Anwar Assi: A politicagem no prêmio Nobel da Paz

Por mais dramática que seja a história de Malala Youssafzay, atacada covardemente por terroristas do Talibã, a concessão do prêmio Nobel da Paz de 2014 para a jovem paquistanesa de 17 anos e ao indiano, Kailash Satyarthi, mostra que a politicagem no seu nível mais baixo rola solta na escolha dos membros do Comitê Nobel norueguês.

Por Anwar Assi

Charge de Latuff

Revela mais uma vez que nem sempre quem merece ou quem trabalha de fato pela paz, leva o prêmio. Exemplos não faltam. Um deles é o do atual presidente do Estados Unidos, Barack Obama, que foi agraciado em 2009 sem fazer jus ao título de “campeão da paz” mundial.

Desde que ganhou o prêmio, Obama e seu governo já bombarderam vários países, estimularam o conflito na Ucrânia e financiaram a guerra na Síria, favorecendo o fortalecimento da Al-Qaida e o surgimento do ISIS, o grupo terrorista da vez. Sem falar que ainda não desmantelou a prisão de Guantânamo como havia prometido.

Outro exemplo de politicagem foi a concessão do prêmio “da Paz” para o criminoso israelense Shimon Peres, o carrasco que ordenou em 1996, quando era primeiro-ministro de Israel, as Operações “Vinhas de Ódio”. Os ataques resultaram na morte de centenas de libaneses, incluindo mais de 100 civis, entre elas mulheres e crianças, que buscavam refúgio contra os bombardeios isrsalenses, em uma base da ONU (Organização das Nações Unidas), na cidade de Qana, no sul do Líbano.

Enquanto assassinos como Barack Obama e Shimon Peres já foram contemplados com o Nobel da Paz, a brasileira Zilda Arns, que fez mais pela paz do que os dois criminosos juntos, nunca foi agraciada com o prêmio.

Merecimento

O ex-funcionário da CIA, o analista de sistema Edward Snowden, é o verdadeiro campeão da paz. Snowden merecia ganhar o prêmio Nobel da Paz de forma disparada. As denúncias que revelaram o mega esquema de espionagem que o governo dos Estados Unidos promoveu em todo o mundo , inclusive contra seus aliados, tiveram mais importância para a paz mundial do que Malala e Sartyarthi, juntos.

Lutar pela educação não é algo exclusivo da garota paquistanesa e nem do indiano. Agora, enfrentar a maior potência do mundo e colocar sua vida em risco para denunciar uma das maiores histórias de violações de direitos humanos do mundo – a espionagem dos Estados Unidos –, não é para qualquer um.

Snowden não levou o prêmio da Paz para não desagradar aos Estados Unidos. Se ele fosse russo, chinês, iraniano ou venezuelano, provavelmente ganharia o título. Mas quem quer se indispor com os Estados Unidos? Por este motivo, massificaram a história de Malala, massificação essa patrocinada por um governo aliado dos Estados Unidos – o Reino Unido –, que assassinou milhares de crianças iraquianas durante a invasão do Iraque, em 2003.

Tenho admiração por Malala e sou anti talibã. Porém, não há dúvidas que a escolha de Malala tem o claro objetivo de evitar que Snowden ganhasse o prêmio Nobel da Paz. O indiano Satyarthi foi colocado “no meio” só para dar uma maquiada.

Crianças palestinas

Se a luta louvável para que crianças tenham acesso à educação merece o prêmio da Paz, então as crianças palestinas merecem esse título também. Afinal, o governo e o exércio do Estado Judaico de Israel (EJI) destruiu mais escolas do que o Talibã. Os terroristas sionistas do EJI impediram que mais crianças tivessem acesso à educação do que os terroristas wahabitas do Talibã. O próprio governo do “campeão da paz” Obama já matou várias crianças no Afeganistão e Paquistão com seus drones (aviões não-tripulados).

Definitivamente, não faltam critérios para aqueles que escolhem os “campeões da paz”. O que falta mesmo é óleo de peroba na cara de pau desses hipócritas que sujaram a credibilidade do prêmio Nobel da Paz.

*Jornalista brasileiro, já colaborou com The Daily Star, único jornal de língua inglesa do Líbano.