Folha de S. Paulo: “reflexões” do filósofo

Luiz Felipe Pondé, filósofo e articulista da Folha de S. Paulo, dedicou sua coluna de 26/1 a combater “a defesa boba que a esquerda faz do jihadismo”, defesa esta que seria uma prova “de que a intelligentsia acadêmica está morta”.

filósofo

 Os argumentos são arrebatadores. Vamos aos melhores momentos: “Os jihadistas não vão mudar de ideia porque alguma pacifista de Facebook crê que tomando uma cerveja na Vila Madalena tudo ficará bem. (…) Aliás, aos pacifistas, desejo um inventário bem difícil por um apartamento na Praia Grande. Quando isso acontecer, o pacifismo se afogará no ódio pela irmã que disputa o belo imóvel”. Incrível! Tem mais, o filósofo, depois de reclamar que “o colonialismo funciona para os bonitinhos como justificativa do jihadismo”, faz uma revelação sensacional aos seus empolgados leitores: “Os povos invadem uns aos outros desde a pré-história”. Não, juro que este não é o trecho de uma redação que levou pau no ENEM, é mesmo de um filósofo que trabalha para a Folha. Parafraseando o velho Machado de Assis, em nossa mídia hegemônica “a vulgaridade é um título, a mediocridade um brasão”.

Globo "cassa" prêmio Nobel de líder mulçumano que criticou EUA

O vencedor do prêmio Nobel da paz de 2005, o egípcio Mohamed ElBaradei, em entrevista a um jornal austríaco criticou os EUA: "Agora todos dizem: Oh Deus, temos o Estado Islâmico (EI). Mas, quem criou o EI?. Quem abriu a porta da religião na política? Olhem para o Afeganistão. Quem apoiou aos mujahedins contra os russos?". O site da Globo, o G1, reproduz a entrevista (25/1) mas “cassa” o título recebido por Mohamed. O título de prêmio Nobel é vitalício, como sabe qualquer estagiário de jornalismo, mas para diminuir a importância de uma declaração com a qual a Globo não concorda a chamada da matéria era: “Ex-Nobel diz que jihadista é fácil de se recrutar”. Ou seja, foi criada a categoria de ex-Nobel, que é repetida na manchete da matéria: “Muçulmanos se sentem humilhados pelo Ocidente, diz ex-Nobel da Paz”. A sorte de Mohamed ElBaradei é que o comitê responsável pela indicação do prêmio Nobel não é composto por membros do nosso judiciário, alguns sempre atentos às “orientações” da Globo.

Gandra defende monopólio da mídia

O famoso jurista Ives Gandra escreve na Folha de S. Paulo, 26/1, contra a regulamentação da mídia. A leitura do artigo mostra por que o simples debate do tema é interditado (pois não existe debate, existe monólogo já que os espaços da mídia hegemônica dedicados ao tema só têm uma opinião): os argumentos contra a regulamentação são muito frágeis. Diz Gandra que “só a imprensa livre desvenda os porões e as podridões do poder”. Depende de quem estiver no poder, Gandra. Se no poder estiverem governantes “amigos” a mídia se comporta com bastante “parcimônia” para usar uma linguagem suave.

Gandra defende monopólio da mídia II

Além disso, a regulamentação da mídia não ameaça a “imprensa livre”, ameaça os monopólios que, estes sim, barram a existência de uma imprensa verdadeiramente livre e plural. Tanto ameaçam que a Constituição de 1988 prevê em seu artigo 220 que “os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”. Não por acaso, esta disposição constitucional (e outras relativas ao tema) até hoje não foram regulamentadas. Como é possível que um jurista possa defender que um item da Constituição continue sem regulamentação? Pois também é disto que se trata.

Gandra defende monopólio da mídia III

A pluralidade é tão importante Gandra, que você, repetindo os editoriais dos jornalões, chama o “petrolão” de “o maior escândalo da história do Brasil” e atribui à mídia papel decisivo para que ele viesse à tona. A forma tendenciosa da indignação seletiva da nossa mídia monopolizada é que faz você ignorar (pois certamente não chegou ao seu conhecimento) o livro “A privataria tucana”, do laureado (dois prêmios Esso) jornalista Amaury Ribeiro Júnior, com fartas provas de desvios monumentais ocorridos durante o processo de privatização. Mas isso, Gandra, a mídia hegemônica ignorou por razões políticas e o grande público não ficou sabendo destas “podridões do poder”.

Fragilidade?

Ives Gandra, em seu artigo a favor do monopólio, alega uma “fragilização” da presidenta Dilma, entre outras coisas porque foi eleita “por estreita margem de votos”, 38% nas contas de Gandra, que descontou os nulos, brancos e abstenções. É engraçado Gandra dizer que Dilma, eleita com 38% (nas contas dele), tem pouca legitimidade quando no mesmo dia (26/1) a mídia monopolizada que ele defende noticia a vitória do Syriza na Grécia “por ampla margem”: 36%.

Quem aplaude, quem vaia

Diz reportagem do Valor Econômico de 26/1: “Num encontro privado com mais de 50 executivos de grandes companhias (o ministro Joaquim Levy) foi aplaudido ao expor o atual ajuste econômico que conduz à frente da Fazenda”. Enquanto 50 grandes empresários aplaudem o ministro no convescote da burguesia, milhares de trabalhadores irão vaiar o mesmo ministro na manifestação das centrais sindicais convocada para o dia 28/1.

O PSDB e a extrema direita

O professor da USP e articulista do jornal Valor Econômico, Renato Janine Ribeiro, está preocupado com o crescimento da extrema direita. Em sua coluna de 26/1, ao mesmo tempo em que elogia o partido tucano ele se pergunta se a extrema direita é capaz de “alterar a natureza do PSDB”. Ele mesmo responde que é pouco provável, mas diz: “Ela (a extrema direita) deve manter seu papel de aliada subordinada. Presta o serviço de destruir imagens petistas e recebe alguma compensação midiática (…) Ela ajuda o PSDB na medida em que reforça o antipetismo de parte razoável do eleitorado – mas, se crescer em votos, pode fazer os tucanos perderem os votos de seus eleitores iluministas”. O professor teme que a extrema direita se descole do PSDB e que possa assim “adquirir voz e identidade próprias, com o risco de crescer mais. Porque o atual, talvez crescente, desencanto com os políticos favorece aventuras”.

Barganhas e vazamentos propositais

O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, em entrevista à revista Época (23/1), condena duramente a delação premiada: “Sou contra a delação premiada sob todos os aspectos. (…) O delator entrega quem ele quer, da forma que ele quer. Ele delata quem tem responsabilidade e quem não tem também. Basta ele falar um nome qualquer que essa pessoa estará manchada. Além disso, o Estado deixa de investigar para fazer uma barganha”. Antônio Carlos acha que o ministro do STF, Teori Zavaski, que homologou a delação premiada, o fez sob pressão. O advogado chega a insinuar a existência de uma estratégia de vazamento como parte desta pressão: “Você faz uma investigação desse porte, faz pequenos vazamentos de nomes de pessoas importantes, em que não se sabe em que contexto foram citadas. Isso tomou uma dimensão tal que, para um ministro, simplesmente não homologar essa delação é difícil”.

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