Putin: combatemos o racismo, a xenofobia e o nacionalismo agressivo
Na quinta-feira, dia 16 de outubro, será realizada a visita do presidente da Rússia Vladimir Putin a Belgrado, capital da Sérvia. Durante a visita o presidente irá realizar conversações com seu homólogo sérvio Tomislav Nikolic, assim como participar nas comemorações solenes, em Belgrado, do 70º aniversário da libertação da cidade dos ocupantes nazistas.
Publicado 15/10/2014 19:42
O Portal Vermelho reproduz artigo da Voz da Rússia com um resumo da entrevista concedida por Vladimir Putin ao jornal diário sérvio Politika por ocasião de sua visita.
Qual a importância que atribui a eventos como as comemorações por ocasião dos 70 anos da libertação de Belgrado dos nazistas?
A importância das comemorações planejadas dificilmente pode ser sobrevalorizada. Há setenta anos os nossos povos derrubaram juntos a ideologia criminosa de ódio pela humanidade, a qual ameaçava a existência da civilização. Hoje é importante que as pessoas dos diferentes países e dos diferentes continentes se recordem de quais poderão ser as terríveis consequências de uma crença na sua própria excepcionalidade, das tentativas em alcançar objetivos políticos duvidosos por quaisquer meios e do desrespeito pelas normas elementares do direito e da moral. É necessário tudo fazer para evitar que tragédias destas se repitam no futuro.
Infelizmente, a “vacina” contra o vírus nazista, produzida pelo Tribunal de Nuremberg, está perdendo força em alguns países da Europa. Uma prova evidente são as manifestações descaradas de neonazismo que já se tornaram habituais na Letônia e noutros países do Báltico. Nesse aspeto, a situação na Ucrânia suscita especiais preocupações, tendo em fevereiro ocorrido um golpe de Estado anticonstitucional, cuja força motriz foram os nacionalistas e outros grupos radicais.
Hoje o nosso dever comum é combater a glorificação do nazismo. É combater com firmeza as tentativas de revisão dos resultados da Segunda Guerra Mundial. É lutar de forma consequente contra quaisquer formas e manifestações de racismo, xenofobia, nacionalismo agressivo e chauvinismo.
Na sua opinião, qual é o objetivo final das sanções econômicas da União Europeia e dos EUA contra a Rússia? Qual poderá ser sua duração e até que ponto elas podem ser prejudiciais para a Rússia?
Seria mais correto colocar essa questão aos EUA e à União Europeia, cuja lógica é difícil de compreender. Para qualquer pessoa isenta é evidente que não foi a Rússia a favorecer o golpe de Estado na Ucrânia, o qual provocou a atual grave crise política interna e divisão entre os cidadãos.
Foi precisamente a conquista anticonstitucional do poder que se tornou no ponto de partida para os acontecimentos posteriores, inclusivamente na Crimeia. Percebendo a complexidade e a imprevisibilidade no desenvolvimento da situação, os habitantes da Crimeia, defendendo seu direito à língua materna, cultura e história, decidiram realizar, totalmente de acordo com a Carta das Nações Unidas, um referendo que resultou na reunificação da península com a Rússia.
Os nossos parceiros têm de perceber, sem qualquer dúvida, que as tentativas de pressionar a Rússia através de medidas restritivas unilaterais e ilegítimas não aproximam a resolução, mas apenas dificultam o diálogo. Como se pode falar de intenções em reduzir a tensão na Ucrânia, quando as decisões sobre novos pacotes de sanções são aprovadas praticamente em simultâneo com a obtenção de acordos para um avanço no processo de paz? Se o principal é a intenção de isolar o nosso país, esse é um objetivo absurdo e ilusório. Certamente que ele é impossível de alcançar, mas isso pode, com certeza, provocar grandes danos na saúde econômica da Europa e mesmo de todo o mundo.
Quanto à duração da vigência das medidas restritivas, isso depende igualmente dos EUA e da União Europeia. Do nosso lado, nós iremos abordar de forma equilibrada a análise de riscos e consequências da aplicação das sanções e reagir de acordo com os nossos interesses nacionais. É evidente que a redução da confiança mútua não pode deixar de influenciar negativamente tanto o clima empresarial internacional em geral, como a atividade das empresas europeias e norte-americanas na Rússia, as quais terão dificuldades em recuperar dessa perda de reputação. Também os outros países irão pensar seriamente até que ponto será racional confiar seus meios financeiros ao sistema bancário estadunidense e aumentar sua dependência da cooperação econômica com os EUA.
Como vê o futuro das relações russo-ucranianas? Depois de tudo o que aconteceu, a parceria estratégica entre os EUA e a Rússia será retomada ou as relações terão no futuro um desenvolvimento diferente?
Para a Rússia as relações com a Ucrânia sempre tiveram e continuarão a ter um papel muito importante. Os nossos povos estão indissociavelmente ligados por raízes comuns espirituais, culturais e civilizacionais. Nós habitámos durante séculos o mesmo país e essa enorme experiência histórica, e o entrelaçar de milhões de vidas, é impossível de apagar ou de esquecer.
Apesar da atual etapa difícil nas relações russo-ucranianas, nós estamos interessados em uma cooperação construtiva, equitativa e mutuamente vantajosa com nossos parceiros ucranianos. Na prática isso será possível depois da obtenção de uma paz estável e da estabilização da situação na Ucrânia. Por isso, nós esperamos que esta longa e profunda crise política e econômica seja superada.
Hoje surgiu uma oportunidade real de acabar com este conflito militar, que é de fato uma guerra civil. Já foram dados os primeiros passos nesse sentido. É necessário iniciar o mais depressa possível um verdadeiro diálogo interno ucraniano com a participação de representantes de todas as regiões e de todas as forças políticas. Essa abordagem ficou registrada na Declaração de Genebra de 17 de abril. No âmbito desse diálogo nacional deverão ser discutidos os mecanismos constitucionais e o futuro do país, no qual viver seja confortável e seguro para todos os cidadãos da Ucrânia sem exceção.
Quanto às perspectivas das relações russo-americanas, nós sempre pretendemos ter relações abertas de parceria com os EUA. Contudo, em troca recebíamos reservas e tentativas de ingerência em nossos assuntos internos.
Aquilo que se passa desde o início do corrente ano é ainda mais desencorajador. Washington apoiou ativamente o “Maidan” mas, quando seus protegidos em Kiev, com seu nacionalismo fanático, fizeram voltar contra eles uma parte considerável da Ucrânia e mergulharam o país em uma guerra civil, os EUA passaram a acusar a Rússia de esta ter provocado a crise.
Agora o presidente Obama incluiu, discursando na tribuna da Assembleia-Geral da ONU, a “agressão russa na Europa” nas três principais ameaças atuais à humanidade, ao lado do mortífero ebola e do movimento terrorista do Estado Islâmico. Juntamente com as restrições impostas contra setores inteiros da nossa economia, essa atitude dificilmente poderá deixar de ser considerada como hostil.
Os EUA chegaram a anunciar com alarido que iriam suspender a cooperação conosco na área da exploração espacial e da energia nuclear. Eles congelaram a atividade da Comissão Presidencial russo-americana, criada em 2009 e que incluía 21 grupos de trabalho, incluindo os que se dedicavam ao combate ao terrorismo e ao narcotráfico.
Entretanto, a atual quebra nas relações entre os nossos dois países não é a primeira. Esperamos que os nossos parceiros percebam a irracionalidade das tentativas em chantagear a Rússia e recordem quais podem ser os resultados da discórdia entre grandes potências nucleares na estabilidade estratégica. Por nossa parte, estamos dispostos a desenvolver uma cooperação construtiva baseada nos princípios da igualdade e de um verdadeiro respeito pelos interesses recíprocos.
Fonte: Voz da Rússia