Márcio Silveira: Por que a classe média tem memória curta?
A classe média tem memória curta. Esqueceu a tragédia que o Brasil viveu na década de 1990, com Collor e, em especial, com Fernando Henrique Cardoso do PSDB (Partido Social Democrático Brasileiro). Partido que tem uma bandeira clara: a favor do neoliberalismo, da abertura econômica escancarada, do domínio do capital financeiro, do alto endividamento externo e de uma subserviência aos interesses dos grandes grupos econômicos mundiais.
Por Márcio Rogério Silveira*
Publicado 18/06/2014 10:37
Esse mesmo partido tem pouco de democrático, pois confabulam com resquícios da ditadura, como militares e grupos religiosos ultraconservadores, além da mídia golpista, com a finalidade de enfraquecer o atual governo e implantar no Brasil um modelo econômico estilo mexicano. Partido que luta contra as duras conquistas alcançadas a partir do governo Lula da Silva. A maioria da classe média negligência isso ou não era nascida ou muito jovem para se lembrar da tragédia que foi o governo FHC!
Na época de FHC as perspectivas, por exemplo, de uma pessoa comum conseguir abrir uma pequena ou média empresa era quase impossível. Chegar à falência no primeiro ano era praticamente uma regra. Hoje uma parte considerável da classe média só existe ou mudou de status porque conseguiu empreender com apoio do Estado brasileiro. Seja pelo fomento estatal, como financiamento ou pelo que é mais importante, ou seja, o aumento da renda da população através do salário mínimo, do aumento salarial do setor estatal, do reaparelhamento do Estado, entre outros fatores que ampliaram grandemente os padrões de consumo da população brasileira. Também na época de FHC o baixo padrão de consumo da maioria da população brasileira dificultava qualquer iniciativa privada, pois os índices de desempregos eram altos, a renda era baixa, a pobreza era extremamente elevada e a classe média era bem mais reduzida. A classe média, principalmente a que existe porque rompemos com FHC e seu partido, esqueceu-se disso!
Hoje a situação econômica e social do Brasil é outra: os índices econômicos e sociais são bem mais favoráveis, com desemprego baixo, padrão de consumo da população mais elevado, índice de pobreza reduzida, engrossamento da classe média (principalmente a que saiu dos porões da pobreza). Enfim, o Brasil de hoje é outro, bem mais sólido economicamente. E a classe média esqueceu-se disso!
O Estado brasileiro foi desmontado pela equipe do FHC e, a partir de 2003, foi reaparelhado, houve a criação de diversas universidades e institutos tecnológicos, abertura de diversos concursos no judiciário, polícia federal, IBAMA e outros órgãos públicos. Formou-se uma classe média estatal que esqueceu ou é muito jovem para se lembrar dos anos que passamos em recessão e que durante vários deles não se abriu um único concurso público, onde engenheiros, arquitetos, prestadores de serviços, professores e outros não tinham empregos.
Hoje o Brasil importa trabalhadores especializados que estão desempregados na União Europeia. Essa classe média formada no serviço público não lembra mais disso!
Então, porque parece que há um grande descontentamento com o governo de Dilma Rousseff?
Por que essa mesma classe média, que pode comprar ingressos tão caros nos novos estádios de futebol, vaiam a presidente Dilma? Primeiro porque a classe média é extremamente suscetível às opiniões da mídia. Mídia que apoiou a ditadura militar e flerta com a volta da mesma, que negligenciou a tortura, inclusive dos seus próprios colaboradores/jornalistas, que tem relações espúrias com o capital financeiro internacional, com dinheiro público barato, que através de um golpe midiático elegeu Fernando Collor e quando o mesmo não lhe interessava mais foi a principal incentivadora e divulgadora do seu impeachment. Segundo porque, como já alertamos, tem memória curta, pois é uma classe média composta pelos seguintes seguimentos:
1. tradicionalmente subservientes das elites conservadoras (aristocratas em decadência com as modernizações);
2. dependentes do capital financeiro especulativo e, em especial, o internacional;
3. atreladas ao comércio importador (que prefere dólar baixo e abertura econômica descontrolada);
4. da nova classe média pouco intelectualizada e que acredita que sua ascensão econômica é fruto somente do seu trabalho e esquece que o crescimento do Brasil é fruto de políticas públicas propositivas;
5. ligada ao Estado e que não consegue perceber que seu emprego foi fruto da reversão da política econômica do governo FHC pelo governo Lula.
As várias camadas da classe média se esquecem disso por que são seduzidas pela mídia golpista, por pura ignorância de não conhecer a história política e econômica do Brasil! Cabe à classe média assumir um papel importante nas transformações do país e deixar de ser joguete da mídia golpista e dos grupos conservadores e aos que não alcançarem o status de classe média, ou seja, os “pobres do Brasil”, a promoção do futuro do Brasil. Isso começa pelas eleições de 2014 e pela derrota política, econômica e moral dos que estão contra o Brasil.
Chega de alimentá-los!!!
* Márcio Rogério Silveira é professor da Universidade Federal de Santa Catarina ( UFSC)