Nelson Rodrigues em memória das artes

Uma rara participação de Nelson Rodrigues como ator e outras relíquias do acervo da Coleção Foto Carlos. O dramaturgo posou para o célebre estúdio fotográfico e deixou que ensaios e outros bastidores teatrais fossem registrados.

Por André Gomes*

Nelson Rodrigues como ator de 'Perdoa-me por me Traíres' ao lado de Léa Garcia, 1957. Foto Carlos/ Cedoc-Funarte

Grande parte do público admirador da obra de Nelson Rodrigues desconhece a informação de que o dramaturgo não se limitou a escrever: em 1957, arriscou-se como ator ao participar de montagem da peça Perdoa-me por me Traíres. O papel escolhido foi o de Tio Raul, um dos pilares para o desenvolvimento da trama, em que uma órfã adolescente reprimida pelos tios descobre ser fruto de um incesto. Imagens desta faceta desconhecida do dramaturgo compõem parte do grandioso acervo da Coleção Foto Carlos, disponível no Cedoc (Centro de Documentação) da Funarte.

O lendário estúdio do fotógrafo Carlos Moskovics, que dos anos 40 aos anos 80 registrou imagens dos principais espetáculos teatrais encenados no Rio de Janeiro, não se limitava, contudo, a fotografar cenas das montagens para fins de divulgação nos meios de imprensa, mas também retratava ensaios, bastidores, reuniões e outra grande variedade de eventos teatrais. Graças à digitalização do acervo da coleção pelo projeto Brasil Memória das Artes, é possível apreciar registros fotográficos de valor inestimável, que revelam curiosidades, como a intimidade profissional daquele que é considerado um dos maiores dramaturgos do Brasil e do mundo.

Flagrantes de Nelson Rodrigues em cena e durante ensaios de alguns de seus espetáculos podem ser observados. Em Perdoa-me por me Traíres, o escritor dividiu cena com a atriz Léa Garcia e com o produtor e ator Gláucio Gill.

Fora do palco, os registros fotográficos integrantes da coleção apresentam o dramaturgo em descontraídos momentos ao lado dos celebrados diretores Zigmunt Turkow e Zbigniew Ziembinski durante os preparativos para montagem do espetáculo A Mulher sem Pecado, em 1946. O mesmo espetáculo ganharia outra montagem, 11 anos depois, desta vez sob direção de Rodolfo Mayer, que aparece em registro fotográfico da coleção, ao lado de Nelson Rodrigues, mostrando para o dramaturgo o croqui do cenário da futura montagem, então estrelada pela irmã do escritor, Dulce Rodrigues, e pelo ator Jece Valadão. A Coleção Foto Carlos apresenta ainda retratos em que o dramaturgo aparece sozinho, ora contemplativo, ora sorrindo, em poses para a posteridade.

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*No Portal da Funarte