Rússia e o elo mais fraco da corrente europeia

A recente visita do presidente do Chipre, Nicos Anastasiades, à Rússia reafirmou o repúdio por uma parte da União Europeia (UE) à política do bloco que limita as relações políticas e econômicas com o estado russo.

Bandeira russa

Por convite de seu par Vladimir Putin, Anastasiades cumpriu uma visita oficial de três dias, a primeira de um chefe de Estado da UE a Moscou desde a imposição das sanções do bloco dos 28 membros, em 2014, sob pressão dos Estados Unidos.

Depois da assinatura de um pacote de acordos sobre diferentes temas, com ênfases no âmbito militar, o mandatário assegurou perante a imprensa que Putin abordou com respeito, com um enfoque cuidadoso e com entendimento a situação do Chipre, sem apresentar a Nicosia condições nem exigências.

“O Presidente nunca colocou nosso país em uma situação incômoda perante os aliados. É um enfoque de princípio de um líder que defende os interesses nacionais e respeita os de outros países”, expressou o presidente.

Além do programa assinado de cooperação bilateral para o período 2015-2017, o estado mediterrâneo renovou um contrato militar já existente com Moscou, explicou.

Informou que durante as conversas sobre esse tema sensível, o presidente Putin manteve um diálogo com extrema cautela e respeito.

O acordo legitimou juridicamente o direito a entrada de navios com fins humanitários aos portos cipriotas, indicou, e não representa despesa a mais para as partes.

Em troca, o Chipre ganha a possibilidade de adquirir novos armamentos russos, de caráter defensivo, segundo o mandatário.

Sobre este tema em particular, Putin descartou em uma coletiva de imprensa conjunta que a cooperação militar esteja apontada contra terceiros países e foi enfático ao destacar que "não incomoda ninguém".

O estadista explicou que no âmbito naval, o acordo se refere a navios russos que participam da luta internacional contra o terrorismo e a pirataria.

Com respeito às finanças, argumentou que Moscou continuará ajudando Nicosia a resolver as consequências sofridas pelo país devido à crise da dívida.

“Atribuímos, como se sabe, um grande crédito de estabilização de 2,5 bilhões de euros e começamos a reestruturar o empréstimo com condições mais vantajosas”, comentou.

O acordo reestrutura o crédito concedido ao Chipre em 2011 de 2,5 bilhões de euros, com uma redução da taxa de juros de 4,5% a 2,5%, a pagar em um prazo entre 2018 e 2021, nas melhores condições.

Além disso, Putin destacou que o banco russo BTV Capital e o ministério cipriota de Finanças realizaram com sucesso a colocação no mercado de títulos da dívida soberana desta ilha por 750 milhões de euros.

“Com esses passos, Moscou contribui com a estabilização da zona do euro, depois das dificuldades que viveu entre 2011 e 2013”, declarou o mandatário russo.

Anastasiades considerou, por sua vez, que os 28 membros da União Européia (UE), sem exceção, foram prejudicados pelas sanções unilaterais implementadas pelo bloco contra a Rússia, que respondeu com contramedidas.

“Independente de quais foram as sanções, elas afetam todos na UE e temos razões de sobra para nos opor a essas medidas”, enfatizou o presidente cipriota, cujo país foi obrigado a apoiar as restrições no ano passado.

Sobre o regime de represálias imposto contra Moscou pelo conflito na Ucrânia, Anastasiades opinou que os meios punitivos e militares não conduzem a resultados positivos e reiterou a via do diálogo diplomático como única alternativa de solução.

Disse que o Chipre não entrava em contradição com a UE, mas que cada estado membro tem o direito de expressar livremente sua posição.

“Estamos contra as sanções em relação à Rússia”, reiterou o líder cipriota, e não somos os únicos que temos essa posição entre os países europeus. “Há um grupo compacto de estados que estão contra as sanções”, destacou.

O visitante afirmou que apesar das medidas de Bruxelas, pode se observar uma tendência a que aumentem os investimentos russos na ilha, onde moram mais de 30 mil cidadãos russos.

Antes de partir, Anastasiades reconheceu o papel da Rússia como um ator de importância no cenário internacional, ao agradecer Moscou pelo apoio na solução do diferendo territorial na ilha mediterrânea, cuja porção norte foi ocupada por tropas turcas em 1974.

Além das conversas do visitante com Putin, a abrangência do diálogo político bilateral foi demonstrada pelo seu encontro com o premiê Dmitri Medvedev.

Existiram também reuniões com os líderes do Senado (Conselho da Federação), Valentina Matvienko e da Duma estatal (Câmara baixa), Serguei Naryshkin.

Antes de voltar a seu país, o titular cipriota viajou à segunda cidade mais importante da Rússia, San Petersburgo, onde conversou com o governador, Georgy Poltavchenko.

A visita à Rússia do mandatário cipriota confirmou que apesar do interesse dos países ricos do norte da UE (Alemanha, França e Reino Unido) de impor sua vontade aos 28 membros, o bloco não é uma entidade monolítica.

O intelectual italiano Luciano Vasapolio qualificou como prática colonialista ao interior do continente as políticas de austeridade que, em detrimento dos programas sociais para a população, o Banco Central Europeu, a Comissão Européia e o Fundo Monetário Internacional pretendem impor aos países mais pobres do sul.

Essas diferenças em desenvolvimento, assim como o fato dos países mais fortes imporem aos mais fracos as políticas de cortes neoliberais, constituem o elo mais fraco na corrente europeia e uma oportunidade que Moscou aproveita para romper o isolamento que a UE pretende lhe impor sob pressão dos Estados Unidos.

Fonte: Prensa Latina