Serguei Duz: Otan busca “imagens de inimigo”

A Otan não deixa de criar imagem negativa de Moscou para justificar sua existência, disse o chanceler russo, Serguei Lavrov, frisando ser esse o seu objetivo para, a qualquer custo, abalar o seu posicionamento político equilibrado. Mas a Rússia não se enlouqueceu, nem perderá a cabeça.

Por Serguei Duz*, na Voz da Rússia

Anders Fogh Rasmussen

Se não fosse a Crimeia e o Sudeste da Ucrânia, o Ocidente teria inventado um outro pretexto para tentar provocar Moscou a se envolver em conflito, salientou o chefe da diplomacia russa. Em declarações prestadas à agência de notícias Itar-Tass, o ministro realçou que, desequilibrando a Rússia, o Ocidente poderá “apresentar a conta” aos contribuintes como que dizendo: os vossos impostos se destinam para manter a máquina militar da Otan que vos dá garantias da vida segura.

Hoje, nenhuma pessoa sensata terá suspeitado a Rússia de querer agredir a Europa. Tal retórica permite à Otan justificar a sua existência, considera o analista político, Fiódor Voitolovsky: “A Aliança Atlântica tinha sido criada para fazer frente à URSS e à Organização de Tratado de Varsóvia (OTV), instituída por países do bloco socialista em 1955 e dissolvida em 1991. Hoje, na ausência destes dois adversários, a Otan [criada em 1949, nota da redação] continua sendo um obstáculo político-militar para o desenvolvimento de relações econômico-comerciais, sociais e culturais entre a Rússia e os países membros da Aliança.

Podemos constatar que os membros europeus da Otan não querem suportar as avolumadas despesas militares que lhes são impostas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte. É daí que Washington tem criticado os aliados pela falta de disponibilidade de assegurar bem a sua defesa. Por isso, a retórica agressiva persegue um único objetivo de incentivar e obrigar os países-membros europeus a intensificar a realização das iniciativas lançadas por Washington”.

Na falta de meios para a guerra, convém solicitar mais dinheiro para a defesa. É neste contexto e nesta lógica de raciocínio que se cria uma imagem da Rússia “inimiga” como se ela fosse um país que vem ameaçando a segurança da Europa, reputa o perito, Timofei Borodachev: “A Aliança já esgotou suas potencialidades. Mas em vez de fazer a revisão do sistema de segurança regional, começou os preparativos para um conflito. Nos últimos anos, a Otan tem atuado como um bloco militar agressivo. Basta recordar os acontecimentos na Iugoslávia ou na Líbia: ali, a Aliança havia realizado ofensivas militares. A “ameaça” russa, contudo, poderia explicar um “caráter defensivo” da Otan”.

Ultimamente, Moscou tem sido acusada de estar apoiando as milícias do Sudeste da Ucrânia, “intensificando” assim o conflito armado. Há dois anos, o Ocidente havia acusado a Rússia de defender o “tirano e ditador do povo sírio”, Bashar al-Assad.

Entretanto, enquanto o Ocidente vai gastando os esforços e meios na luta contra fantasmas, um autêntico inimigo está ganhando força. Só depois de os extremistas do Estado Islâmico (EI) terem decapitado um cidadão dos EUA, o presidente Barack Obama chegou a falar de ameaça terrorista. Antes, as tentativas da Rússia de qualificar o EI como uma organização terrorista e inclui-la nas respetivas listas da ONU eram refutadas, tendo cabido a Bashar Assad travar a luta contra jihadistas e, ao mesmo tempo, suportar as acusações do Ocidente acerca dos sofrimentos inéditos do povo sírio.

Fomentando o litígio interno na Ucrânia, os patrocinadores ocidentais vieram preparar um terreno fértil para ânimos nacionalistas. E hoje, os nacionalistas ucranianos, ao erguerem a cabeça, se sentem mais fortes e agressivos. Pois se engana muito aquele que pensar ser fácil desmantelar e derrubar, como se fosse por uma varinha mágica, essa máquina ultranacionalista. Na pior das hipóteses, os extremistas irão buscar novas aventuras, se calhar na Rússia. Mas a Rússia não os vai deixar entrar. Nesse caso, poderão “inesperadamente” ressurgir no território da Otan.

*Articulista da emissora de rádio pública Voz da Rússia