Diplomacia russa é o motor do processo de estabilização na Ucrânia

A Rússia continua realizando ativamente consultas com seus parceiros internacionais para encontrar uma solução para a gravíssima crise que colocou a Ucrânia à beira de desaparecer como país.

Por Serguei Duz , na Voz da Rússia

Serguei Lavrov - RIA Novosti/Vladimir Pesnya

O ministro das Relações Exteriores da Rússia Serguei Lavrov discutiu com os dirigentes da Finlândia os possíveis caminhos para a resolução do problema. De Helsinque ele irá viajar diretamente para São Petersburgo, onde estão planejadas reuniões com seus homólogos alemão e polonês.

Na opinião do ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, a fase mais crítica do conflito ucraniano já terá sido, provavelmente, ultrapassada, mas a sua solução ainda estará longe.

Neste momento a Alemanha deposita enormes esperanças na reunião de Lavrov com Steinmeier e com o ministro das Relações Exteriores da Polônia Radoslaw Sikorski. É evidente que essas esperanças também são partilhadas pelas outras capitais europeias. Mais uma vez a diplomacia russa tem na sua mão a chave da estabilidade no continente. Temos de referir que os políticos ocidentais razoáveis partilham muitas das abordagens de Moscou relativamente a esse problema. Já o ponto de vista de Varsóvia é diferente.

O chefe da diplomacia polonesa já se manifestou por diversas vezes contra a posição da Rússia relativamente à crise na Ucrânia. Ele também se pronunciou contra a venda a Moscou dos porta-helicópteros franceses da classe Mistral, que estão sendo construídos por encomenda de Moscou. Sikorski também tinha acrescentado que no seu país devia estar estacionado um maior contingente militar proveniente dos EUA e da Europa.

Contudo, Varsóvia deverá provavelmente acabar por dar ouvidos à opinião de Berlim em como a Europa não está interessada no isolamento da Rússia. Assim, há boas hipóteses de no próximo encontro tripartido os ministros poderem encontrar soluções novas e mais otimistas que as atuais. Também é evidente que até ao fim dessa reunião todas as conversas sobre esse tema terão apenas um caráter hipotético.

Sobre os resultados da visita do ministro Lavrov à Finlândia, porém, onde seus interlocutores foram o chefe da diplomacia finlandesa Erkki Tuomioja e o presidente do país Sauli Niinisto, já podemos falar com um otimismo evidente. Em todo caso, o próprio ministro das Relações Exteriores da Rússia sublinhou numa conversa com jornalistas o caráter construtivo que teve essa visita:

“Quanto à Ucrânia, que foi o tema principal das conversações, apesar de todas as ressalvas, nós temos uma posição comum sobre o denominador comum, que é o comunicado de Genebra de 17 de abril, e o roteiro nele baseado da presidência suíça da OSCE. Esses documentos abrem caminho à regulação, começando pelos passos prioritários para pôr fim à violência, e para a organização de um diálogo ucraniano geral e inclusivo e de uma profunda reforma constitucional tendo em conta os interesses de todas as forças políticas e de todas as regiões da Ucrânia.”

É interessante verificar que alguns peritos propõem, na qualidade de uma das versões possíveis para o futuro pós-crise, a chamada “finlandização” da Ucrânia. Esse termo não é novo. Em resumo, nos tempos da Guerra Fria, ele significava uma política baseada na neutralidade, na renúncia à adesão à OTAN, nas aspirações em ser uma espécie de ponte entre o Oriente e o Ocidente, na adesão completa aos valores ocidentais e respeitando os interesses do seu vizinho a leste.

Apesar de uma série de analistas duvidar da aplicabilidade da experiência política finlandesa à Ucrânia, os partidários desse tipo de evolução dos acontecimentos encontram vários paralelismos. Tanto a Finlândia, como a Ucrânia, representam na sua essência fragmentos de antigos países. Ambos os países têm o problema do bilinguismo, só que os finlandeses já o resolveram há muito tempo: eles têm o finlandês e o sueco como línguas oficiais (apesar de esta última ser a língua nativa de menos de 6% da população).

Essa análise comparativa pode ser continuada. É sintomática a resposta do ministro Lavrov na coletiva de Turku: ele expressou a esperança de a Ucrânia poder vir a ser, não um fator de divisão na Europa, mas uma espécie de ponte, tal como a Finlândia nos anos da Guerra Fria. Na prática essas palavras do ministro Lavrov significam que também Moscou vê as analogias geopolíticas entre a Ucrânia e a Finlândia.

O principal é não obrigar a Ucrânia a se dividir entre o Ocidente e o Oriente. A realidade sociopolítica ucraniana é bastante mais complexa do que parece a Washington e a Bruxelas, que já cometeram um grande número de erros catastróficos na análise da situação, erros que acabaram por provocar uma guerra civil. Os erros devem ser emendados o mais depressa possível, enquanto o desmoronamento do Estado ucraniano não adquiriu um caráter irreversível.