“Marina tem uma posição favorável aos bancos, eu não”, diz Dilma

“Marina tem uma posição favorável aos bancos, eu não”, rebateu a candidata à reeleição e presidenta Dilma Rousseff em entrevista ao jornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, que foi ao ar na manhã desta segunda-feira (22). 

Dilma Bom Dia Brasil 22092014 - Reprodução

Na entrevista gravada no domingo (21), no Palácio do Planalto, sem cortes e edição, os jornalistas Miriam Leitão, Chico Pinheiro e Ana Paula Araújo tentaram por vezes interromper a resposta da presidenta Dilma, mas a candidata conseguiu, a muito custo, concluir seu raciocínio na maioria das vezes. A saída dos jornalistas globais foi mudar de assunto a cada resposta firme da presidenta.

Explicitamente acusada pela jornalista Ana Paula Araújo de “botar medo nas pessoas” por conta do debate político em torno das propostas da candidata Marina Silva (PSB), Dilma destacou que faz um alerta à população e foi enfática: “Tudo o que eu falo está no programa da candidata. A candidata diz: vou tornar o Banco Central independente. Ora, Banco Central independente nos termos do Brasil é colocar um quarto poder na Praça dos Três Poderes. Aí vai chamar Praça dos Quatro Poderes. Está escrito isso. Mas não é só isso. Ela diz que vai reduzir [o papel do Banco Central e dos bancos públicos] e vocês dizem que eu é que estou colocando medo”.

Dilma esclareceu: “Quero saber como vão financiar a infraestrutura no Brasil. Para fazer qualquer obra de infraestrutura nós damos 30 anos para pagar, cinco anos de carência e 5% de juros. O subsídio está no fato de que os juros de mercado são de 25%. Os juros de mercado não compadecem com financiamento para a infraestrutura. Isso não é medo, isso é real. Não sai rodovia, ferrovia, não sai metrô, não sai VLT”.

Com bancos privados não haverá subsídio para casa própria

A presidenta apontou ainda por que a proposta de redução do papel dos bancos públicos de Marina prejudica o financiamento de casas populares como o Minha Casa, Minha Vida. “Para uma pessoa que compõe a maior faixa do Minha Casa, Minha Vida com salário de até R$ 1.600,00, se tirar um empréstimo no mercado terá de pagar R$ 940,00 ou algo parecido. Se for uma pessoa que recebe R$ 800,00, a prestação da casa própria será maior do que a sua renda. Nós [o governo] cobramos 5% da renda, portando nós colocamos um subsídio de 90 a 95% do valor do imóvel. Passa isso para banco privado. Nunca este país vai ver uma casa própria para a população mais pobre.”

Dilma questionou também como será feito o Plano Safra. Dos R$ 156 bilhões investidos este ano, R$ 134 bilhões são com juros negativos. “Não sei se vocês acreditam que os bancos privados vão financiar isso a esse custo”, frisou Dilma.

Miriam chafurda

Inconformada, Miriam Leitão saiu em defesa de Marina dizendo que a proposta “é de apenas uma ampliação da participação dos bancos privados”. Dilma pontuou: “Aí você terá de me explicar como é reduzir. Reduzir para quanto? Não se pode dizer ‘vou reduzir’ e eu que estou colocando medo. Ela tem um alinhamento claro. Tem uma posição favorável aos bancos, e eu não tenho. Acho que os bancos são importantíssimos, mas sei que o país precisa de infraestrutura, as pessoas precisam de casa própria”.

Miriam falou sobre os exemplos de países que tornaram o Banco Central independente, como Chile e Reino Unido, e de acordo com ela, tiveram resultados positivos no controle da meta da inflação. Dilma asseverou que o papel do BC é “única e exclusivamente controle da inflação” e que nem os Estados Unidos estão conseguindo fazer esse controle. “Hoje, no mundo, ninguém está conseguindo cumprir todas as metas no ponto. Oscila. Lá também oscila”, enfatizou.

Proteção do emprego, salário e investimentos

Sobre a crise internacional, Dilma afirmou que pretende manter estímulos enquanto a crise for grave. “Nós estamos numa situação em que o Brasil está na defensiva em relação à crise internacional, protegendo emprego, salário e investimentos”, argumentou a presidenta, destacando que mantém a proteção desses três pilares “porque vamos apostar numa retomada”.

“Se faz de duas formas: eu posso na retomada gastar menos do que estou gastando para sustentar emprego, salário e investimento”, frisou Dilma, ressaltando que manterá os “estímulos enquanto a crise for grave”.

Petrobras

A presidenta também falou sobre a investigação do esquema de propina em contratos de empresas com a Petrobras. Dilma enfatizou que as irregularidades estão sendo descobertas porque o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu garantiram “mecanismos de autonomia” à Polícia Federal.

Antes do governo Lula, disse a presidenta, “a Polícia Federal não saia investigando o que lhe passasse pela cabeça”. “Fomos nós que descobrimos. Foi a Polícia Federal, ligada ao Ministério da Justiça. A Polícia Federal integra o meu governo. É um órgão do governo”, declarou.

A presidenta também foi novamente questionada sobre a indicação de Paulo Roberto Costa para a diretoria de Abastecimento da Petrobras (Foto: Ichiro Guerra/ Dilma 13). Ela afirmou que Costa foi indicado para a diretoria porque reunia os requisitos para o cargo. “O senhor Paulo Roberto não foi escolhido fora dos quadros da Petrobras. Tem 30 anos de carreira dentro da Petrobras e antes de ir para a diretoria ele fez uma carreira dentro da Petrobras. No governo de Fernando Henrique Cardoso ele foi diretor da Gaspetro, que naquela época cuidava dos gasodutos do país que estavam iniciando e era um órgão importante. Foi também gerente de exploração e prospecção”, recordou Dilma.
Dilma ressaltou que a descoberta de atos ilícitos “é uma surpresa”. “Eu, como quase todos os brasileiros, acredito que os funcionários da Petrobras, de carreira, são pessoas testadas, investigadas. Se soubesse que era corrupto ele estava imediatamente demitido. Não compactuo, não compactuarei com prática ilícita e criminosa de corrupção. Tenho uma trajetória política que mostra isso”, ressaltou a presidenta.

Da Redação do Portal Vermelho, Dayane Santos