Decisão de apoiar Aécio é a defunção do PSB como partido de esquerda

O Partido Socialista Brasileiro decidiu em reunião da sua Comissão Executiva Nacional, realizada nesta quarta-feira (8), em Brasília, apoiar a candidatura de direita, neoliberal e conservadora de Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República.

De acordo com nota assinada pelo presidente nacional da legenda, Roberto Amaral, a instância dirigente deliberou “indicar o apoio à candidatura de Aécio Neves, ressalvadas as realidades dos estados, na expectativa de ver amadurecer um novo modelo de política visando o desenvolvimento e o atendimento às aspirações legitimas do povo brasileiro”. O documento agrega que a indicação “de apoio fica condicionada a acordo a ser discutido e firmado sobre bases programáticas, considerando a urgência de criar o ambiente necessário a um novo ciclo de desenvolvimento”.

Foi o penúltimo ato do ritual traçado pelo condomínio constituído pelo PSB e a Rede, agrupamento da candidata derrotada Marina Silva, na preparação do seu posicionamento no segundo turno da eleição presidencial. O último se anuncia para esta quinta-feira (9) – a proclamação do apoio ao candidato do PSDB pela própria Marina.

Aécio Neves foi à reunião do PSB receber o apoio do partido que um dia, sob o comando de Miguel Arraes, integrou a esquerda brasileira, resistiu ao neoliberalismo, fez oposição consequente ao PSDB, integrou os governos de Lula e Dilma e, à frente do governo de Pernambuco, beneficiou-se das políticas desenvolvimentistas e sociais do governo nacional liderado pelo PT, inclusive o da presidenta Dilma, por quem a maioria da direção pessebista demonstra nutrir um ódio patológico e figadal.

O postulante do PSDB ao Planalto disse aos presentes querer a companhia do partido não só agora no segundo turno da disputa eleitoral, mas também nos quatro anos de governo caso seja eleito. Cambalacho explícito, velha política funcionando a pleno vapor.

Aécio fez questão de lembrar o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. "Não vamos desistir do Brasil", disse, ao terminar seu discurso, repetindo a frase que foi celebrizada por Campos na véspera de sua morte e que foi usada na campanha por Marina Silva.

O documento da Executiva Nacional do PSB lembra que “Eduardo Campos e Marina Silva celebraram em 5 de outubro de 2013 o compromisso de, juntos, ofertarem ao Brasil um projeto político consistente. Pretendiam mudar o Brasil e mudar a política. Seu projeto de País altivo e soberano ganhou corpo no PSB e foi materializado na Coligação Unidos pelo Brasil, fruto da aliança também com PPS, PHS, PRP, PPL, PSL e Rede Sustentabilidade”.

Depois de admitir o fracasso nas urnas a 5 de outubro último, o texto de Roberto Amaral diz que o PSB não pode furtar-se “ao compromisso com o futuro do Brasil, que hoje vê com pesar seu ciclo de crescimento interrompido, pondo em risco conquistas sociais obtidas (…) Especialmente, não podemos nos furtar ao compromisso político assumido em vida por Eduardo. Temos o dever de levar adiante sua missão, para que seu sacrifício não se revele inútil”. Bem lembrado. Foi Eduardo Campos quem comandou o início e o auge da guinada do PSB.

Assim, a direção do partido explicita que a concretização de seus compromissos é a aliança com o que há de mais reacionário, corrupto, entreguista e antissocial na vida política brasileira.

A opção feita pelo PSB não surpreende as forças da esquerda consequente. Vêm de longa data os sinais de que o partido que foi outrora de esquerda, fundador, com o PT e o PCdoB, da Frente Brasil Popular, em 1989, estava percorrendo o rumo da sua transformação em linha auxiliar das forças conservadoras e neoliberais e alçava-se à condição de pretendente a formar um novo núcleo antiprogressista no país. Quando decidiu formar a aliança com Marina Silva, a 5 de outubro do ano passado, atravessou o Rubicão, constituiu este polo que, com o verniz da mal chamada “nova política”, caiu na vala comum das forças reacionárias que forcejam o retrocesso no Brasil. Derrotado fragorosamente nas urnas, aceitou tornar-se em linha auxiliar do mais estruturado polo do reacionarismo e do entreguismo no país – o PSDB e a candidatura presidencial de Aécio Neves.

A campanha eleitoral foi a prática que se desenvolveu como critério para demonstrar essas verdades. A deliberação desta quarta-feira é o epílogo de uma tragédia – a defunção de uma força que jogou durante décadas um papel progressista no país.

A decisão não recolhe a unanimidade dos parlamentares, quadros, militantes, filiados e eleitores do PSB. Estes vivem seu momento de reflexão que – é o nosso sincero desejo – certamente os levará a uma tomada de posição consoante sua ideologia progressista, patriótica e de esquerda.

José Reinaldo Carvalho, editor do Portal Vermelho