Primeiras rodadas da Copa têm média de quase três gols por jogo

O triunfo do futebol ofensivo de algumas das principais equipes europeias explica a alta média de gols da Copa do Mundo do Brasil até aqui. Essa é a opinião de especialistas ouvidos pelo Portal da Copa. Até o final da rodada de sexta-feira, a “Copa das Copas” tinha média de 2,96 gols por jogo, a melhor desde o Mundial de 1958 e igual à da Copa do México, em 1970, ambas vencidas pela seleção brasileira.

Gol da França contra a Suíça, partida com 7 gols

Em alguns palcos, como a Fonte Nova, em Salvador, a média é ainda mais impressionante. A arena da capital baiana viu 17 gols em três jogos, média de quase seis por partida.

“Mesmo quem prefere marcar, faz longe da própria área. Toma a bola e corre menos para chegar perto do gol adversário. É como se joga na Europa e, como a maioria dos jogadores atua lá, eles quase impõem essa filosofia às suas seleções”, avalia Leonardo Mendes Júnior, autor do best-seller “Guia Politicamente Incorreto do Futebol” e que cobre a Copa do Mundo pelo jornal Gazeta do Povo, de Curitiba (PR).

De fato, 75,5% dos 736 jogadores inscritos no torneio atuam no futebol europeu. As seleções mais internacionalizadas são as de Bósnia, Costa do Marfim, Gana e Uruguai, em que apenas um atleta joga pela liga doméstica. A seleção brasileira possui 82,6% de “estrangeiros”, tendo apenas quatro jogadores defendendo clubes do país: Jefferson (Botafogo), Victor e Jô (Atlético-MG) e Fred (Fluminense). Na Copa de 2010, a seleção brasileira possuía 87% dos atletas atuando fora do Brasil.

Para Rodrigo Bueno, comentarista do canal fechado Fox Sports, a atmosfera de jogar uma Copa do Mundo no Brasil, pátria do futebol-arte e de esquema táticos ofensivos, pode ter motivado algumas seleções a partir para o ataque. “Temos visto isso em especial em algumas equipes sul-americanas, como Chile e Colômbia, seleções que têm tido apoio muito grande de seus torcedores. Uma tentativa de agradar ao torcedor brasileiro com ‘jogo bonito’ e uma onda positiva de comentários sobre a ‘Copa das Copas’ mundo afora podem também influenciar um pouco essa volúpia ofensiva”, acredita ele.

A média do Mundial do Brasil é ainda mais surpreendente se analisarmos os números das duas últimas edições do evento. Na Alemanha-2006, a média foi de 2,29 gols por jogo em um torneio vencido pela Itália, famosa pelo ‘Catenaccio’, esquema pragmático e defensivista. No último Mundial, na África do Sul-2010, no triunfo do tic-tac da Espanha, em que a equipe pregava a posse de bola, mas não fazia isso resultar em muitos gols, a média caiu para 2,26, a segunda pior da história das Copas. Essa tendência faz com que a Copa de 2014 seja ainda mais surpreendente.

“As equipes não têm diminuído o ritmo, apesar da vantagem no placar. No final da Copa das Confederações, por exemplo, o Brasil não manteve o mesmo rendimento após fazer 3 x 0 na Espanha, desperdiçando a chance de chegar a uma goleada histórica. O que se viu em Holanda 5 a 1 Espanha, Alemanha 4 a 0 Portugal e França 5 a 2 Suíça, por exemplo, foi o contrário. Holanda, Alemanha e França continuaram tentando aumentar o marcador, apesar da vitória garantida”, surpreende-se André Luís Nery, um dos autores do recém-lançado “Dicionário das Copas do Mundo”.

A ofensividade deste Mundial também já deixou vítimas. Camarões, Austrália, Inglaterra e Espanha estão eliminadas após só duas partidas. Para o espanhol Antonio Torres, repórter da agência de notícias Efe, a eliminação dos atuais campeões mundiais aconteceu devido à decadência física de um grupo que não se renovou. É algo similar ao que aconteceu com a França de 2002, a Itália de 2010 e o Brasil de 1966, todos ex-campeões do mundo desclassificados ainda na primeira fase da Copa seguinte.

“O caso é espanhol é psicológico, de um grupo que tinha sido vitorioso nos últimos seis anos [com os títulos das Eurocopas de 2008 e 2012 e do Mundial de 2010]. Ficou esgotado mentalmente. E fisicamente também. Jogadores titulares da seleção e do Real Madrid, por exemplo, jogaram a final da Liga dos Campeões. A má forma física do Xabi Alonso foi gritante contra o Chile”, comenta o jornalista.

Para ele, a eliminação da Inglaterra, outra ex-campeã do mundo, se deve a outros fatores. “A Inglaterra apresentou um bom futebol. O time tem jogadores jovens e de qualidade. Mas a defesa não correspondeu em momentos decisivos, como no segundo gol de Luis Suárez, por exemplo [na derrota por 2 x 1 para o Uruguai]”, explica Torres.

Para a maioria dos jornalistas, essa tendência ofensiva deve ser mantida na última rodada da fase de grupos. E a seleção de Luiz Felipe Scolari pode até contribuir para que isso ocorra. “Haverá possíveis goleadas, notadamente no jogo entre Brasil e Camarões. Também haverá times buscando saldo de gols, caso da Suíça, e atletas buscando artilharia e recordes, como Robben, Klose, Neymar etc. O Brasil não tem contribuído muito com a alta média de gols, mas certamente isso mudará contra Camarões”, opina Bueno.

O outro lado da moeda é que tal tendência não deve ser mantida a partir das oitavas-de-final. “Os mata-matas, normalmente, são marcados por resultados apertados. Mas não acredito que, nas oitavas, tenhamos placares magros, de 1 x 0, ou empates sem gols”, afirma Nery. “Você não tem outro jogo para se recuperar e creio que a carga física da temporada começará a cobrar a conta”, concorda Mendes Júnior.

Fonte: Portal da Copa