Ancelmo Gois convoca

Em 2005, durante a crise do chamado “mensalão”, Ancelmo Gois, em sua coluna no jornal O Globo, volta e meia divulgava manifestações “estudantis” contra a “corrupção” e o governo Lula.  

Cansei
Sem democratizar os meios de comunicação
é impossível aprofundar a democracia

Mais de uma vez anunciou o surgimento de entidades estudantis “independentes”, que iriam convocar manifestações contra – adivinhem – a corrupção e o governo Lula. Das manifestações convocadas por Ancelmo e das entidades que ele apadrinhou em 2005 não ficaram registros na história. Mas agora Ancelmo está de novo com esperanças.


Tática unificada

Em sua coluna na edição de 19/01, o jornalista informa que “tem gente nas redes sociais se mobilizando contra os aumentos das tarifas da Light. O movimento lembra aqueles que ocorreram em relação ao reajuste das tarifas do transporte coletivo.” Fazendo menção implícita a junho de 2013, Ancelmo, porta voz qualificado do monopólio midiático, não esconde o desejo de (ou orienta a organizações de) manifestações com o tema do anunciado aumento nas contas de luz e tendo por alvo o governo federal. Como nossa mídia é monolítica e tem uma tática unificada, o Jornal Folha de S. Paulo, edição de 19/1, também vai atrás do mote, destacando em seu principal editorial: “Por causa de ações atabalhoadas do governo, consumidor sentirá tarifaço na conta de luz”. Nos próximos dias o tom deve aumentar em relação ao assunto. Aguardemos.

Noblat, o magnânimo

O jornalista Ricardo Noblat, magnânimo, concede (termo usado por ele) em sua coluna de O Globo edição de 19/1 “que não há religião superior às demais”, mas logo em seguida afirma, desmentindo o que acabou de escrever: “Há religiões que são usadas como pretextos para a pregação da violência e a imposição dos seus dogmas”. Noblat fala em “religiões” que incitam seus seguidores à violência para “imposição dos seus dogmas”, mas só cita uma em sua coluna: o islamismo. Além de magnânimo Noblat é sem dúvida um sujeito isento que trabalha em um jornal isento, como também mostra a nota abaixo.

O pastor

O título de uma matéria na seção internacional do jornal O Globo, edição de 19/1, diz: “Um pastor sem medo na lista negra do terror”. Pelo título o leitor espera então a história de um herói humanista destemido. Mas o pastor em questão, Terry Jones, é um fanático, pertencente a uma seita fundamentalista cristã, e tem como um dos seus passatempos fazer fogueiras com exemplares do Corão. Os seguidores do “pastor sem medo” enviam os filhos para escola com camisetas que anunciam: “O Islã é o Diabo”.

Boas notícias na Folha

Na página A3 do jornal Folha de S. Paulo edição de 19/1, um articulista informa que “Foram assinados 56 acordos de cooperação (entre Brasil e China), cujo valor atingiu US$ 35 bilhões e abrangem áreas como investimento, finanças, ciência e inovação, tecnologia da informação e infraestrutura”. Diz ainda que “Na área de infraestrutura, com o Programa de Investimentos em Logística, que prevê um investimento de R$ 240 bilhões nos próximos anos, o Brasil entrará em uma fase crucial de crescimento econômico e novos postos de emprego”. Quem é este articulista, tão distante da linha editorial do jornal? O embaixador da China, Li Jinzhang. Só podia.

Relações de novo tipo

O articulista convidado citado na nota acima, defende ainda em seu artigo um novo tipo de relação internacional “cuja essência é a cooperação e o ganho compartilhado. Queremos construir uma rede de parcerias e definimos a meta de ampliar a união com os grandes países em desenvolvimento”.

Recordar é viver – nossa homenagem ao Estadão

O jornal O Estado de S. Paulo completou 140 anos no dia 4 de janeiro e está promovendo comemorações por todo este mês. No site criado especialmente para a comemoração o Estadão diz que “jamais se afastou” da defesa da democracia e da liberdade de expressão e afirma orgulhoso que foi “rebelde nas ditaduras”.

Recordar é viver – nossa homenagem ao Estadão II

Para colaborar com a homenagem vamos recordar o trecho de um editorial de junho de 68, quando o Estadão considerou muito suave a censura sobre uma peça considerada “esquerdista”: “Foi uma oportuna manifestação a que se registrou recentemente na Assembléia Legislativa, pela palavra do deputado Aurélio Campos, sobre os excessos que se tem verificado em representações teatrais no terreno do desrespeito aos mais comezinhos preceitos morais. O mundo teatral – tanto os atores e atrizes como os autores – vêm movendo uma campanha sistemática contra a censura, e como esta nem sempre é exercida por autoridades à altura de tão graves e, às vezes, tão delicadas questões, a tendência de muitos é cerrar fileiras entre os que combatem. O que na censura geralmente se vê é uma ameaça à liberdade, o que assume a feição particularmente antipática quando à liberdade ameaçada é a artística. Carradas de razão, entretanto, teve o parlamentar acima referido ao assinalar, a propósito de peça teatral a cuja representação assistira, que a censura, longe de se mostrar rigorosa no escoimá-la de seus exageros mais escandalosos, o que revelou foi uma complacência que não pode deixar de ser severamente criticada.”

Recordar é viver – nossa homenagem ao Estadão III

Depois deste editorial os seguintes artistas devolveram ao jornal o Prêmio Saci, prêmio anual que o Estadão conferia aos melhores da produção brasileira de cinema e teatro: Cacilda Becker, Walmor Chagas, Fernanda Montenegro, Maria Della Costa, Sérgio Mamberti, Odete Lara, Jorge Andrade, Lélia Abramo, Etty Fraser, Ademar Guerra, Fauzi Arap, Augusto Boal, Flávio Império, Flávio Rangel, Gianfrancesco Guarnieri, José Celso Martinez Corrêa, Liana Duval, Paulo Autran e Tônia Carrero.

Homenagem enigmática

Ainda os 140 anos do Estadão. Na página em que diversas personalidades saúdam os 140 anos do jornal, edição de 19/1, temos uma homenagem particularmente enigmática, a do reitor da USP, Marco Antonio Zago. Declarou ele ao Estadão: “O jornal O Estado de S. Paulo é um dos instrumentos pelo qual a USP exerce o seu papel”.

Ideologia Zero

A ministra da agricultura Kátia Abreu, que declarou recentemente não existir latifúndio no Brasil, agora, em entrevista à edição 22 da revista Brasil 247 afirma que sua gestão à frente do ministério “não tem ideologia”. É coerente. Todos que entram na onda do “fim da esquerda e da direita”, “ocaso das ideologias” e outras empulhações comos estas acabam embarcando no navio da direita, quando já não estão neste barco desde criancinha, como é o caso da ministra.
 

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