SomosTodosMacacos é uma forma equivocada de se combater o racismo

Cansado de ver os debates a cerca da mitológica democracia racial no Brasil, quero corroborar que a campanha publicitária que ganhou notoriedade com a frase #SomosTodosMacacos é uma forma equivocada de se combater o racismo institucional nos esportes e em outros meios da sociedade.

Por Walmyr Junior*, no JB

Estarrecido com a quantidade de fotos de pessoas comendo bananas e dizendo que são macacos em meu feed de notícias no Facebook, confesso que não aguentei e resolvi tentar desconstruir essa falácia vendida, que só tem por finalidade reafirmar que os negros e brancos da sociedade vivem em igual condições sociais – sabemos que isso é mentira.

Primeiro, em que medida essa campanha efetivamente se contrapõe ao racismo?

Segundo Rodger Richer, estudante de ciências políticas da UFBA (Universidade Federal da Bahia) essa campanha “é uma forma – a meu ver, equivocada – de protestar contra o racismo ocorrido nos estádios de futebol com jogadores negros, que tenta re-significar o termo "macaco", sendo que esse mesmo termo sempre foi utilizado para discriminar negros. Não acredito que adotar esse termo seja uma forma efetiva para se contrapor ao racismo.

Segundo, tentar colocar uma forma de discriminação no mesmo saco, como se todos sofressem com o racismo, é algo muito equivocado.

Sabemos, evidentemente, que somos todos seres humanos. Entretanto, cada um de nós possui especificidades de raça, classe, gênero, etnia, sexualidade e religião. Portanto, não podemos concordar com generalizações do tipo #SomosTodosMacacos, pois quem sofre com essa discriminação não é todo mundo. São negros e negras que sofrem com o racismo todos os dias, seja com insultos como esse, seja, até mesmo, com o genocídio do povo negro e o racismo institucional.

O racismo é algo muito sério. Não podemos dar as costas para ele e fingir que não existe. O racismo mata todos os dias. Não vivemos em uma democracia racial, como alguns pensam. Casos como o ocorrido com Daniel Alves não podem ser tolerados. Para tanto, recorrer à justiça para punir quem comete o racismo é fundamental.

Me espanta ver tanta gente postando nas redes sociais fotos comendo banana e dizendo que é macaco. Quem é negro sabe o quanto essa palavra é ofensiva para nós. Sei que a intenção das pessoas que postaram essas fotos foi de se contrapor ao racismo ocorrido nos estádios. No entanto, acredito que essa não foi a melhor forma, essa lógica só reforça a lógica das opressões que sofremos todos os dias”.

*Walmyr Júnior integra a Pastoral da Juventude da Arquidiocese do Rio de Janeiro, assim como da equipe da Pastoral Universitária Anchieta da PUC-Rio. É membro do Coletivo de Juventude Negra – Enegrecer. Graduado em História pela PUC-RJ.
**Título original: #NãoSomosMacacos