Retrospectiva 2014: O CNA sul-africano festeja vitórias
O movimento de libertação mais antigo da África, o Congresso Nacional Africano (CNA), registrou em 2014 um novo triunfo popular nas urnas que o ratificou como o partido melhor votado na África do Sul depois de duas décadas no governo.
Por Jorge V. Jaime*
Publicado 23/12/2014 12:02

Milhões de cidadãos na chamada Nação do Arco-íris foram às urnas em maio para respaldar o histórico partido político de Nelson Mandela, que desde 1994 tem mantido um trabalho sustentado para o bem de um povo multiétnico, sem distinção de cores, culturas ou línguas.
Após 20 anos com a responsabilidade de dirigir o executivo desde Union Buildings, o Congresso Nacional Africano mantém um amplo respaldo popular em oito das nove províncias sul-africanas, e em Western Cape, onde governa a oposição, desde 2009 sua influência se multiplica a cada dia.
O partido, fundado pelo doutor John Langalibalele em janeiro de 1912, tem garantido importantes conquistas sociais ao maior país do cone sul africano desde a derrota do apartheid, principalmente em benefício das comunidades mais desfavorecidas.
Quase 19 milhões de sul-africanos, 74,5% da população com direito a voto, participou da quinta eleição parlamentar quinquenal desde a aprovação do voto universal para adultos depois da derrota do regime racista.
A batalha eleitoral das organizações opositoras foi, em síntese, por alcançar um segundo lugar, aumentar algum percentual em popularidade no âmbito das províncias e uma ou duas cadeiras adicionais no Parlamento, com sede em Cape Town.
Na Assembleia Legislativa Nacional da África do Sul – composta por uma dezena de grupos políticos – o CNA manteve sua ampla maioria, ao mesmo tempo que manteve os presidentes do Parlamento e do Conselho Geral das Províncias.
O secretário geral do Congresso Nacional Africano, Gwede Mantashe, agradeceu o apoio eleitoral em massa do povo depois de um período de 20 anos do partido de Mandela no governo central da África do Sul.
Mantashe, Malusi Gigaba, Jackson Mthembu e outros altos dirigentes do CNA destacaram que a vitória "foi rotunda" apesar das sucessivas campanhas negativas de meios de comunicação e da oposição contra o partido e o Chefe de Estado, Jacob Zuma.
Os sul-africanos têm mostrado um voto de censura contra aqueles indivíduos que querem minar os avanços históricos alcançados pelo CNA, e nós não defraudaremos as legítimas aspirações populares, ressaltou Mantashe.
Por seu lado, em seu discurso central ante o Parlamento depois das eleições, o presidente Zuma comprometeu-se com o povo da África do Sul a manter o progresso econômico-social do país, que neste ano deve ter um crescimento do PIB de 1,4%.
"Nosso partido foi honrado novamente com o desejo popular de eleger-nos para governar esta grande nação. Vamos formar uma administração que servirá a todos os cidadãos por igual, independentemente de por quem votaram", sublinhou.
"Agora temos que nos unir e trabalhar muito comprometidos com a meta de levar adiante a África do Sul, com ênfase no combate ao desemprego, a pobreza, a criminalidade, a desigualdade social e alguns remanescentes racistas ainda em nossa sociedade", apontou o presidente.
Um total de 18,6 milhões de eleitores participaram nas consultas populares do dia 7 de maio e 62,15% das cédulas foram marcadas a favor de um segundo mandato executivo para Zuma.
Em uma mensagem especial por ocasião do encerramento anual de sessões na Assembleia Nacional, o CNA condenou as práticas de deputados opositores no Parlamento a quem denunciam de tentar prejudicar a integridade da Assembleia por meio da desordem. O comunicado criticou duramente os partidos da oposição, sobretudo o dirigido por Julius Malema, por tratar de afetar a confiança dos sul-africanos na instituição pública.
"Temos visto a formação desta bancada anárquica que exerce uma dramaticidade barata disfarçada de militância para criar confusão política por meio do desprezo gratuito com as normas e leis que regem o Parlamento", apontou a comunicação.
"Desafortunadamente, o quinto mandato de nossa Assembleia viu-se perturbado por uma sede insaciável de alguns legisladores que procuram manchetes nos meios de imprensa através de acrobacias e artimanhas verbais e não por argumentos racionais", sublinhou o CNA.
"O Congresso Nacional Africano nunca permitirá que colapse o programa parlamentar deste país e continuará enfrentando sem medo e sem preconceitos os elementos que pretendem prejudicar a democracia constitucional sob nossa vigilância", ressalta a nota.
A direção do CNA dá as boas-vindas à adoção do relatório e as recomendações do Comitê de Poderes e Prerrogativas sobre acusações de má conduta por parte do grupo Combatentes pela Liberdade Econômica (EFF).
Liderados por Malema, os membros do EFF interromperam em agosto último um discurso de Zuma com gritos de "devolve o dinheiro" e "assassino de mineiros".
Tal conduta merece a punição mais rigorosa porque obstrui uma correta realização dos procedimentos protocolares no Parlamento e representa um desrespeito à Lei de Prerrogativas e Imunidades na Constituição Geral de Legislaturas, concluiu o CNA.
*Correspondente da Prensa Latina na África do Sul.