Eleições na Tunísia evidenciam perda de influência política do Islã

Apesar de estarem incompletos, os resultados das eleições legislativas na Tunísia, há uma semana, evidenciam a decadência do Islã político como opção de governo.

Protestos em Túnis - AFP/Fethi Belaid

A contagem parcial de votos da Alta Comissão Eleitoral mostra que a coalizão laica Nidaa Tunis infligiu uma derrota em toda a linha ao outrora maioritário partido An Nahda, monopolizador do poder desde a fuga do país do ex-presidente Zine O Abidine Ben Alí, em 2011.

Conforme estes resultados, Nidaa Tunis obteve 85 das 217 cadeiras da Câmera de Representantes do Povo, o parlamento unicameral, enquanto An Nahda obteve 69.

A influência dos islamitas começou a cair desde princípios do ano passado quando um alegado membro de um grupo salafista matou a tiros o presidente do Partido dos Patriotas Democráticos, Chukry Belaid.

O assassinato de Belaid, crítico persistente de An Nahda e em particular do ministro do Interior, Alí Larayedh, desatou uma onda de protestos populares que recordaram as manifestações que obrigaram Ben Ali a abandonar o país.

Um fato similar, em julho seguinte, desta vez com o constituinte Mohamed Brahmi, foi a gota d’água e voltou a lançar às ruas manifestantes.

Durante o predomínio de An Nahda, membros extremistas desse agrupamento e de grupos salafistas assassinaram e golpearam em várias ocasiões membros de partidos laicos e da poderosa União Geral de Trabalhadores (UGTT), o que criou temores entre a população.

A direção de An Nahda foi incapaz de fazer uma leitura objetiva dos signos que afloravam em seu país, como demonstra a alegação de Gannouchi, no sentido de que seu agrupamento arrasaria nas eleições.

Outros indícios afloraram no caminho, um dos mais palpáveis, a pronta aprovação da Carta Magna pela Assembleia Constituinte, depois da ascensão ao poder do independente Mehdi Jomaa, que era o titular na pasta de Agricultura.

A direção do partido islamita cometeu outro grave erro com as deflações na entrega do poder através das tentativas de condicionar, sem sucesso, a entrega da chefia do Governo à preservação de certos poderes.

Na segunda metade do ano passado a situação interna complicou-se por conta de distúrbios populares em várias zonas do interior do país. A população acusava os dirigentes locais designados por An Nahda de inaptidão. As divergências foram resolvidas através da mediação da UGTT.

Para piorar ainda mais a situação no país, grupos armados salafistas causaram mortes às forças armadas tunisianas no ocidente do país, em coincidência com acontecimentos regionais, em particular a derrocada pelo Exército egípcio, em julho de 2013, do ex-presidente Mohamed Morsi.

Membro proeminente da Irmandade Muçulmana, cujos orçamentos compartilhava com a An Nahda, Morsi foi expelido da presidência no meio de violentos protestos nacionais em demanda de sua demissão, acusado de querer islamizar a Egito.

Os acontecimentos na Líbia, o vizinho oriental da Tunísia, onde o ramo local da HM também mostrou intenções de monopolizar o poder com o apoio de milícias armadas, influiu de maneira negativa.

Os objetivos de predomínio da HM chocam com a política regional de poderosos inimigos, em particular de países da península Arábica como Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos, que se sentem ameaçados pela expansão da influência da confraria.

Esse conjunto de situações deve ter influído sobre as intenções de voto dos cinco milhões de eleitores tunisianos, dos quais quase 70% foram às urnas e propiciaram aos islamitas um golpe do qual irão demorar para se recompor.

O fato de que seus rivais de Nidaa Túnis, cujo presidente Beji Caid o Sebsi tem 87 anos, sejam um agrupamento no qual formam-se personalidades da cena tradicional, pode ser tomado como um voto negativo contra Ahn Nahda.

Fonte: Prensa Latina