A cada 10 minutos uma criança foi vitimada no Brasil em 2014

Levantamento realizado pela secretaria nacional de Direitos Humanos, do governo federal, constatou que a cada 10 minutos uma criança foi vítima de violência no Brasil durante 2014. Os dados apontam que mais de 150 mil Crianças e Adolescentes foram vítimas de violação de direitos, segundo registros do Disque 100, serviço de denúncias anônimas que funciona 24 horas por dia.

Um relatório do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) coloca o Brasil em sexto lugar no mundo na taxa de homicídios de crianças e adolescentes.

Para o assistente social Júlio Cezar de Andrade, diretor do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (Cress-SP), esse número pode ser muito maior, já que nem todos os casos são efetivamente denunciados. Isso ocorre porque muitas vezes o/a autor/a da violência faz parte da família da vítima.

“A naturalização da violência e o silêncio que, por vezes, permeia as relações familiares faz com que seja difícil que ocorra uma denúncia nos primeiros episódios. Sempre há a esperança de que seja um caso isolado, que não vai se repetir. Vários são os componentes que atuam no fenômeno da violência e todo o cenário contribui para essa questão do silenciamento.”, explica Andrade.

Por causa disso, ressalta o diretor do Cress, é de extrema importância a criação de uma cultura de proteção que envolva vários atores da sociedade: “É preciso que todos sejam sensibilizados sobre sua obrigação em proteger as crianças e adolescentes, utilizando as ferramentas de denúncia disponíveis, como o Disque 100 e não naturalizando a violência cotidiana”.

Tipos de violência

O relatório mostra que a negligência é o mais comum, somando 37% das denúncias, seguida de violência psicológica (25%), física (21%), sexual (13%) e outras (4%). Ainda para o assistente social, esses números refletem a realidade enfrentada pelos brasileiros.

“Vivemos historicamente em uma realidade de desamparo, em que um Estado ausente mantém a população em aspectos mínimos de condições de trabalho, saúde, educação, moradia e qualidade de vida. Nessas condições, a situação de negligência é associada à falta de acessos a direitos e, portanto, seu enfrentamento deve ser alvo de políticas públicas efetivas.”

Rede de proteção

Constituído pela Lei 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 25 anos de existência em julho. Ainda assim, o assistente social explica que ele não é seguido como deveria.

“As normas são um passo, mas precisamos de mais centros especializados em crianças e adolescentes e mais Varas da Infância e da Juventude para o atendimento dessa parcela da população. É importante criar uma rede entre Governo e sociedade, principalmente hoje, quando as contradições entre capital e trabalho colocam crianças e adolescentes em situação de violência física, doméstica e sexual, trabalho infantil e exploração sexual”, finaliza o diretor do Cress-SP.

Fonte: Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo