São Luiz do Paraitinga tem ótimo carnaval, mas é preciso preservá-lo
O carnaval de 2015 na cidade do Vale do Paraíba paulista manteve a tradição. Como acontece há 35 anos, os blocos somente executaram marchinhas criadas na região. Mas é preciso zelar pela festa.
Por Augusto Dinis, em seu blog
Publicado 19/02/2015 15:38
O modelo bem sucedido impulsiona uma multidão à pequena cidade de 10 mil habitantes. Dirigem-se para lá cerca de 100 mil foliões para seguir dezenas de agremiações carnavalescas – a informação é que o movimento foi menor que em anos anteriores por conta da chuva e da ausência de paulistanos, corroborando com a tese de que muitos optaram pelo carnaval de rua da capital.
Por outro lado, os paulistanos nunca foram o grosso do público da Festa de Momo na vila histórica. A maioria é de gente mesmo do Vale do Paraíba. Muitos chegam em caravanas e passam apenas o dia na localidade. E esse é o primeiro desafio.
Como fazer com que o esse público temporário imprevisível se junte aos turistas devidamente hospedados e contabilizados na cidade? Bebida pode não faltar, mas há momentos que desfilar em blocos pelas ruas estreitas torna-se tarefa árdua devido ao excesso de gente.
Podem não gostar, mas São Luiz do Paraitinga talvez tenha que adotar o esquema de blocos e apresentações de bandas em horários matutinos ao invés do tradicional horário de fim de tarde, para dar mais conforto aos foliões.
A opção de carnaval gratuito de rua com blocos e bandas da região, tocando músicas produzidos por eles próprios – ressalta-se que se trata de boas músicas para o carnaval e bem executadas por músicos locais –, deve ser preservada a unhas e dentes.
Como rege a lei na cidade, nada além disso deve ser aceito no carnaval. Mas este ano, foi possível, ainda que de forma pontual, famigeradas caixas de som portátil ou em veículos, principalmente no centro histórico, tocando funk, música eletrônica e sertanejo.
É preciso coibir a prática. A história lembra briga de estádio: é sempre uma minoria, mas é ela a responsável por milhares de fãs preferirem assistir jogos pela tv.
O carnaval de Paraitinga não tem serpentina e é raro encontrar confete no chão. Mas gente fantasiada tem a rodo, com temas diferentes dependendo do bloco. Bonecos gigantes são também atração. Tudo isso é admirável!
No entanto, persistem os peitos desnudos – em lugares estratégicos e facilmente identificáveis – atrás de um beijo na boca à força de uma mulher. O problema virou epidemia no carnaval brasileiro. São Luiz do Paraitinga não conseguiu fugir da má conduta, apesar de placas pela cidade avisarem que se trata de um delito.
Dizem que a prática da “macholândia” é falta de educação. O buraco é mais embaixo. Trata-se de visão monocultural do carnaval. Se em Salvador é legal, em São Luiz do Paraitinga também o é.
Na vila histórica do Vale do Paraíba a pegada é outra. A relevância não está na promoção do beijo na boca para vender abadá de trio elétrico para garanhões e garotas disponíveis – até por que na cidade do Vale do Paraiba não se privatiza o espaço público; ele é de todos.
A prioridade de São Luiz do Paraitinga é ser autêntica, sem recorrer a expediente que firam suas tradições carnavalescas. E que continue assim para manter-se um dos carnavais mais sensacionais do país.