Morre, aos 97 anos, o poeta Manoel de Barros  

O poeta Manoel de Barros morreu na manhã desta quinta-feira (13), aos 97 anos, em Campo Grande (MS). Ele estava internado havia duas semanas e, durante esse período, passou por uma cirurgia no intestino. Conforme boletim médico, o falecimento ocorreu às 8h05 (horário de MS). 

Morre em Campo Grande aos 97 anos o poeta Manoel de Barros

Segundo o hospital, o poeta teve falência de múltiplos órgãos. No dia 24 de outubro, ele passou por cirurgia por causa de obstrução intestinal.

Um dos principais poetas brasileiros, Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá, no Beco da Marinha, em 19 de dezembro de 1916. Nos últimos anos, o poeta morou em Campo Grande.

O poeta tinha um estado de espírito tão forte que, em 2003, ele estreou na prosa justamente com um livro em que iniciava a trilogia sobre sua vida. E, como se tratava de Manoel de Barros, não era um retrato fiel, mas um relato puramente personalizado. Assim, depois de Memórias Inventadas – A Infância, ele lançou Memórias Inventadas – A Segunda Infância.

O tempo, para o poeta, não era seguia sua ordem cronológica. O que seria o livro da mocidade transformou-se em segunda infância que é, convém explicar aos desavisados, a forma como o poeta tratava de sua maturidade. Os textos, acompanhados das iluminuras de sua filha, Martha Barros, percorrem temas vitais da existência, como a descoberta do amor, do sexo e até do comunismo.

Falam das peladas de barranco do Dona Emília Futebol Clube até da indiana da pensão na Rua do Catete – ela, 25 (ele, 15), deixava a porta do banheiro meio aberta e isso "abatia" o poeta.
A linguagem continuava artesanalmente construída, sem se ater a convenções gramaticais ou sociais, mas sempre em busca da simplicidade. "Porque me abasteço na infância e minha palavra é Bem-de-Raiz e bebe na fonte do ser", escreveu Barros.

O primeiro livro, no entanto, não foi de poesia, mas também não existe mais. A história de seu sumiço merecia um romance: aos 18 anos, quando vivia no Rio de Janeiro, onde frequentava as reuniões da Juventude Comunista, Manoel pichou as palavras "Viva o Comunismo" em uma estátua. Quando foi procurado pela polícia na pensão onde morava, o futuro poeta não foi preso por conta da intervenção da dona do estabelecimento, alegando ser ele um bom menino e também escritor, autor de Nossa Senhora de Minha Escuridão. Sensibilizado, o chefe da operação decidiu não prender Manoel, mas também resolveu ficar com o exemplar do livro.

Reconhecimento

Como forma de reconhecimento por seu trabalho e talento, Manoel recebeu 13 prêmios, entre eles o Prêmio Jabuti de Literatura por duas vezes. Em 1987, ganhou o prêmio Jabuti por O Guardador de Águas. E, em 2002, O Fazedor de Amanhecer, livro infantojuvenil do poeta, foi eleito a melhor obra de ficção do ano anterio. rFoi somente na década de 1980, quando foi elogiado por Millôr Fernandes, é que Manoel de Barros tornou-se conhecido no eixo Rio-São Paulo.

Manoel de Barros publicou 28 obras no Brasil. A primeira foi em 1937 e a última em 2013, quando já tinha 97 anos. O poeta também tem obras publicadas em Portugal, França e Espanha.

Com agências