Brics discutem prioridades para Ciência, Tecnologia e Inovação

Os países que integram o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) discutem as prioridades do bloco em um plano de trabalho para o período de 2015 a 2018 na 4ª Reunião de Altas Autoridades de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Brics: ministros da Educação debatem cooperação multilateral - Reprodução

As discussões prosseguem no 2º Encontro de Ministros de Ciência, Tecnologia e Inovação do Brics, nesta quarta-feira (18), no Palácio Itamaraty, com presença do ministro Aldo Rebelo e de titulares de pastas correlatas das demais quatro nações.

Na abertura do primeiro evento, na terça (17), o subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixador José Antônio Marcondes de Carvalho, ressaltou o "papel proeminente" dos Brics no século 21.

"Nossa participação na economia mundial tem crescido exponencialmente, tanto em termos absolutos como relativos, e isso também acontece em ciência, tecnologia e inovação", disse. "Os nossos países têm feito avanços significativos em tempos recentes em produção científica e alcançado um progresso notável na luta contra a desigualdade e na promoção da inclusão social."

Desafios

Por outro lado, ponderou o embaixador José Antônio Marcondes de Carvalho, os cinco países têm consideráveis desafios a superar.

"Eu me refiro, especificamente, à necessidade de alcançarmos indicadores de produtividade e de inovação comparáveis às economias mais avançadas. Também precisamos alterar a nossa posição na Divisão Internacional do Trabalho e promover uma maior inclusão de sustentabilidade no nosso desenvolvimento industrial, além de fazer com que as nossas economias sejam amplamente intensivas de conhecimento e tecnologia".

Aprofundamento

O evento desta quarta-feira (18) dá sequência ao 1º Encontro Ministerial de CT&I dos Brics, realizado em fevereiro de 2014, na África do Sul, quando o grupo aprovou a Declaração da Cidade do Cabo.

O documento estabeleceu cinco áreas temáticas de trabalho, a serem aprofundadas nas reuniões que acontecem esta semana em Brasília: mudanças climáticas e prevenção de desastres naturais, a cargo do Brasil; recursos hídricos e ecologia, sob a responsabilidade da Rússia; tecnologia geoespacial e suas aplicações, com liderança da Índia; astronomia, coordenada pela África do Sul; e energias alternativas e renováveis, atribuídas à China, que também está à frente de discussões sobre luz em estado sólido.

Segundo o diretor do Departamento de Temas Científicos e Tecnológicos do MRE, embaixador Benedicto Fonseca Filho, os dois eventos discutem o plano de trabalho de 2015 a 2018. No entanto, o documento será concluído na 5ª Reunião de Altas Autoridades e no 3º Encontro Ministerial de CT&I, a serem realizados na Rússia, anfitriã da 7ª Cúpula do Brics, prevista para este ano.

Ponderações russas

De acordo com o vice-diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Educação e Ciência da Rússia, Andrey Poliakov, as prioridades do país para a cooperação se aproximam bastante do previsto na Declaração da Cidade do Cabo e se concentram no tratamento de fontes de abastecimento de água, questão para a qual o governo russo desenvolve um programa de pesquisa.

Poliakov informou que a política nacional de CT&I passa por mudanças desde 2013. "Hoje em dia, temos uma série de instrumentos bem definidos para dar apoio à ciência em vários estágios, desde a pesquisa básica até as pesquisas mais avançadas, e isso tem sido equilibrado pelo financiamento do setor privado em conjunto com o setor público", comentou.

O vice-diretor russo mencionou ainda um programa de apoio a universidades, que, na opinião dele, tem contribuído para manter cinco instituições russas de ensino superior na lista das 100 melhores do mundo.

A Rússia possui, segundo Poliakov, seis megaprojetos científicos de infraestrutura, disponíveis para futuras parcerias com os outros quatro países. "Todos os Brics possuem centros de alto nível e os institutos russos têm interesse em utilizar essas instalações. É preciso não apenas compartilhar informações sobre P&D no âmbito do bloco, mas também pensar em como simplificar o acesso a essas estruturas para os nossos cientistas".

Índia

A cientista-chefe da Divisão de Cooperação Multilateral e Regional do Departamento de Ciência e Tecnologia da Índia, Sadhana Relia, lembrou que o Brics representa 40% da população, 20% do território e 40% do Produto Interno Bruto (PIB) global. "Então, o bloco é promissor no desenvolvimento de um mundo melhor. Por isso, nós estamos muito comprometidos nos níveis multilateral e bilateral", disse.

Sobre as prioridades indianas para CT&I, Sadhana relatou que o país busca se tornar "mais digital", por meio de inovações abertas e soluções para a sociedade: "Nosso primeiro-ministro visualiza que qualquer ação deverá convergir principalmente para a capacitação. Então, é preciso atrair mentes jovens. A experiência deles pode nos ajudar a ver novas perspectivas".

A Índia propôs a criação do Fórum de Jovens Cientistas do Brics. "Estamos direcionando nossos esforços para pessoas com menos de 30 anos", explicou a cientista-chefe. "Tentamos identificar e desenvolver talentos desde o ensino médio, para que eles possam estudar e conviver com cientistas. Queremos que saiam para conhecer instituições de excelência em todo o mundo e também estamos desenvolvendo os nossos centros científicos, de forma a atrair cientistas de países em desenvolvimento."

China

A diretora da Divisão de Organizações Internacionais e Conferências do Ministério da Ciência e Tecnologia da China, Wang Rongfang, enfatizou o tratamento que o país dedica a CT&I. "É um setor emprega 3,8 bilhões de pessoas. Nós temos 18 parques de alta tecnologia, que têm plataformas importantíssimas para a promoção da ciência nacional e a cooperação entre a indústria, a academia e o comércio. Na verdade, esses parques se tornaram um grande ator na nossa bolsa de exportações."

O vice-ministro de Ciência e Tecnologia da China, Cao Jianlin, expressou interesse na cooperação com o Brasil nesta área em que o país asiático tem tradição e expertise. "Nós queremos dividir e aprender com a China a experiência de gerenciamento de parques tecnológicos", afirmou o secretário executivo da pasta, Alvaro Prata, que conduziu o encontro.

África do Sul

Segundo o vice-diretor geral de Cooperação Internacional do Departamento de Ciência e Tecnologia da África do Sul, Daan Du Toit, o governo vem adotando um novo plano nacional de desenvolvimento, que determina investimentos em CT&I como determinantes para o progresso nacional.

Dentre as prioridades sul-africanas, de acordo com Du Toit, está a capacitação de estudantes e pesquisadores e o treinamento de trabalhadores do setor. "Com relação ao desenvolvimento do capital humano, a cooperação internacional é extremamente essencial. Nosso departamento está muito focado na garantia de conscientização do entendimento real do público acerca do que é ciência, tecnologia e inovação na África do Sul."

Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação