Dia 15, o povo do Estadão, a banca do distinto e o Awebic

O jornal O Estado de S. Paulo só é chamado de jornal por força do hábito e das convenções. Na verdade é um gigantesco panfleto decadente, que abriga em suas páginas decrépitas uma seleção do que existe de mais reacionário e conservador na imprensa brasileira – com (cada vez mais) raras exceções – e concorre cabeça a cabeça com a Veja pelo troféu Adolfo Hitler (ídolo oculto desta turma). 

- Foto: Marcelo De Franceschi

Sendo assim, o Estadão está em êxtase com as manifestações de domingo. Em editorial desta terça-feira (17) diz que o que aconteceu no dia 15 foi uma “contundente manifestação espontânea”. Sem dúvida foi espontânea. O jogo Palmeiras e XV de Novembro de Piracicaba, marcado para às 16 horas, foi antecipado para as 11 horas porque o presidente da Federação Paulista foi abduzido e extraterrestres leitores do Estadão pediram em nome do Universo que o jogo não atrapalhasse a manifestação. O metrô de São Paulo foi liberado para os manifestantes por obra e graça do espírito santo. Já a convocação midiática incessante foi uma cortesia da mídia brasileira, que como se sabe sempre apoiou as manifestações populares. Os bem produzidos vídeos de convocação espalhados nas redes sociais, muitos com atores globais, bem como os trios elétricos e todo o demais aparato, tudo foi bancado pelo dalai lama que, como não consegue derrotar a China, resolveu derrubar a Dilma, e passou um ano vendendo incenso para pagar os custos.

A banca do distinto

O Estadão também afirma que a manifestação teve “o predomínio da classe média – assalariados, profissionais liberais, pequenos empreendedores, jovens e idosos” e afirma que o povo “falou que Dilma – reeleita há quatro meses – já não merece sua confiança”. Então ficamos combinados assim: só é povo quem participou da passeata dia 15. A maioria que se exploda. Se Deus quisesse que todos fossem iguais todos nasceriam eleitores do Aécio. Se o jornal O Estado de S. Paulo tivesse um hino, teria que obrigatoriamente ter aquela parte da letra do Billy Blanco (A banca do distinto): “Não fala com pobre / não dá mão a preto / não carrega embrulho / pra que tanta pose doutor / pra que esse orgulho?”. Em homenagem aos brasileiros que fazem parte do país encantado do Estadão, esta elite iluminada “que paga impostos e sustenta a nação”, a jornalista Mariana Serafini selecionou algumas fotos provando que realmente, esta gente diferenciada que participou das manifestações, sabe mesmo das coisas.

Foto 1 – O Triângulo de quatro lados.

Foto 2 – O PT derrubou as torres gêmeas em Nova York.

Foto 3 – O método Paulo Freire é o caminho para transformar o Brasil em uma república soviética.

Foto 4 – A mulher que é a favor do feminicídio.

Foto 5 – Prisão com dois “esses”. A Revista Caras definitivamente não está contribuindo para a formação cultural desta bela jovem.

Foto 6 – “Pelo intervenção”. Estes cristãos são contra o comunismo e a concordância nominal.

Foto 7 – Já estes maçons de Unaí – elite da nação – são verdadeiros rebeldes. São contra tudo. Contra a crase (não foge à luta) e contra o próprio hino nacional cuja frase correta é: “verás que um filho teu não foge à luta”.

Foto 8 – Os diferenciados autores desta frase são, com certeza, uma dissidência dos “Maçons de Unaí”. Eles também não fogem à luta, só que não fogem com “jota” e a crase é com acento agudo o que, sem dúvida, denota mais coragem.

A minha foto preferida é a que encima esta edição do Notas Vermelhas. A passeata do povo do Estadão passa enquanto um certo tipo de povo (que para o jornal tem o péssimo hábito de continuar existindo, e o pior, votando) assiste como coisa da qual não faz parte (e não faz mesmo).

Awebic e as artimanhas do sete-pele

Uma amiga, que faz parte do campo democrático e progressista, enviou há algumas semanas o link de um site chamado “Awebic”. Ela comentava que o site tinha bons vídeos sobre cultura, etc. Entrei e não achei isso tudo. Muito açucarado para este limitado redator criado no subúrbio do Rio (Vila Valqueire, modéstia à parte). Tem cãozinho “fofo”, criancinhas mimosas e vídeos com um pé na autoajuda. Mas de repente, como quem não quer nada, surge um vídeo “sério”. Hoje, quando entrei, eram dois. Um chamava para ver o Lula “rir da classe média” e veiculava, de forma descontextualizada, um trecho da palestra da filósofa Marilena Chauí onde ela critica os valores da classe média brasileira. Lula está rindo, mas a filósofa está criticando o próprio ex-presidente por este ter dito que iria elevar o trabalhador à classe média, discurso que ela considera despolitizador. Ou seja, um debate amistoso mas divergente entre companheiros, que a direita manipula para simular um ataque gratuito a toda classe média. Em outro vídeo o título diz tudo: “Jornalista britânico comenta sobre a corrupção no Brasil. Sim, viramos motivos de piada”. No vídeo em questão uma foto da presidenta Dilma ao lado do símbolo da Petrobras e o apresentador que faz o “Brasil de piada”. Ou seja, o Awebic de forma manhosa, agindo como um site “apolítico”, não passa na verdade de um ardiloso instrumento (mais um) para travar a luta pelo golpe e contra a esquerda. São muitos e variados os caminhos das trevas.

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