A calcinha simboliza resistência feminina à violência, diz vereadora

A Câmara Municipal de Aracaju-Sergipe nesta semana foi palco de uma ação polêmica, onde a vereadora Lucimara Passos (PCdoB), depois de meses ouvindo ofensas, tirou uma calcinha do bolso e a levantou na tribuna como um ato simbólico da resistência feminina contra a violência.

Lucimara Passos - Reprodução

Com um discurso firme e números alarmantes, Lucimara enfrentou o machismo que impera na sociedade. Ela escolheu a data 25 de novembro, que marca o Dia Internacional da Não Violência Contra as Mulheres, para dar resposta aos discursos de ódio proferidos constantemente pelo vereador Agamenon Sobral (PP) de incitação à violência e violação dos direitos humanos.

Lucimara apresentou dados da ONU que mostram um quadro assustador de opressão machista pelo mundo. Segundo os números, uma a cada três mulheres sofre algum tipo de agressão física ou sexual. Segundo ela, Agamenon constantemente utiliza a tribuna para incitar a violência, é comum afirmações em defesa de “bandidos pendurados em praças de cabeça para baixo” ou a volta da ditadura militar.

Mas a gota d´água foi o dia que Agamenon decidiu usar a tribuna para, enquanto representante eleito por uma parcela da população, “condenar” uma mulher a uma “surra em praça pública” seguida de um “banho de salmoura” para puni-la por ter entrado na igreja para se casar sem calcinha.

Se a história do casamento sem a peça íntima é verdade, ou não, pouco importa. A questão é justamente essa, Lucimara exibiu uma calcinha no plenário para deixar claro que nenhuma mulher deve ser agredida ou violentada pelo fato de estar usando ou não uma roupa íntima.

Incitar a violência contra a mulher pode, exibir uma calcinha não

Depois da grande repercussão que o pronunciamento da vereadora teve em todo o Brasil, ela recebeu apoio de mulheres de várias regiões e atendeu muitos veículos de imprensa. Em uma das entrevistas o repórter que parece não ter entendido a moral da história perguntou “mas afinal, você estava usando uma calcinha ou não?!”. Ela afirma que o motivo foi justamente chamar a atenção. “Não houve exagero nenhum. Se eu fizesse uma nota de repúdio e lesse na tribuna ninguém ficaria sabendo. Pensei num modo de repercutir os dados que apresentei – que são seríssimos -, mas tive que usar a calcinha como símbolo, não tive outra intenção e não tem outra conotação, como tentam desqualificar o ato”, disse em entrevista ao Portal Vermelho.


Desde Buenos Aires uma apoiadora da vereadora enviou uma foto em alusão à exibição da calcinha

Apesar de ter conseguido destaque nacional, a Comissão de Ética da Câmara de Aracaju não entendeu o recado. Além de não atender aos pedidos da vereadora para que o comportamento agressivo do parlamentar seja punido, o presidente da comissão Agnaldo Feitosa (PR), ainda afirmou que ela poderá ser “responsabilizada por expor a Casa”. Ou seja, um vereador incitar a violência, dizer que mulheres devem “levar surra e banho de sal” em praça púbica, não fere o regimento interno da Câmara. Mas, uma representante eleita pela população ocupar o espaço para condenar todo tipo de violência é passível de punição. A inversão de valores neste caso é clara.

Vale lembrar ainda que o vereador Agamenon Sobral compõe a base de apoio ao prefeito João Alves Filho (DEM), enquanto Lucimara é oposição à atual administração. A tentativa da bancada da situação de desqualificar o discurso da vereadora é também uma articulação política.

Apesar da omissão da Câmara, Lucimara conta com apoio popular. Os movimentos sociais da cidade se uniram e na próxima quarta-feira (3) vão fazer um ato em frente à Câmara em repúdio à incitação à violência contra a mulher. O símbolo da resistência não poderia ser outro, centenas de calcinhas serão expostas.

Veja o vídeo com o discurso da vereadora:  

Do Portal Vermelho