Marina desdenha da luta dos mais pobres por políticas públicas 

Assustadora a declaração da candidata à Presidência da República Marina Silva (PSB) desdenhando das políticas públicas transformadoras para ascensão social da população mais pobre.

Por Helena Sthephanowitz*

minha casa minha vida - Divulgação/Governo do Ceará

Na sequência de encontro com presidenciáveis promovido pela Central Única das Favelas (Cufa) no Rio de Janeiro, Marina visitou a sede da entidade na última quinta-feira (25), e disse: "Não é correto o governo, de quem quer que seja, se apropriar do esforço das pessoas e tentar passar a ideia de que tudo o que você conquistou foi porque o governo te deu".

Óbvio que o esforço individual de cada um é fundamental. Não adianta haver oportunidades se a pessoa não souber aproveitá-las. Mas também não há esforço que chegue quando o trabalhador, o estudante, o empreendedor só encontra portas fechadas à sua frente, por não existir oportunidade.

Com essa declaração desastrosa, a candidata do PSB deseduca politicamente a população mais pobre a não participar da disputa para influir nas decisões governamentais.

Cada cidadão precisa de leis e políticas públicas que valorizem seu esforço. O mesmo trabalhador de salário mínimo que lutava para ganhar US$ 100 por mês, hoje ganha mais de US$ 300, graças a políticas de valorização do trabalhador. Da mesma forma, sem política de crédito que só bancos públicos oferecem, e sem incentivos para vender alimentos, o agricultor tem dificuldade para produzir.

O estudante pobre que, muitas vezes, se esforçava mais do que um rico, podia até passar no vestibular, mas se a faculdade era particular, muitos deles não conseguiam prosseguir nos estudos, antes de haver políticas públicas como o ProUni, o Fies e cotas nas universidades para alunos que estudaram em escolas públicas.

Antes de ter uma política pública como o "Minha Casa, Minha Vida", tinha famílias que passavam a vida toda se esforçando para conseguir a casa própria e, por mais que trabalhassem duro, não conseguiam.

Faz parte do esforço do cidadão a consciência para se organizar e fazer a luta política para obter conquistas, inclusive escolhendo qual governo quer na hora de votar, e pressionando os poderes legislativo e executivo durante os mandatos.

Políticas governamentais e governos, na verdade, são disputados tanto por banqueiros que estão com Marina, como por trabalhadores, e pelos mais diversos segmentos da sociedade. Cada um com suas reivindicações, cada grupo puxa a brasa para sua sardinha e cada um vota, apoia, pressiona e participa para ter suas demandas atendidas.

Governos populares não dão coisas como se fossem caridade, eles atendem o que a população necessita, reivindica e reclama.

Quando Marina desdenha destas conquistas sociais realizadas em governos populares, Marina está negando a política como instrumento de transformação da sociedade. No fundo, ela está fazendo apologia neoliberal de que cada um deve se virar apenas por si mesmo, individualmente, dançando como a banda do livre mercado tocar, sem batalhar por conquistas coletivas e por direitos através da organização do Estado.

*Artigo publicado na Rede Brasil Atual