

Os apoiadores de Maliki e diversos diplomatas rechaçam a acusação, porém, lembrando o atual contexto nacional, do aumento da violência, da instabilidade e da insegurança e a difícil reconstrução do país, que ainda enfrenta as mudanças abruptas do cenário regional, orquestradas por atores vizinhos ou distantes, mas de ação direta no desenrolar das sucessivas crises.

Da Redação do Vermelho,
Com informações das agências de notícias