Veja ataca Dilma com teoria econômica rasteira

Neste fim de semana, a revista Veja assaca uma mentira (mais uma) contra a presidente Dilma Rousseff; no editorial chamado "Inflação não cria emprego", a publicação afirma que "Dilma relaciona inflação com criação de empregos"; foi uma resposta à fala de Dilma, quando ela afirmou que trazer a inflação a 3%, conforme propôs Eduardo Campos, elevaria o desemprego a algo próximo a 8,2%.

Essa correlação é tão verdadeira que dois economistas oposicionistas, Alexandre Schwartsman e Persio Arida, propuseram exatamente isso: cortar empregos para reduzir a inflação e trazê-la ao centro da meta

"A saída é frear a economia. É demitir mesmo", disse, em março de 2013, o economista Alexandre Schwartsman, um dos mais ferozes críticos do governo federal na área econômica. Assim seria possível trazer a inflação para o centro da meta de 4,5%.

Cinco meses depois, em agosto daquele ano, outro economista da oposição, o banqueiro Persio Arida, foi mais específico. Ele sugeriu que o Brasil trabalhasse com uma taxa de desemprego entre 6,5% e 7% – bem maior do que os 5% da época – para, assim, conter a alta dos preços. "A economia brasileira está sobreaquecida, aquecida demais em relação ao seu potencial", disse ele. "Essa seria a nossa Nairu", disse, referindo-se à sigla em inglês que significa taxa de desemprego que não acelera a inflação (trata-se do conceito técnico chamado Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment).

Ou seja: o que tanto Arida quanto Schwartsman disseram é que não se faz uma omelete sem quebrar alguns ovos. Portanto, se o Brasil decidisse trabalhar com uma inflação mais baixa, seria necessário elevar os juros, conter a atividade econômica e, sim, aumentar o desemprego, para atingir o resultado desejado.

Foi exatamente por isso que, na semana passada, ao conceder uma entrevista a mulheres jornalistas, a presidente Dilma Rousseff questionou a proposta feita por Eduardo Campos de trazer a inflação a 3%. Segundo Dilma afirmou, para chegar a esse resultado, o País produziria uma taxa de desemprego de 8,2%. Portanto, algo coerente até com o raciocínio de Persio Arida. Se, para chegar ao centro da meta de 4,5%, seria preciso ter um desemprego de 7%, razoável imaginar que buscar 3% implicasse o desemprego de 8,2% citado por Dilma.

Essa teoria do "Nairu", proposta pelo economista Edmund Phelps, que, graças a ela, conseguiu o Prêmio Nobel de Economia, é conhecida de qualquer estudante da disciplina. No entanto, para a revista Veja, que faz campanha contra a reeleição de Dilma, trata-se de uma bobagem dita por ela.

No editorial "Inflação não cria emprego", publicado neste fim de semana, Veja assaca uma mentira (mais uma) contra Dilma, ao afirmar que ela "relaciona inflação com criação de empregos".

"Uma meta inflacionária de 3% não é incompatível com a criação de empregos – desde que o governo corte os gastos", afirma Veja. Ou seja: o que a revista propõe é um mix de arrocho fiscal e monetário, uma receita bem ao agrado do banqueiro Roberto Setúbal, do Itaú Unibanco, cogitado para ministro da Fazenda de Campos, e que exerce influência sobre a Editora Abril.

O único problema é que a ciência econômica de Veja não encontra amparo na realidade. Melhor acreditar na sinceridade de Alexandre Schwartsman e Persio Arida. Dois nomes insuspeitos, que certamente não votarão em Dilma em 2014 e que pregam, sim, mais desemprego contra a alta dos preços.

Dilma, no entanto, pretende apresentar como uma de suas realizações a defesa do pleno emprego, mesmo num ambiente econômico hostil, em que a inflação foi pressionada por choques de preços e pela desvalorização do real, em decorrência da queda nos preços de produtos que o Brasil exporta.

Fonte: Brasil 247