Medida drástica: Sabesp cogita cinco dias sem abastecimento de água

A falta de água em São Paulo, que já afeta 68% da população na região metropolitana, poderá, nos próximos 50 dias, atingir uma situação alarmante. Em declaração à imprensa nesta terça-feira (27), o diretor da Companhia de Água e Esgoto do Estado de São Paulo (Sabesp), Paulo Massato, admitiu que possa adotar “medidas drásticas” para evitar o completo colapso do Sistema Cantareira.

Racionamento drástico: Sabesp cogita abastecimento de apenas 2 dias - Foto-montagem

Embora o governo tucano de Geraldo Alckmin não admita, a implantação oficial do rodízio de água em São Paulo deve ocorrer nos próximos 50 dias. Conforme adiantou Massato, “o cálculo conceitual, teórico para reduzir 15 metros cúbicos por segundo no sistema Cantareira, precisaria de um rodízio de dois dias com água por cinco dias sem água”.

O governo federal, por sua vez, anunciou na última sexta-feira (23), a inclusão no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das obras de transposição do Rio Paraíba do Sul, localizado no Rio de Janeiro e que já abastece parte da população fluminense. O empreendimento está orçado em R$ 830,5 milhões e o objetivo é dar suporte para o abastecimento do Sistema Cantareira, que opera nesta quarta-feira (28), com apenas 5,1% da sua capacidade, incluindo a segunda cota do volume morto.

 

Na terça-feira (27), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou que a oferta de água para a Grande São Paulo foi aumentada em 500 litros por segundo, com a inauguração da ampliação da transferência de água do córrego Guaratuba para o Sistema Alto Tietê. A obra foi executada em pouco mais de dois meses.

Água tóxica

A última proposta do governador que pretende utilizar água da represa Billings para conter emergencialmente a crise de abastecimento no estado de São Paulo, pode trazer uma solução perigosa: repassar água contaminada diretamente à população. Isso porque as estações de tratamento dos sistemas Guarapiranga e Alto Tietê – responsáveis pelo abastecimento de quase 10 milhões de pessoas e que passarão a receber água poluída da Billings (medida já anunciada pelo governador) – não têm condições imediatas de ampliar a capacidade de purificação da água.

A maior parte da Billings é infectada por esgoto, metais pesados e Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), consideradas as substâncias mais perigosas e tóxicas do mundo. Uma parte menor está livre desses poluentes. O uso da parcela contaminada da represa implicaria distribuir água imprópria para o consumo, sem tratamento específico, o que pode comprometer a saúde da população.

O alerta é do geógrafo, pesquisador e professor da Unicamp Antônio Carlos Zuffo. “Os reservatórios (Guarapiranga e Alto Tietê) não vão dar conta de fazer o tratamento de água poluída da Billings para atender toda a demanda. Por isso, se quiserem utilizar a água da represa agora, farão apenas a desinfecção com cloro e a mandarão para as residências. Mas essa água não poderá ser consumida sob nenhuma hipótese. A cor será escura e o cheiro tão forte que dará náusea”, afirmou o professor.

Seca no Sudeste

A seca que paira sobre o Sudeste, já atinge 133 cidades e a riqueza envolvida equivale a R$ 946 bilhões de reais. Se fosse um país, os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo seriam a segunda maior economia da América do Sul, perdendo apenas para o Brasil.

São Paulo se encontra na pior situação da crise hídrica, resultado do não investimento em novas tecnologias para o abastecimento de água, desperdício com tubulações que há mais de 10 anos se encontram sem reparos, resultado do sucateamento da Sabesp, responsabilidade da gestão tucana que há 20 anos está a frente da administração do Estado.

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Laís Gouveia, da redação do Vermelho
Com agências