Adalberto Monteiro: Dispostos a tudo

Em 7 dias de segundo turno, a fúria do consórcio oposicionista para tentar eleger Aécio Neves já deu mostras de que será capaz de tudo e de mais alguma coisa. Dilma tem 10 minutos na televisão, Aécio tem 24 horas em praticamente todos os grandes veículos de comunicação para atacar a presidenta.

Por Adalberto Monteiro*

E ainda setores do Judiciário, do Ministério Público engrossam o consórcio oposicionista. Mas, se eles estão dispostos a tudo, o povo também está disposto a tudo para barrar o retrocesso e reeleger Dilma Rousseff.

“É tentativa de golpe”, bradou corretamente a presidenta para alertar a instrumentalização eleitoreira da investigação e do processo judicial sobre atos de corrupção na Petrobras. No primeiro turno, quando Aécio estava morrendo afogado, por estranha e providencial coincidência, a revista Veja publicou, por “vazamento”, declarações de Paulo Roberto Costa incriminando lideranças de partidos da campanha de Dilma e, também, o falecido governador de Pernambuco Eduardo Campos. Foi um bote salva-vidas para Aécio. Ele recebeu munição podre para bombardear Dilma, e de quebra também foi atingida Marina, então sua concorrente.

Agora, a coincidência se repete. No dia 9, primeiro dia da campanha de Rádio e TV, são divulgados vídeos, áudios, de Paulo Roberto Costa e de Alberto Yousseff, lançando acusações contra o PT, o PMDB e o PP. E esse material é reprisado até a exaustão nos telejornais e emissoras de rádio. Dessa vez, o juiz encarregado do caso diz: “não foi vazamento”. O magistrado tomou uma estranha decisão que veio resultar nesta nova coincidência. Achou ele que seria bom realizar uma audiência com os dois larápios – dessa vez, com o microfone aberto. Aonde foi parar “o segredo de justiça” que rege o protocolo da “delação premiada”? Convenhamos, é muita coincidência…

Neste caso, a grande mídia transforma os ladrões Youssef e Paulo Roberto em heróis. As denúncias seletivas desses corruptos, ainda não apuradas pela Justiça, são apresentadas com status de verdade. Ademais, escondem da opinião da pública que tais bandidos foram presos em decorrência do combate ferrenho do governo da presidenta Dilma contra a corrupção.

Noutra frente da batalha, no último domingo, Marina declarou apoio a Aécio, tentando ainda dar algum ar de nobreza ao seu adesismo. Ouviu um “não” de Aécio à sua exigência de que o tucano retirasse a redução da maioridade penal de seu programa, e mesmo assim, ela disse tudo bem.

Ao receber o apoio, o tucano proclamou: agora, somos “um só corpo, um só projeto”. Antes ele dizia que a líder da Rede Sustentabilidade era o “PT 2”, desta vez, o que é raro, fala a verdade. A farsa da “nova política" se escancara. A outrora seringueira traiu o povo e, por ora, a Casa Grande a recebe com pompa no alpendre, na sala de estar. Depois, ela terá o mesmo fim de todo filho, ou filha, do povo que trai suas origens: vão lhe oferecer quando muito um quarto de segunda lá nos fundos.

Com este apoio de Marina, antecedido do beija-mão da família Campos e dos nanicos, a grande mídia tenta apresentar Aécio como imbatível. Para isto, praticamente ocultam que parte da Rede Sustentabilidade se rebelou contra a decisão de sua líder. Do mesmo modo, minimizam a vigorosa reação de várias seções estaduais do PSB e de destacadas lideranças, como Roberto Amaral, de apoio a Dilma e contra a capitulação da legenda à direita neoliberal. Os jornalões também escondem a tomada de posição do Psol de pregar o voto contra Aécio e o engajamento de deputados federais eleitos dessa legenda à campanha de Dilma Rousseff.

O fato é que se o consórcio oposicionista está disposto a tudo para reaver o governo e ceifar o ciclo progressista dos governos Lula e Dilma, o povo e as forças democráticas e progressistas do país, crescentemente, também demonstram que estão dispostos a tudo para barrar o retrocesso e reeleger Dilma Rousseff. A intelectualidade e os artistas se pronunciam, os trabalhadores se movimentam, a juventude se desdobra, o povo se engaja. Governadores e parlamentares eleitos da frente ampla realizam intensa agenda pró-Dilma nos estados. As redes sociais fervem.

A vitória virá, mas para que se concretize é preciso intensificar as mobilizações do povo, ter a urgência de seguir alargando a frente ampla e valorizando os novos apoios. A campanha deve aprofundar o trinômio que a rege: balanço das realizações, comparação, e enfrentamento programático incisivo com o adversário, para que o eleitorado esteja alerta sobre o perigo que paira sobre o Brasil. Na minha modesta opinião, Dilma que se agigantou como liderança e candidata, pode e deve avançar com apresentação de uma ou duas propostas de forte apelo junto ao povo.

*Presidente da Fundação Maurício Grabois e editor da revista Princípios