Paquistão é uma fonte de terrorismo ou sua vítima?

Na terça-feira, o Instituto para Economia e Paz, com sede em Londres, publicou o relatório Índice Global do Terrorismo 2013. O terceiro lugar em quantidade de atentados terroristas foi ocupado pelo Paquistão, tendo cedido os primeiros lugares apenas para o Iraque e o Afeganistão.

Por Boris Volkhonsky, na Voz da Rússia

Conflitos no aerporto de Carachi

Nesse contexto surge uma questão: o Paquistão será um país do qual provém a ameaça do terrorismo internacional, segundo afirmam alguns peritos, ou será ele próprio uma vítima do fenômeno mais perigoso que ameaça o mundo moderno?

A acreditar no presidente norte-americano Barack Obama, a única organização terrorista qua ameaça mais ou menos a segurança da humanidade é hoje o Estado Islâmico. Mas mesmo essa ameaça se esbate (a acreditar mais uma vez em Obama) quando comparada com a que representa a epidemia do ebola ou a política da Rússia em relação à Ucrânia.

Contudo, o Instituto para Economia e Paz não parece ter acertado suas pesquisas com a opinião do presidente dos EUA. De acordo com dados do Instituto, a ameaça do terrorismo está alastrando: em 2013 no mundo ocorreram 10 mil atentados terroristas que provocaram a morte a 18 mil pessoas, o que representa mais 61% que os ocorridos em 2012.

O Paquistão ocupa nessa lista um infeliz terceiro lugar, tendo ficado atrás apenas do Iraque e do Afeganistão. Agora coloquemos outra questão: o que demonstram esses números? Será que a grande quantidade de atentados realizados nesses países significam que eles estão na origem (ou são mesmo os patrocinadores, segundo alguns afirmam) do terrorismo internacional, ou eles escondem algo de diferente?

Os três primeiros países e a Síria, que ocupa a quinta posição, não apenas têm estado nos últimos anos no foco das atenções por parte EUA, mas têm sido alvo de medidas de agressão direta: a intervenção militar no Iraque e no Afeganistão, o apoio declarado aos militantes que combatem o governo de Bashar Assad na Síria e, por fim, as constantes violações da soberania do Paquistão pelos drones e comandos norte-americanos.

Tudo isso é constantemente apresentado em Washington como sendo “luta antiterrorista”, mas por qualquer razão os resultados dessa luta são completamente opostos aos objetivos anunciados. Daí se pode tirar uma conclusão bastante óbvia: Barack Obama decidiu não incluir o terrorismo internacional entre as principais ameaças à humanidade, porque uma parte enorme da responsabilidade pelo aumento do terrorismo nos últimos anos cabe precisamente à Administração norte-americana.

Neste caso surge uma questão: o que fazer então? Foi precisamente ao combate conjunto ao terrorismo que foi dedicada uma atenção especial durante a recente visita do novo presidente do Afeganistão Ashraf Ghani Ahmadzai a Islamabad, a capital paquistanesa. Tudo indica que Cabul percebeu finalmente que já não restam esperanças de os protetores ocidentais garantirem a segurança no país depois da saída do contingente principal das forças internacionais. Isso faz aumentar de forma substancial o papel do fator regional na solução dos problemas do Afeganistão depois de 2014.

Só que, apesar disso, ainda se mantém o fator da ameaça externa: os militares norte-americanos não irão abandonar definitivamente o Afeganistão em 2014: no país irá permanecer um mínimo de 10 mil militares estadunidenses e outros 5 mil soldados dos países aliados dos EUA. Mas quem sabe se os EUA não irão querer repetir o modelo de ação já experimentado no Iraque e na Síria e que resultou no aparecimento e crescimento da influência do Estado Islâmico?

Fonte: Voz da Rússia