Adalberto Monteiro: “Vítima” é espantalho de quem teme o debate
Capa da Veja. Um "monstro" vomita impropérios contra uma frágil Marina, que encolhe-se em pânico. Mal a tal revista chegava às bancas, Marina deu uma declaração que poderia ser uma legenda daquela sinistra ilustração. Disse ela que Dilma seria “a primeira presidente mulher a querer destruir outra mulher”.
Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois e editor da revista Princípios
Publicado 15/09/2014 12:12
Um ou dois dias antes a Folha de S. Paulo já havia alardeado que Marina teria chorado por conta de uma fala “maldosa” do ex-presidente Lula. A marquetagem da Rede-PSB forjou uma “vítima” e com essa “criatura” tenta interditar o debate.
Ao debate programático que Dilma empreende, Marina dá o nome de calúnia. Ao alerta do que pode representar uma candidata órfã, adotada pelos banqueiros e deles porta-voz, a grande mídia chama de “tática do medo”. Domingo, dia 14, a presidenta Dilma esclareceu bem sua posição: “Não cabe a gente se vitimizar. Enquanto o debate for político e não disser respeito à honra e a características pessoais de ninguém, que se dê o debate e falem de projetos, que é da democracia.”
Na verdade, Marina e seu staff perceberam que quanto mais o eleitorado toma conhecimento do plano de governo da Rede-PSB e do pacto que a candidata firmou com a oligarquia financeira, mais o povo se decepciona com a anunciada “nova política”. A candidata Marina veste a máscara de vítima, e a grande mídia completa seu figurino com um manto de “santa.” O enredo se fecha com a presidenta Dilma recebendo a pecha de “algoz”. Querem ganhar a presidência do Brasil com essa encenação barata: a “boazinha” versus a “malvada”. Aí, é subestimar demais a consciência crítica do povo.
Quando se vê acuada por suas próprias contradições e com o fito de travar o debate, Marina posa de mártir e oferece “a outra face”. Quando lhe é conveniente, atira para longe a máscara e destila veneno. Sem prova alguma, alicerçada apenas nas ilações da revista Veja, ela afirmou que o PT, legenda na qual militou a maior parte de sua vida política, teria colocado por “12 anos um diretor para assaltar os cofres das Petrobras.”
Outro exemplo. Num comício em Ceilândia, Distrito Federal, ocorrido no último domingo, 14, ela assegurou que a presidenta Dilma Rousseff está "apenas aguardando" o fim da eleição para reajustar preços. Isto é uma inverdade. A presidenta reiterada vezes descartou tal medida. Ao contrário, quem publicamente cogitou o “tarifaço” foi o badalado guru de Marina, professor Eduardo Gianetti em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico.
Mas prossigamos com o debate.
Domingo, 14, o jornal O Globo publicou com destaque uma entrevista com o economista Alexandre Rands. Nela, ele é apresentado como responsável “pelo capítulo econômico do programa de governo de Marina.” A manchete da entrevista é: “Dilma trata os empresários como prostitutas.” (sic). Eis mais um exemplo da campanha que se prima “pelos bons modos”. Baixarias à parte, vamos ao conteúdo.
Rands bombardeia a política de financiamento do BNDES à produção e aos investimentos. Faz coro ao que já dissera outro guru de Marina, o professor Eduardo Gianetti, que disse ao jornal Valor Econômico que a “indústria pode se preparar para uma operação desmame.” Tanto Rands quanto Gianetti grosseiramente parecem abstrair que não existe uma crise econômico-financeira assolando o mundo. Quer seja por medo de riscos inerentes aos períodos de crise, quer seja pela lógica de ganhos fabulosos nas aplicações financeiras, os bancos privados aqui e em alhures deixaram de ter participação expressiva no fornecimento de crédito ao setor produtivo.
Aliás, em junho último, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu a taxa de depósitos para abaixo de zero (-0,1%) com o objetivo de “forçar” os bancos privados a emprestarem dinheiro para o setor produtivo.
Nos governos de Lula, e também no governo Dilma, o BNDES e os demais bancos públicos tiveram um papel decisivo para diminuir os danos da grande crise sobre a economia nacional e à geração de empregos. O que o plano econômico de Marina propõe, portanto, é uma temeridade, sobretudo porque a crise prossegue. Sem uma presença ativa dos bancos públicos no financiamento dos investimentos, poderia ocorrer uma quebradeira de empresas e corte de postos de trabalho.
A entrevista de Rands tem ainda um trecho muito esclarecedor acerca da principal proposta do programa econômico de Marina: a independência do Banco Central. Perguntado sobre que diferença faria para o atual presidente Alexandre Tombini caso o banco já fosse autônomo, com mandato fixo, Rands respondeu: “Ele teria subido os juros antes. Não ficaria subjugado à presidente. Poderia dizer para ela: cuida do seu quadrado, e eu cuido do meu”. Mais explícito do que isso impossível.
No dia 8 de setembro, Rands e outros colegas do comando da campanha da candidata da Rede-PSB participaram de um evento organizado pelo Bank of America/ Merrill Lynch. Lá, ele defendeu alterar a meta de variação da inflação. Neste particular, o falante professor foi desautorizado por Marina. Mas, a desautorização não versa sobre o conteúdo destacado acima. Ao reafirmar a meta de 4,5% da inflação, como objetivo imediato, Marina sinaliza com austeridade fiscal, leia-se, corte nos investimentos sociais e aumento de juros. Assim reza os ditames do tripé macroeconômico ortodoxo que Marina repete como um mantra.