“Um olhar incomum” expõe o ponto de vista de uma artista plástica cega

A exposição “Um olhar incomum II”, da artista plástica Ananda Giordano Peres está em cartaz na Galeria PontoArt, na capital paulista até o dia 29 de novembro. A ora conta com pinturas, desenhos, colagens e objetos que artista produz em conjunto e com suporte técnico de suas professoras e mentoras Carla Caruso, escritora e ilustradora, e Helena Ribeiro, artista plástica e arte-educadora.

Obra de Ananda Peres - Divulgação
A curadoria é de Lucília Giordano e Marrey Peres Jr., administradores da Galeria PontoArt há seis anos e os pais da artista. A exposição conta com identificações e textos em braille e com o recurso de áudio-interpretação das obras, com total acessibilidade aos deficientes visuais. O principal objetivo da mostra: “Um Olhar Incomum II”, é mostrar e compartilhar com o público a evolução de Ananda, suas criações e inspirações nesse período, com mais de 50 obras.
 

Ananda Peres é cega de nascença, porém durante toda a sua vida conviveu com o universo das expressões artísticas. Interessa-se principalmente pela música e pelas artes plásticas, sendo que o interesse por essa área foi estimulado pelo fato de seu avô Marrey Luiz Peres, ter sido um artista plástico muito atuante e também pela sua constante presença na Galeria PontoArt.

Além de aulas de bateria e de canto, Ananda frequenta regularmente aulas de arte no Atelier da arte-educadora Helena Ribeiro e a oficina de escrita com a escritora Carla Caruso. E segundo as palavras da escritora, “os textos da Ananda são criativos, e cada vez mais ela se apropria da linguagem escrita. É um prazer e uma grande felicidade compartilhar com ela as descobertas e surpresas que surgem das suas criações artísticas”.

E para outra profissional, Helena Ribeiro, “trabalhar com a Ananda é algo meio inexplicável, pois tenho outros alunos, além da Ananda, mas com ela tudo é muito especial. Os resultados são totalmente diferentes dos outros alunos, independente da técnica utilizada. Ela é muito inteligente, sensível. Nossa relação é muito autêntica, aberta e franca. A arte com a Ananda é sempre mais intensa e o lidar com as cores é como se estivéssemos tratando dos nossos próprios sentimentos”, esclarece a professora e arte-educadora.

Em um momento de reflexão voltado às artes, melhor dizer que a inclusão aqui se dá em duas vias distintas. A primeira via, por meio da criação de um universo paralelo no qual habita o “olhar incomum” da pessoa com deficiência visual, na tentativa de sensibilizar e se comunicar com as pessoas do outro universo preponderantemente visual. A segunda via, através da disponibilização de material táctil e de recursos audíveis, proporcionando às pessoas com deficiência visual, participarem de uma exposição de artes preponderantemente visuais.
Esse é um dos papéis e funções da arte, principalmente vista sob o aspecto da contemporaneidade: expor as pessoas e mentes às experiências que possam romper com os possíveis paradigmas que, neste caso, agem no sentido de dar uma perspectiva falsa ao aspecto da inclusão social das pessoas com qualquer tipo de deficiência.

Na construção de universos paralelos e inclusivos e em consequência dos estímulos culturais e da própria paixão pelas artes, os deficientes visuais podem participar da exposição, construindo conhecimentos e sentimentos estéticos próprios e Ananda pode desenvolver, juntamente com Carla e Helena, uma produção em grafismos, textos e objetos que convergem para uma estética também incomum, assim como seu olhar. Isto com uma natural evolução de sua arte, utilizando experimentos e técnicas variadas e promovendo a construção de uma manifestação estética aliada ao visual, rítmico e táctil, sendo estes últimos aspectos e sentimentos comuns na pessoa com deficiência visual.

A exposição pode ser visitada de terça-feira a sexta-feira das 11h às 18h, aos sábados das 12h às 17h. A galeria fica na rua Inácio Pereira da Rocha, 246, na Vila Madalena em São Paulo.